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Ministério da Saúde gastou mais R$ 40 milhões na compra de inseticida. 'Efeito dura 30 minutos', afirma pesquisador.
Por Brenda Ortiz, G1 Df - 17/06/2019 - 09:44:54
Mesmo sendo uma medida bastante cobrada pela população, o fumacê usado para o combate ao mosquito da dengue é constante alvo de divergência entre pesquisadores. Além da baixa eficácia na ação, estudos indicam que o contato recorrente com o inseticida pode causar intoxicação e, a longo prazo, o desenvolvimento de câncer e outras doenças (veja detalhes abaixo).
O Ministério da Saúde informou ao G1 que, em 2016, investiu US$10,4 milhões (cerca de R$ 40,4 milhões) para comprar 1,65 milhão de litros de Malathion, inseticida usado pelos carros fumacê em todo o país. O produto foi fornecido por um único laboratório, por meio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
A justificativa do contrato, à época, fazia parte da estratégia de resposta imediata ao avanço da dengue, considerada caso de emergência em saúde pública. O Ministério da Saúde é responsável pela distribuição do inseticida para os estados e o Distrito Federal.
Nos anos seguintes, porém, não ocorreram epidemias de dengue, zika e chikungunya – que eram previstas para os anos de 2017 e 2018. Com isso, a procura pelo produto foi menor.
Em 2019, os casos de dengue voltaram a crescer e a eficácia do fumacê voltou ao debate. Segundo o médico especialista em doenças infectocontagiosas, Celso Tavares, a medida consiste na utilização de agrotóxico em pequenas dosagens com o objetivo de matar o mosquito Aedes aegypti, que transmite a dengue.
"O efeito dura até 30 minutos quando liberado no ar, mas o produto atinge apenas mosquitos adultos voando no momento em que o veneno é usado."
O médico explica que os criadouros não são afetados. Assim, por depender de fatores externos, a medida é considerada de baixa eficácia, pontua Tavares.
O especialista acrescenta que, para ter um efeito melhor, o Malathion deveria ser pulverizado pelos carros de fumacê com as casas de portas e janelas abertas – para que o veneno "entrasse" nas residências. Mas isso nunca acontece.
“Habitualmente as portas e janelas estão fechadas e quando abertas, os moradores fecham durante a passagem do fumacê.”
Chuva, calor intenso e ventos acima dos 6 km/h também diminuem a eficácia do produto, alertam pesquisadores. O ideal é o fumacê ser usado no começo da manhã e no fim da tarde, quando a temperatura está mais amena e quando a fêmea do Aedes aegypti está "faminta" por picar as pessoas, afirma Tavares.
No Brasil, o Malathion, usado no fumacê, pertence ao grupo dos organofosforados, um composto orgânico degradável utilizado no controle de pragas. Por possuir uma forma diferente dos inseticidas encontrados no comércio, a distribuição é feita apenas pelo Ministério da Saúde.
O produto, entretanto, é considerado pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) como potencialmente cancerígeno para os seres humanos. Uma pesquisa feita em 2015 pela agência e que também utilizou de outros quatro organofosforados, indica que há evidências de que a exposição ao pesticida desenvolva linfoma não-Hodgkin e câncer de próstata em humanos.
O Ministério da Saúde informou ao G1 que já iniciou o processo de substituição de alguns produtos com base nas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a pasta, o uso do fumacê é a última estratégia de enfrentamento ao problema da zika, dengue e chikungunya, visto que só o mosquito na fase adulta pode ser atingido.
"A medida mais eficaz é a eliminação de focos de multiplicação do mosquito, evitando que eles nasçam, por isso, o envolvimento da sociedade é fundamental", afirma o Ministério da Saúde.
Para evitar a reprodução do Aedes aegypti em casa e, consequentemente, reduzir os ataques do mosquito – além de se prevenir contra as doenças que ele transmite – o Ministério da Saúde reuniu uma série de orientações. Confira:
Prevenção em casa
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