Por Victor Labaki Agostinho - Sputnik - 10/01/2021 - 14:59:57
Na quinta-feira (7), em conversa com grupo de apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro disse que a falta de confiança nas eleições levou "a este problema que está acontecendo" nos Estados Unidos e que, no Brasil, "se tivermos voto eletrônico" em 2022, "vai ser a mesma coisa".
Na quarta-feira (6), a sessão de certificação do resultado da eleição de novembro foi interrompida após apoiadores do presidente Donald Trump invadirem o Capitólio. O episódio deixou cinco mortos e vários manifestantes foram detidos.
Para o cientista político, Paulo Silvino Ribeiro, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), a declaração de Bolsonaro é "infeliz" e "equivocada".
"Nas entrelinhas ela está estimulando e provocando as pessoas que se sentem minimamente encorajadas a fazerem uma loucura como essa que aconteceu essa semana", afirmou.
Diversas autoridades brasileiras se manifestaram sobre a invasão do Capitólio dos EUA.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), classificou a situação como um ato de desespero. O presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse que o episódio merece "o repúdio e a desaprovação de todos os líderes com espírito público e responsabilidade".
© REUTERS / Stephanie Keith
Apoiadores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobem pelas paredes do Capitólio dos EUA durante o protesto contra a certificação dos resultados das eleições presidenciais de 2020 pelo Congresso, Washington, EUA, 6 de janeiro de 2021
Já o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, afirmou que "apoiadores do fascismo mostraram sua verdadeira face: antidemocrática e truculenta".
Além das condenações públicas feitas por líderes políticos brasileiros e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a avaliação feita por vários deles nos bastidores, conforme publicou o blog do jornalista Valdo Cruz no G1, é que a invasão ao Capitólio dos Estados Unidos é um sinal de alerta para o Brasil evitar que o mesmo aconteça aqui.
Paulo Silvino Ribeiro disse que "todo país que tiver alguma manifestação de grupos que flertem com o autoritarismo corre o risco de ter um episódio como o que aconteceu nos Estados Unidos ".
"No caso brasileiro, para ser mais específico, acredito que a chance seja grande. Haja vista o número de manifestações absolutamente antidemocráticas, como a gente viu e tem visto. Nós vimos várias manifestações contra instituições democráticas, contra o próprio Supremo Tribunal Federal, contra o Congresso Nacional, essa chance infelizmente existe para qualquer democracia contemporânea", declarou.
© Foto / Lucio Bernardo Jr./ Câmara dos Deputados
Manifestantes invadem o plenário da Câmara dos Deputados em 2016 e pedem por intervenção militar.
Em 2016, um grupo com cerca de 50 pessoas invadiu o plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília pedindo por intervenção militar. Houve tumulto e a sessão teve que ser suspensa e o local fechado.
Ainda de acordo com o cientista político, as autoridades brasileiras fizeram bem em repudiar rapidamente a invasão ao Capitólio dos EUA.
"As autoridades brasileiras precisam ser firmes, cumprirem a lei, defenderem a Constituição, e fazerem aquilo que reza a própria Carta Magna. Mais do que isso, elas precisam se fortalecer pela defesa da autonomia dos Poderes. As instituições não podem se constranger", disse.
Logo após a invasão do Capitólio dos EUA, Bolsonaro disse na quarta-feira (6) que é "muito ligado ao Trump".
"Eu acompanhei tudo hoje. Vocês sabem que eu sou ligado ao Trump, né? Então vocês já sabem qual a minha resposta", afirmou o presidente.
© AP Photo / Eraldo Peres
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, durante cerimônia no Palácio do Planalto.
Para Paulo Silvino Ribeiro, as falas de Bolsonaro sobre a invasão do Capitólio não devem constranger as autoridades brasileiras, mas elas ajudam a criar uma divisão na sociedade que não é positiva para a democracia no país.
"A minha preocupação não é com as instituições democráticas em si, claro elas precisam ser preservadas, a questão é a sociedade civil. Os discursos de ódio levam também ao discurso da negação da política e que vai, portanto, estimulando candidaturas como as que a gente viu em 2018", declarou.
Segundo o cientista político, a declaração de Bolsonaro é "maléfica à democracia" e estimula a população a agir de maneira truculenta.
"A gente precisa tirar o Bolsonaro dessa posição de algo jocoso porque ele não é só isso. O que ele fala é perigoso, o que ele fala é ruim, estimula uma situação de anomia social", afirmou.
As opiniões expressas nesta matéria podem não necessariamente coincidir com as da redação
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