A epidemia avança no País, trazendo questões de saúde, claro, mas também dúvidas sobre a rotina em casa e a melhor forma de cuidar das finanças pessoais. Respondemos aqui algumas das mais frequentes
O Estado De S. Paulo - 10/12/2020 08:44:40 | Foto: Pixabay
1 - Devo me preocupar com a transmissão do coronavírus por contato com superfícies contaminadas?
Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), diz que o vírus presente em superfícies pode ser uma fonte de infecção, quando o indivíduo toca nela e em seguida toca nos olhos, no nariz ou na boca. “Ainda é incerta a frequência dessa transmissão, mas todos devem manter suas residências limpas”, afirma. Para Fernando Bellissimo, professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, entretanto, mais importante do que limpar desenfreadamente as superfícies é focar em descontaminar as mãos com higienização. “Esse vírus tem porta de saída e porta de entrada. É importante barrar a porta de saída, que é a tosse, o espirro e as gotículas de saliva, e também bloquear a entrada, que é contato com olhos, nariz e boca, com a higienização das mãos. O caminho do meio é mais difícil de controlar”, diz Bellissimo.
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Segundo Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), uma das medidas principais é fazer diariamente a limpeza e a desinfecção de superfícies que são tocadas frequentemente, como mesas, cadeiras, maçanetas, interruptores de luz, controles remotos, torneiras e descargas. “Nas residências onde há casos suspeitos ou confirmados de covid-19, o cuidado deve ser bem maior. No quarto usado para o isolamento, a maçaneta deve ser limpa frequentemente com álcool 70% ou água sanitária. Os móveis da casa precisam ser limpos com maior frequência. Após usar o banheiro, a pessoa com infecção deve sempre limpar vaso, pia e demais superfícies com álcool ou água sanitária para desinfecção do ambiente”, afirma Weissmann.
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Estudo de cientistas americanos publicado em 16 de abril na revista New England Journal of Medicine mostrou que o vírus consegue sobreviver até três dias em superfícies como plástico e aço, e por até 24 horas em superfícies de papelão. Especialistas alertam, porém, que esse tempo de sobrevivência depende da temperatura e da umidade do ambiente. “Por isso, a limpeza e a desinfecção são importantes”, diz Plínio Trabasso, médico infectologista da Unicamp. “Imagine em poucas horas quantas pessoas podem manipular uma maçaneta de uma porta e um corrimão, por exemplo.”
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A virologista Juliana Cortines, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que o álcool 70% não é a única opção para desinfecção de superfícies neste momento. “A água com sabão funciona bastante em uma lavagem feita com cuidado. É uma boa opção porque é um produto de fácil acesso. A água sanitária também funciona: o que é recomendado para limpeza de superfícies é uma medida de água sanitária para quatro medidas de água”, diz Juliana.
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No caso do álcool, a maior preocupação é o fato de ele ser inflamável, explica Luisa Rios, pesquisadora da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp. “Apesar de o álcool ser altamente volátil, não é uma evaporação instantânea”, diz Luisa. “Por conta disso, evite cozinhar logo depois de passar álcool gel nas mãos ou depois de limpar o fogão com álcool. Além disso, tente deixar a casa sempre arejada.” A pesquisadora também alerta sobre a água sanitária, cujo vapor é tóxico para as vias respiratórias. “Evite que a solução seja muito concentrada e tente arejar o ambiente ao usá-la.” Luisa ainda orienta que as pessoas evitem produtos estranhos neste momento - dependendo da concentração, eles podem ser perigosos, corroendo superfícies e queimando a pele.
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Não há um consenso entre os especialistas ouvidos pelo Estado sobre a necessidade de limpeza de embalagens vindas do mercado. Entretanto, os que indicam a lavagem recomendam o uso principalmente de água com sabão (ou detergente) ou de álcool 70%.
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Plínio Trabasso, médico infectologista da Unicamp, orienta a limpeza com álcool e dá uma dica: “As sacolas plásticas de supermercado podem ser manuseadas pelo verso, virando-as de dentro para fora”. Outra orientação é usar sacolas retornáveis , que podem ser lavadas com água e sabão depois do uso.8
Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), tem uma receita: “Lave as frutas e as verduras inicialmente em água corrente. Em caso de folhas, cada uma deve ser lavada separadamente. Depois, colocar em solução clorada (1 colher de sopa de água sanitária para cada litro de água) e deixar de molho por 15 minutos. Quando tirar da solução, lavar em água corrente. Por fim, deixar secar antes de guardar.”
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Professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, Fernando Bellissimo explica que, pela natureza do coronavírus, a tendência é de que ele não resista a altas temperaturas. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) americano afirma que em estudos iniciais o microondas se mostrou um equipamento possível para desinfecção, mas a eficácia depende do tempo de exposição e da potência de cada aparelho
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Segundo especialistas ouvidos pelo Estado, não há garantias sobre a menor temperatura que o vírus suporta. Portanto, não devemos confiar na geladeira para eliminá-lo.
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Não há estudos sobre isso, mas a discussão não está na transmissão pela comida em si, mas na manipulação durante o preparo. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) afirma que alimentos crus “devem ser evitados porque não conhecemos a procedência e como foram manuseados”. Enquanto a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) diz que “deve-se ter atenção redobrada com a procedência e a higiene” no caso de alimentos que são habitualmente consumidos crus.
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É possível receber delivery em casa, tomando alguns cuidados. Na visão de Fernando Bellissimo, professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, o mais importante é ficar a uma certa distância do entregador. “Se for usar o cartão para pagar na hora, depois deve-se passar álcool na mão e no cartão. E, eventualmente, usar máscara para esse contato”, afirma. A virologista Juliana Cortines, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dá orientações adicionais: “O ideal é higienizar a embalagem com água e sabão ou álcool. E não esquecer de lavar as mãos”, recomenda. “Outra ideia é pagar o delivery com cartão de crédito pelo aplicativo para diminuir o contato na hora da entrega.”
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Especialistas concordam que o mais importante neste caso é lavar as mãos depois de manusear esses objetos.
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Luis Fernando Waib, médico infectologista membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), diz que o banho não é necessário, mas que é importante lavar as mãos após buscar encomendas na portaria.
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Há uma possibilidade de infecção pelo coronavírus por meio de roupas, mas não é preciso pânico : a principal área de infecção continua sendo as mãos. Segundo especialistas, as roupas devem ser lavadas normalmente, com água e sabão. No caso de profissionais da saúde, deve-se colocar as roupas para lavar após retornar dos hospitais. Pessoas diagnosticadas com a doença devem ter suas roupas lavadas separadamente. Sobre sapatos, Plínio Trabasso, médico infectologista da Unicamp, afirma que é importante retirar o calçado utilizado na rua ao entrar dentro de casa. “Isso é importante em todas as situações, mas é fundamental para quem tem criança pequena, engatinhando, e mesmo os filhos um pouco maiores, porque as crianças costumam levar praticamente tudo à boca, e assim a contaminação é muito provável de ocorrer”, afirma.
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Não há consenso entre os especialistas neste ponto. Alguns dizem que o caminho para a contaminação em contato com cabelo e cachorro exige uma sequência de eventos que a torna improvável. Outros, entretanto, recomendam que os cabelos sejam lavados após saídas na rua. Lave normalmente, como faz no banho.
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Sim. Especialistas reforçam que essa medida é essencial em ambientes públicos, caso a torneira não seja automática.
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Na visão de especialistas ouvidos pelo Estado, a higienização das mãos com água e sabão ou álcool é mais importante do que o uso das luvas. “Muita gente coloca as luvas e acha que está protegido do mundo. O fato de estar com a luva não impede que você leve o vírus ao rosto”, afirma Juliana Cortines, virologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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O professor Fernando Bellissimo, da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, dá uma dica simples para resolver esse problema: “A técnica mais usada é vedar a parte superior da máscara com uma fita crepe, para o ar sair para os lados e para baixo. Assim, o ar não vai para cima e os óculos não embaçam.”
Marcos Müller/Estadão
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Segundo Plínio Trabasso, médico infectologista da Unicamp, a melhor forma é colocar as máscaras descartáveis em sacos plásticos. “Que sejam, de preferência, sacos brancos, que é cor do risco biológico dentro das regras de separação de lixo”, diz.
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Especialistas ouvidos pelo Estado dizem que sim, desde que a pessoa mantenha um distanciamento de 2 metros das demais. No entanto, a virologista Juliana Cortines, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), alerta que muitas vezes os exercícios físicos ao ar livre estão resultando em aglomeração nas ruas, o que não pode acontecer neste momento de pandemia.
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De acordo com os advogados ouvidos pelo Estado, há a possibilidade de despejo caso o morador não pague o aluguel. “Todos podem pedir a renegociação neste momento. Para isso, o locatário deve justificar sua dificuldade financeira e o locador tem a opção de conceder o abatimento do aluguel ou não”, explica Rodrigo Ferrari Iaquinta, advogado especialista em Direito Imobiliário, destacando que a situação de pandemia não garante automaticamente a redução do aluguel. “O recomendado é que as partes entrem em um acordo, porque não é do interesse do locador que o imóvel fique desocupado e nem do locatário sair do imóvel.”
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Advogados ouvidos pelo Estado orientam que seja feita uma negociação com o condomínio para analisar a possibilidade de parcelamento. “O que o condomínio mais precisa neste momento é de arrecadação”, diz o advogado André Luiz Junqueira, especialista em Direito Imobiliário. “Tendo em vista a importância de manter o caixa, é saudável que o condomínio seja generoso em oferecer opções de parcelamento.”
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Na visão do advogado André Luiz Junqueira, o síndico pode, sim, contratar serviços de limpeza, como uma medida de conservação das áreas comuns do condomínio. “Ações como essa, entretanto, deverão ser ratificadas em uma assembleia em um segundo momento, em que o síndico justificará seus gastos”, explica o advogado.
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Essa responsabilidade é da empresa terceirizada que presta serviços ao condomínio, afirma André Luiz Junqueira, advogado especialista em Direito Imobiliário. “Ao mesmo tempo, o condomínio, como tomador do serviço, também tem a responsabilidade de gerenciar esse contrato e chamar a atenção da empresa terceirizada caso ocorra alguma falha nesse sentido.”
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Segundo advogados ouvidos pelo Estado, é possível denunciar, já que são atos que vão contra a recomendação das autoridades. “O ideal é denunciar para a Prefeitura de São Paulo e para a Polícia Militar. Ao discar o 190, a Polícia Militar já tem uma indicação específica para questões envolvendo o coronavírus”, diz Rodrigo Ferrari Iaquinta, advogado especialista em Direito Imobiliário. “Com relações às festas em condomínios, o indicado é que seja feita uma ocorrência no livro do condomínio para que o síndico possa tomar as providências e cobrar alguma multa.”
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Para Fernando Bellissimo, professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, é importante verificar se esse técnico tem sintomas respiratórios. “Se tiver, não o deixe entrar. Se não tiver, deixe-o entrar, peça para ele usar máscara de pano e descontaminar as mãos na entrada”, diz.
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“Se nesse contato pela varanda as pessoas mantiverem a distância de 2 metros umas das outras, não vejo problema”, afirma a virologista Juliana Cortines, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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Segundo Fernando Bellissimo, professor da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, as casas de repouso são ambientes de alto risco de disseminação do coronavírus. “São aglomerações de pessoas altamente suscetíveis ao vírus”, afirma.
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Na visão de Daniel Dias, professor de Direito na Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio), já que as escolas estão oferecendo aula online, não há motivo para reduzir a mensalidade. “Se, por um lado, pode ter uma economia com energia elétrica e limpeza, por outro essas escolas tiveram custo adicional para implementar plataformas digitais para atender os alunos”, diz. Porém, segundo Igor Marchetti, advogado do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o colégio deve mostrar uma nova planilha de custos explicando por que não houve redução na mensalidade durante a quarentena. “Tudo deve estar bem transparente”, afirma Marchetti. “Se a escola não oferecer essas explicações, pode ser o caso de os pais recorrerem na Justiça, principalmente por meio de uma ação coletiva.”
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Sim. Se as atividades extras não estiverem acontecendo a distância, os pais podem pedir a suspensão do pagamento. “Há atividades que dificilmente comportam aulas online, como é o caso de balé e judô, por exemplo”, diz Igor Marchetti, advogado do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). “Entretanto, há a opção de as escolas apresentarem uma reorganização da agenda, com novas opções de atividades extracurriculares que podem ser feitas online.”
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Segundo advogados ouvidos pelo Estado, os contratos anuais continuam valendo. Há a possibilidade, porém, de tentar uma negociação. “Se os pais estiverem em uma situação financeira delicada neste momento, é possível tentar um acordo com a escola e uma revisão do contrato”, diz Igor Marchetti, advogado do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). “Geralmente, quebrar um contrato anual como o de uma escola gera multa, mas, por conta da pandemia, estamos vivendo novas situações no mercado. Nós do Idec entendemos que nessa negociação o consumidor pode pedir o cancelamento e abater o valor da multa. A situação é algo além da vontade dele e ele não pode ser punido por isso.”
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Os pais inadimplentes podem ter o nome inscrito no SPC. Porém, o Procon considera a prática abusiva, já que a educação é um serviço de caráter social e a escola tem outros meios para cobrança da dívida. “Ainda mais neste momento de pandemia, a lealdade e a boa-fé dos contratos se tornam mais importantes”, avalia Iara Pereira Ribeiro, professora de Direito Civil da Faculdade de Direito da USP de Ribeirão Preto. “Se um pai tiver o nome inscrito no SPC pela escola, seria motivo para reclamar ao Procon e eventualmente até tentar uma via judicial.” Segundo advogados, mesmo se os pais estiverem inadimplentes, os filhos podem continuar cursando as aulas normalmente até o fim do ano letivo — a escola só pode impedir uma nova matrícula no próximo período letivo.
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De acordo com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, ainda não há previsão para a retomada das aulas presenciais. Para Luis Fernando Waib, médico infectologista e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), quando as aulas voltarem, é importante ensinar as crianças sobre as mudanças de hábitos necessárias para conter a disseminação do vírus, como higienização das mãos e máscaras. “Também deve-se monitorar sintomas gripais diariamente e, caso estejam presentes, não enviar a criança à escola. Além disso, é importante lembrar que, embora ensinemos as medidas corretas, elas são crianças e muitas vezes quebrarão o distanciamento social naquele ambiente”, afirma. Como as crianças muitas vezes são portadoras assintomáticas do vírus, especialistas orientam que elas devem continuar se mantendo distantes de pessoas do grupo de risco, como avós.35
A aplicação da prova impressa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) está prevista para os dias 1.º e 8 de novembro de 2020, enquanto a prova digital está marcada para os dias 22 e 29 de novembro. No dia 28 de abril, a Justiça Federal decidiu manter o cronograma da prova, derrubando uma liminar obtida pela Defensoria Pública da União que obrigava o MEC a mudar a data do Enem por causa da pandemia do novo coronavírus. Segundo o MEC, a implementação da versão digital do Enem terá início neste ano e será feita de forma progressiva - nesta fase inicial, até 100 mil pessoas poderão fazer a prova no novo modelo. Procurada pelo Estado, a Fuvest, que realiza a prova da Universidade de São Paulo (USP), respondeu que a data da prova continua mantida para 29 de novembro, enquanto a Vunesp, responsável pelo exame de ingresso na Universidade Estadual Paulista (Unesp), informou que a data da prova está mantida para o dia 15 de novembro.36
Elson Asevedo, psiquiatra e pesquisador da Unifesp, explica que o uso de tecnologia começa a preocupar quando a internet passa a afetar outras atividades das crianças e dos adolescentes, como as horas em famílias, as tarefas escolares e os momentos de refeição. “É importante também que os pais observem a forma com que os filhos usam a internet . É só um consumo de conteúdo passivo, rolando a barra da tela de redes sociais, ou a criança pesquisa assuntos de interesse dela?”, indaga Asevedo. “A internet pode ser usada de maneira destrutiva, que estimula o isolamento, mas há a possibilidade de ser um uso criativo.”
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Sim. Segundo o psiquiatra Elson Asevedo, da Unifesp, a mudança da rotina do sono afeta o ciclo de liberação de hormônios. “Em crianças e adolescentes, essa ruptura pode causar irritação, ansiedade, alteração de humor e prejuízo de memória e de aprendizado”, afirma. Além disso, Rodrigo Martins Leite, do Instituto de Psiquiatria da USP, destaca que uma rotina inadequada de sono durante a quarentena pode dificultar o retorno às atividades normais quando o isolamento social acabar. “A transição para os horários e normas da escola pode se tornar particularmente difícil se não houver uma rotina na quarentena”, diz Leite.
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Em relação a intercâmbios, Plínio Trabasso, médico infectologista da Unicamp, orienta que as pessoas esperem recomendações de autoridades, tanto brasileiras quanto dos países a serem visitados, antes de marcar a viagem. “Cada país vai adotar a medida que for mais adequada para a sua situação epidemiológica e não temos como intervir nesta decisão”, diz Trabasso.
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De acordo com uma medida provisória editada pelo governo no começo de abril, empresas de viagens não são obrigadas a reembolsar os valores pagos pelo cliente , desde que ela ofereça a opção de remarcação ou disponibilize crédito para o consumidor usar posteriormente. “Acabam ficando mais restritas as possibilidades do consumidor neste momento”, afirma Igor Marchetti, advogado do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). “Mas entendemos que há margem para tentar negociação com a empresa dependendo de cada caso e de cada tipo de intercâmbio.”40
No caso de eventos que geram aglomeração de pessoas e foram suspensos por causa da pandemia, o Procon sugere que os promotores ofereçam uma nova data para as apresentações: se ela não for viável para o consumidor, pode então ser feito o reembolso dos valores. Seguindo essa diretriz, entidades promotoras de concertos de São Paulo têm tratado a questão de forma relativamente diferente. A Santa Marcelina Cultura, responsável pela Orquestra Jovem do Estado e pelo Theatro São Pedro, está oferecendo um voucher com o valor já pago, que poderá ser utilizado no momento em que a programação for retomada. Se preferir, no entanto, o público pode pedir de volta o dinheiro. No Cultura Artística, os assinantes podem pedir de volta o valor pago; no caso de ingressos avulsos, no entanto, a entidade está esperando a confirmação de datas alternativas para as apresentações para oferecer a possibilidade de reembolso. A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) criou agendas alternativas para o segundo semestre e informa que, uma vez definida essa programação, os ingressos já comprados, nas assinaturas ou avulsos, valerão automaticamente para as novas datas. O Teatro Municipal de São Paulo também trabalha com a possibilidade de remarcação das atividades programadas e, com as novas datas acertadas, oferecerá ao público a possibilidade de reembolso dos valores dos ingressos e assinaturas.41
Fabio Assolini, analista da empresa de cibersegurança Kaspersky no Brasil, afirma que os aplicativos mais comuns no mercado são recomendados para uso doméstico . Entretanto, existem duas ameaças principais às quais os usuários podem estar expostos em videoconferências: instalação de programas maliciosos e invasão de hackers para acesso a gravações ou a reuniões em andamento sem autorização dos organizadores. “É importante tomar alguns cuidados como usar sempre a versão mais recente do aplicativo e ficar atento com as imitações, porque existem aplicativos falsos explorando a popularidade das ferramentas. Por isso, baixe sempre o aplicativo de suas lojas oficiais. Também é fundamental configurar uma senha e uma sala de espera para controlar a entrada em reuniões”, diz. No caso de uso de videochamada para assuntos corporativos, Assolini indica o uso de plataformas que ofereçam recursos como criptografia ponta a ponta. “Deve-se ter melhores formas de autenticação e controle, por meio da verificação da veracidade de contatos e da utilização de logins que não sejam baseados apenas em números de telefone.”
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É preciso tomar alguns cuidados na hora de comprar pela internet. “Veja se o site é confiável: antes de fornecer suas informações de cartão de crédito, faça uma pesquisa sobre as avaliações de outros clientes do site em questão”, orienta Fabio Assolini, analista da empresa de cibersegurança Kaspersky no Brasil. “Também não se deve jamais clicar em links ou baixar arquivos de fontes não confiáveis.” Ele ainda diz que é preciso tomar cuidado com as falsas promoções que estão circulando por meio de mensagens, principalmente pelo WhatsApp.
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Como as academias estão fechadas por conta da pandemia, o cliente pode pedir rescisão do contrato sem pagar multas, avalia Iara Pereira Ribeiro, professora de Direito Civil da Faculdade de Direito da USP de Ribeirão Preto. “O serviço não está sendo oferecido por uma situação de força maior”, afirma Iara. Vale ressaltar que muitas academias já estão congelando automaticamente os planos dos clientes neste período de quarentena.
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No começo de abril, o governo editou uma medida provisória (MP) que cita contratos de eventos, estabelecendo que a empresa responsável pelo evento não é obrigada a reembolsar os valores pagos pelo cliente, desde que ela ofereça a opção de remarcação ou disponibilize crédito para o consumidor usar posteriormente. “A partir dessa medida provisória, se o cliente não quiser remarcar ou usar o crédito, ele deverá pagar uma multa para cancelar o evento. As negociações de hoje já estão obedecendo essa MP”, diz Igor Marchetti, advogado do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
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Se pensarmos no longo prazo, na evolução biológica do vírus, a contaminação de toda a população pelo novo coronavírus é uma situação inevitável. “A tendência é a doença perder a agressividade para manter o hospedeiro vivo para que possa ter um local para se reproduzir. No entanto, isso deve acontecer no longo prazo”, afirma Ricardo Nishimori, médico de família e mestre pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). “Pela epidemiologia, ainda há muitos casos assintomáticos e esses infectados acabam sendo os maiores transmissores, por isso a necessidade do isolamento social”, diz. Mas como a doença é nova e apesar da alta taxa de transmissibilidade, não é possível afirmar com certeza que todos vão pegar o novo coronavírus em algum momento. Estudos sobre o comportamento do vírus ainda estão em andamento.
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Os sintomas podem variar de um simples resfriado até uma pneumonia severa, sendo os mais comuns febre, tosse, dificuldade para respirar, coriza e dor de garganta.
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A conjuntivite é um dos sintomas associados a casos graves de covid-19, segundo a Academia Americana de Oftalmologia. A entidade fez essa indicação com base em três estudos científicos concluídos recentemente. Perda do olfato e do paladar também pode indicar a infecção pela covid-19, de acordo com estudo da Universidade de Mons, da Bélgica, e vem sendo relatada por pacientes.
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Temporária. A perda permanente de olfato e paladar é considerada rara. “Este sintoma vem sendo observado em pacientes com quadro sugestivo de covid-19 e pode ser uma ferramenta para aumentar a acurácia do diagnóstico clínico da doença. No entanto, há um grande contingente de pessoas com a doença e sem este sinal”, afirma Unaí Tupinambás, professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
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A recomendação do Ministério da Saúde é: caso você se sinta doente, com sintomas de gripe, evite contato físico com outras pessoas, principalmente idosos e doentes crônicos, e fique em casa por 14 dias. “Só procure um hospital de referência se estiver com falta de ar”, informa a pasta.
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Há alguns casos pelo mundo de pessoas que tiveram a doença, melhoraram e voltaram a ser diagnosticadas com infecção pela covid-19. Por se tratar de um vírus novo, os cientistas ainda não chegaram a uma análise conclusiva. De qualquer forma, a chance de se contaminar mais de uma vez é tratada como fato raro. "Outra possibilidade é que o teste cujo resultado foi negativo pode não ter sido feito de forma adequada. Ou, ainda, o novo coronavírus pode provocar uma infecção bifásica, isto é, ele persistiria no organismo e, após algum tempo, reapareceria com outros sintomas. Mas tudo isso são hipóteses na tentativa de explicar esses achados", informa a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O infectologista do Hospital Sírio-Libanês Ralcyon Teixeira lembra que os casos de reincidência registrados são poucos se comparados com a quantidade total de casos de infecção pelo coronavírus no mundo, por isso, ainda não é possível tirar conclusões definitivas.
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O tempo de recuperação varia entre duas a oito semanas, dependendo do estado clínico do paciente.
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A gravidade dos sintomas varia e as pessoas do chamado grupo de risco têm chance maior de desenvolverem quadros mais graves por causa do coronavírus. Os cientistas ainda buscam a resposta para o fato de a covid-19 também matar jovens saudáveis. Algumas hipóteses estudadas são fatores genéticos e/ou a carga viral, ou seja, quanto a pessoa ficou exposta ao vírus.
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São diversas perguntas sem resposta sobre o coronavírus até agora. A começar pelos números de casos e mortes, porque os países não conseguem testar as pessoas. Com a subnotificação, a taxa de letalidade é imprecisa. O motivo para a gravidade dos casos é outra questão que os cientistas ainda tentam responder. Não se sabe ao certo por que jovens saudáveis morrem por covid-19 e pessoas do grupo de risco sobrevivem após serem infectadas. Também não se sabe com certeza quanto tempo o coronavírus sobrevive em superfícies, mas ele parece se comportar como outros do mesmo tipo. Pesquisadores descobriram que as principais células que o vírus ataca para se multiplicar são as do sistema respiratório, especialmente as nasais e as pulmonares. Já uma possível chegada do vírus a órgãos como fígado, rins, baço, coração e intestino dependeria da presença dele no sangue, o que ainda não foi comprovado, segundo a professora Luciana Costa, diretora adjunta do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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Desde o início de fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a chamar oficialmente a doença causada pelo novo coronavírus de covid-19. Covid vem de corona virus disease (doença do coronavírus, em português), enquanto “19” se refere a 2019, quando os primeiros casos em Wuhan, na China, foram divulgados publicamente pelo governo chinês. A denominação é importante para evitar casos de xenofobia e preconceito, além de confusões com outras doenças.
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“Estudos até o momento indicam que o vírus que causa a covid-19 é transmitido principalmente pelo contato com gotículas respiratórias”, diz Airton Stein, pesquisador da área de epidemiologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). “O ar sozinho não carrega o vírus, mas ele pode carregar partículas de secreções de uma pessoa que espirra e esteja infectada.” Uma pessoa pode ser contaminada, então, se inspirar gotículas de alguém infectado - é por isso que se torna importante ficar a mais de 1 metro de distância, evitando aglomerações. Ou se tocar em objetos e superfícies que tenham sido contaminados e, em seguida, levar a mão aos olhos, ao nariz ou à boca. “Estudos sugerem que os coronavírus podem persistir nas superfícies por algumas horas ou até vários dias. Isso pode variar sob diferentes condições, como tipo de superfície, temperatura ou umidade do ambiente”, informa a OMS.
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Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. Os primeiros coronavírus humanos foram isolados em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus apareceu descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, semelhante a uma coroa. A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida e as crianças pequenas são as mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
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Também causadas por coronavírus, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers) são mais letais do que a covid-19. “No entanto, no caso da Sars e da Mers, a transmissibilidade é menor e, por isso, as epidemias não tomaram a mesma proporção do novo coronavírus”, afirma Ester Cerdeira Sabino, infectologista e professora do Departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo. Assim como a influenza , a covid-19 também tem alto potencial de transmissão.
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Sim. É possível que outros coronavírus passem de animais para seres humanos. “Aparentemente, é um vírus que consegue ‘pular’ mais facilmente de uma espécie para outra e é o que estamos observando agora até mesmo com a transmissão de humanos para felinos”, acredita Ester Cerdeira Sabino, infectologista e professora do Departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo.
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Ainda não é possível dizer, porque ainda não há números concretos de infectados e assintomáticos. “Além disso, os números da gripe espanhola mostram quantas morreram e não quantas foram contaminadas. Para fazer uma comparação melhor é preciso esperar a pandemia do novo coronavírus acabar para saber quantas pessoas se infectam e são assintomáticas”, avalia Ester Cerdeira Sabino, infectologista e professora do Departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo.
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Não é exagero, na opinião de Airton Stein, professor-titular do departamento de Saúde Coletiva da área de Epidemiologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. “É necessário evitar o contato com pessoas contaminadas o máximo possível, considerando que 50% dos casos podem ser atribuídos a transmissão de pessoas assintomáticas e pré-assintomáticas”, afirma Stein. “É muito alto o risco de contágio.” Desde março, o Conselho Federal de Medicina (CFM) recomenda a restrição de pessoas em hospitais, o que fez alguns deles limitarem até visitas a pacientes que não estão internados por covid-19.
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O Ministério da Saúde informou que os mortos por coronavírus podem ser enterrados ou cremados, mas os velórios e funerais de pacientes confirmados ou suspeitos da doença, que juntem muitas pessoas em um ambiente fechado, não são recomendados. Neste caso, o risco de transmissão também está associado ao contato entre familiares e amigos. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a Prefeitura suspendeu os velórios para vítimas da covid-19 e autorizou a realização de enterros noturnos.
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Estudo recente da Universidade de Ciências e Tecnologia do Hospital de Huazhong, na China, envolvendo 214 pacientes hospitalizados mostra que o novo coronavírus pode causar problemas neurológicos. Em mais de 60% dos pacientes foram identificados sintomas neurológicos de doenças do sistema nervoso central, sistema nervoso periférico e sintomas musculares esqueléticos. Os sintomas neurológicos foram significativamente mais comuns nos casos graves em comparação com os menos graves. Os pacientes tiveram dor de cabeça, tontura, convulsões e até acidente vascular cerebral (AVC) . “É difícil falar de uma enfermidade que é nova, costumamos trabalhar com doenças que têm 10 anos de evolução. Ainda é preciso mais estudos, mas pesquisas já estão apontando que o novo coronavírus pode causar problemas neurológicos como AVC hemorrágico e AVC isquêmico. Quanto mais grave a manifestação do quadro clínico, maior a chance de comprometimento neurológico, sendo o quadro agravado em pacientes mais velhos”, afirma o neurocirurgião Alexandre Meluzzi, membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.63
A Fiocruz afirma que “as infecções graves por coronavírus podem deixar um certo grau de fibrose pulmonar. Mas isso especificamente nos pacientes que vão para terapia intensiva, serão submetidos à ventilação mecânica , vão respirar por aparelhos. Então, são os casos graves que, como em qualquer pneumonia, podem estar associados a alguma perda de função respiratória. Normalmente, na maior parte dos casos evolui para uma melhora sem sequelas”.64
Os hipertensos , assim como os diabéticos, têm o sistema imunológico mais debilitado. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, “todas as medidas de prevenção e controle da pressão arterial devem ser enfatizadas para este grupo, para que se evite complicações e pior prognóstico, que estão associados à maior chance de internação por descompensação clínica”.65
Com base em estudos feitos na China sobre o novo coronavírus, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) divulgou uma nota técnica alertando para os riscos de agravamento da doença em pacientes com histórico de tabagismo , que foram 14 vezes maiores do que em pessoas que não fumavam. O pneumologista Valter Eduardo Kusnir diz que o ex-fumante está no grupo de risco pelo processo inflamatório já instalado no pulmão, que facilita a entrada do vírus. Essas pessoas, segundo ele, desenvolvem com o tempo um quadro de bronquite crônica, que evolui para a chamada Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). “Se foi um fumante de época de adolescência, por exemplo, por pouco tempo, é uma coisa. Se fumou por mais tempo é outra. Assim como aqueles que largaram o vício recentemente”, afirma Kusnir. “A quantidade de cigarros também conta. É como conseguimos calcular a carga tabágica do indivíduo.”
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“A capacidade de coagulação e de formar trombos tem muita relação com nossos mecanismos de defesa. Coagular sangue tem relação com como nosso sistema de defesa age contra agentes agressores. A covid-19 interfere nos mecanismos de coagulação e isso tem sido motivo de estudos”, diz Lauro Ferreira Pinto Neto, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor da Santa Casa de Vitória.
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Pessoa com tendência a trombose não deve tomar anticoagulante em nenhuma hipótese neste momento. “Nenhuma conduta profilática (uso de remédio para prevenir doenças) está definida na covid-19. É importante que cada caso seja discutido com seu médico”, afirma Lauro Ferreira Pinto Neto, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor da Santa Casa de Vitória.
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“A obesidade contribui para um estado inflamatório, produzindo moléculas chamadas de citoquinas. Elas afetam outros sistemas, causando estresse celular, falta de oxigenação celular e morte celular”, explica a endocrinologista Amy Rothberg, professora associada da Escola de Medicina da Universidade de Michigan. De acordo com especialistas, essa interação já havia sido notada em outras enfermidades que comprometem o sistema respiratório, mas nunca de forma tão grave.
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Não. De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, Marcos Leão Villas Bôas, o paciente que passou pela cirurgia perdeu peso, reduziu as doenças associadas e teoricamente está mais saudável. “A respiração, o sistema fisiológico e o metabolismo estão melhores do que se estivesse ainda com a obesidade. Os benefícios da cirurgia bariátrica são importantes no enfrentamento de qualquer epidemia”, afirma Villas Bôas.
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“Até o momento não há nenhum medicamento, substância, vitamina, alimento específico ou vacina que possa prevenir a infecção pelo coronavírus”, informa o Ministério da Saúde. As recomendações de prevenção são os cuidados com a higiene, distanciamento social e uso de máscaras.
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O infectologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG Unaí Tupinambás explica que, de um modo geral, as populações indígenas são
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