Marcos Candido - De Universa - 21/12/2019 - 19:51:39
Ao redor de Luiza Coppieters estão cerca de 2.000 livros de filosofia e sociologia organizados em uma estante. Entre as prateleiras, lembranças de países que visitou. Estão lá um escultura em madeira do Chile, um pelúcia da Tailândia, um cinzeiro comprado em Pompeia, na Itália -um dos favoritos. Após a erupção de um vulcão por volta do ano 70 d.C., a antiga cidade italiana foi soterrada pelos resíduos do Vesúvio, mas a estrutura resistiu à fuligem, ao tempo e é visitada até hoje. "É como me sinto: renascida das cinzas e em cinzas", diz.
Em março, Luiza passou por uma cirurgia de redesignação sexual em um hospital em Bancoc, na Tailândia. Os médicos também tornaram sua voz mais aguda, assim como retiraram o pomo-de-Adão. Às vezes, ela ainda sente que a voz grave do passado pode ressoar mais uma vez ao falar. Mas quando emite o tom agudo pelo apartamento onde mora em Santa Cecília, no centro de São Paulo, Luiza tem a sensação de finalmente ser reconhecida como mulher. "A voz impacta na relação com o outro. Agora, dentro das normas esperadas pela sociedade, a frequência que sai de dentro é de uma mulher. E o som tem gênero."
No próximo ano, Luiza pretende ajudar pessoas trans a terem o mesmo tratamento na Tailândia. Além de contratada pelo centro médico onde foi operada, ela abriu uma empresa no Brasil para parcelar as despesas de brasileiros que buscam o procedimento no país asiático. Na semana que vem ela se muda para Bancoc, onde vai começar no novo trabalho.
Uma prancha de surfe está escorada em frente aos livros. Pela primeira vez, Luiza pode ir para a praia vestida em um biquíni confortável. A sensação com a vida nova é de alívio, como faz questão de frisar. "Quase apanhei uma vez em que fui para a praia pegar onda. Me cercaram, me ameaçaram. Mas agora posso voltar a surfar, cara. Eu posso. Visto uma legging, vou para a academia. É libertador", celebra.
Por seis dias, ficou em cima da cama para se recuperar da cirurgia. Até que foi liberada para fazer xixi. "Era um sofrimento ir ao banheiro. Eu sentia vontade e isso me fazia lembrar da 'daquilo'", diz, em referência ao pênis que tinha. No primeiro dia que pode vestir uma calcinha, chorou.
Desde a adolescência, Luiza tinha atração por meninas, mas sentia que teria mais chances se também fosse uma garota. "A identidade de gênero é uma construção dialética com o outro a longo da vida, de ação e reação com o outro. Já na orientação sexual, de repente, o corpo pode passar por mudança hormonal ou se sentir atraído por uma pessoa, ou por parte uma parte de uma pessoa, e aí isso te excitar. Já a identidade de gênero é uma compreensão muito mais complexa de si mesma", conta.
Segundo ela, a cirurgia criou um clitóris, um canal para urinar e até mesmo lubrificar a região, cuja sensibilidade diz ter sido aprimorada durante as relações sexuais.
No final dos anos 90, ela foi aprovada no curso filosofia da USP (Universidade de São Paulo). Ao estudar o filósofo Michel de Montaigne, se interessou por pensadores clássicos citados pelo francês. Entre eles, Sêneca, um divisor de águas em sua vida.
De início, acreditava ser uma estóica como o filósofo: era preciso ser rígida com os sentimentos e estar acima das paixões. Se exageradas, as paixões podem levar a erros de julgamento e ofuscar a nossa alma racional.
"Por exemplo, um rico que ama tanto o dinheiro que se torna avarento. A avareza é uma paixão", explica. Com o tempo, passou a se considerar mais aristotélica: preferiu moderar e canalizar os sentimentos para fazer escolhas, como a de passar por um procedimento e reafirmar sua identidade de gênero à sociedade que cresceu.
Em 2015, após assumir sua transgeneriedade, foi demitida do colégio particular onde dava aula de filosofia em Alphaville, região de alto poder aquisitivo na Grande São Paulo. Por acordo judicial, ela optou por não falar sobre o assunto. Apesar disso, se recorda do tempo em que dava aulas e estendia as discussões com os alunos mesmo quando o sinal batia.
Após a demissão, ela se candidatou ao cargo de vereadora em São Paulo nas eleições de 2016 pelo PSOL, mas não foi eleita. Enquanto esteve desempregada, passou por dificuldades financeiras e diz ter sido ajudada por amigos, com os quais se despediu emocionada.
"Fui muito atacada pelas pessoas nesses anos. Me mandaram para muitos lugares. Me mandaram para Cuba, mas estou indo para Bancoc", diz. "Mas isso me lembra Sartre: nós somos o que fazemos com o que fazem de nós."
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