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Nesses locais, longe do centro da capital, são os moradores que se mobilizam para ajudar quem tem menos, conta Kennedy Mikael Marques da Silva, de 20 anos. O jovem, participa de ações na região de Samambaia onde, segundo o Conselho Tutelar, há pessoas fora do radar das campanhas (saiba mais abaixo)
"A situação se complica cada dia mais."
Kennedy cresceu na chamada "Expansão da Samambaia" – uma área criada após a transferência de centenas de família para a região, em 1989. Samambaia deveria assentar migrantes vindos de diversas partes do país.
Por meio do antigo Sistema Habitacional de Interesse Social (SHIS), todos teriam casa própria, financiada pelo Banco Nacional de Habitação (BNH). No entanto, o projeto original acabou esbarrando na falta de estrutura e no crescimento desordenado.
A Expansão, onde mora Kennedy, fica a 40 quilômetros da Praça dos Três Poderes e a algumas quadras do Morro do Sabão, onde se amontoam cerca de 150 barracos – sem ligação de esgoto ou acesso à água encada. Lá, os moradores tentam sobreviver à pandemia e à invisibilidade.
"Muitos deles vivem da coleta de lixo reciclável, mas o comércio [onde buscam o material] tá fechado. É um ciclo, um depende do outro."
Kennedy arrecada doações em parceria com igrejas da região e com o Instituto Amigos do Bem. Eles reúnem alimentos e material de limpeza para entregar aos moradores do Morro do Sabão.
O Morro do Sabão
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Família de moradores do Morro do Sabão, em Samambaia, recebem doação de cesta básica — Foto: Arquivo pessoal
De nome curioso, o Morro do Sabão ganhou este apelido por estar em um local com muito cascalho, o que torna o terreno escorregadio. Ele fica ao lado de outra comunidade, o Morro do Macaco, que tem características semelhantes.
“Muita gente já olha pro Sol Nascente e pra Estrutural [as maiores regiões de periferia do DF] , mas esquecem que dentro de toda cidade satélite tem grupos que também passam por situações difíceis."
Entre as famílias que ajuda no Morro do Sabão, Kennedy fala, com carinho, de Ester Alves Bezerra. A mulher, com mais de 70 anos, cuida de um filho cego e contou que foi vítima de furto, dentro do barraco.
Ester Alves recebe cesta básica no Morro do Sabão, em Samambaia — Foto: Arquivo pessoal
Fora do radar das campanhas
O conselheiro tutelar de Samambaia Abel Gramacho, defende que as pessoas devem estar atentas e solidárias a quem mora na casa ao lado. Ele diz que, visitando as famílias, identificou pessoas que precisam de ajuda, mas estão fora do radar das campanhas de doação.
"Há pessoas que não estão acostumadas a receber qualquer auxílio e ficam com vergonha de pedir. Elas estão passando fome do lado da casa de alguém que está ajudando uma comunidade mais distante."
Segundo Gramacho, o Conselho Tutelar costuma reunir listas de famílias que precisam de doações. "São diaristas, cabeleireiras, ambulantes, autônomos", conta.
“É preciso se informar também sobre o que as famílias mais precisam. Às vezes até tem alimento, mas falta material de limpeza."
Coronavírus em Samambaia
Samambaia está entre as 10 regiões do DF com maior número de casos de coronavírus. Em uma semana – entre 9 e 16 de abril – o total de infectados passou de 13 para 21. A região também registrou uma morte por Covid-19.
Até a última segunda-feira (13) o índice de adesão de isolamento social em Samambaia era de 61%. O percentual estava acima da média do DF na mesma data, que era de 55%.
“Tem gente que entende [que deve ficar em casa], tem outros que não", diz Kennedy, que trabalha como auxiliar administrativo e está em férias coletivas.
Como ajudar?
Confira abaixo o contato de instituições que ajudam a região de Samambaia, no Distrito Federal:
- Conselho Tutelar de Samambaia: (61) 9 9240-9523 e 9 8614-6842
- Creche Mandacaru (QR 204, Samambaia): (61) 9 8455-3848
- Instituto Amigos do Bem: Rede social: @instituto.dobem
- Grupo Anjos do Bem: (61) 9 9820-5635
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Morro do Sabão — Foto: Arte/G1
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