Estadão Conteúdo - 24/01/2019 - 12:15:18
Não consigo entender por que no litoral do Brasil existem nomes como “Jurerê Internacional”. Internacional por quê? A ilha de Santa Catarina é o paraíso de nomes em língua estrangeira. Lá existem os “beach clubs” El Divino e Cafe de La Musique; ‘resorts’ como o “Il Campanário Villaggio” , e o Jurerê Beach Village; eventos como a feira de produtos orgânicos “Jurerê Organic” ou a ‘Floripa Convention’; bares como o ‘Devassa On Stage’, que era o antigo ‘Stage Music Park’; e tem até o Jurerê Open Shopping.
Só pode ser isso: nosso velho e conhecido complexo. Um bom psicanalista explica. O Brasil tem um dos mais lindos litorais do planeta. Curiosamente, sempre que algum local entra na moda, pipocam os nomes em línguas estranhas. Só pode ser complexo…
Até a expedição pela costa brasileira, 2005 – 2007, eu não conhecia tão bem o litoral deste estado. Mas sua fama de “paraíso”, sim, conhecia. Fiquei surpreso quando naveguei por cada milha do litoral Catarina. E estupefato com a fama de “paraíso”. Só se for o da especulação.
Cadê o paraíso?
Paraíso?
Pula, nego, não ponha o pé aí…
Pode?
A especulação detonou a paisagem da praia.
O empreendedor descobre uma bela paisagem. Então vai lá e ergue uma muralha de concreto num país tropical. Hotel em Jurerê…
A paisagem é um bem natural dos brasileiros. Respeite o que mesmo? (a cor laranja é a GoPro da equipe Mar Sem Fim)
Como mostram as fotos, a ocupação simplesmente destruiu a beleza cênica que a natureza levou eras para formar. Passou por cima do ‘patrimônio natural’. Veja de novo e diga: o que sobressai nas fotos? A beleza da paisagem, ou as construções, umas em cima das outras? Insisto que não é preciso destruir a paisagem para ocupar praias. Se ela for bem feita, feita com consciência, a beleza da paisagem que pertence a todos se mantém. Mas o pior é que parece que Jurerê também é paraíso da corrupção. Será que especulação imobiliária está sempre a reboque da corrupção?
Estadão, junho de 2017: “Justiça manda demolir beach clubs em Jurerê Internacional“. Arre égua, vencemos uma!
Texto: “o juiz Marcelo Krás Borges, da Vara Federal Ambiental, mandou demolir cinco beach clubs e um resort de luxo no bairro Jurerê Internacional, que reúne a alta classe, políticos e celebridades em Florianópolis. A decisão, tomada em julgamento nesta quinta-feira, 21, acontece no âmbito da operação Moeda Verde, que levou mais de dez anos para ser julgada”.
Jurerê Internacional. O Il Campanário Villaggio e sua muralha de concreto numa praia tropical. Jurerê o que mesmo? (Foto: Il Campanário Villaggio)
O resort de luxo é o Il Campanário Villaggio que, segundo a Veja, é um “hotel, com quatro torres de seis andares, complexo aquático, academias e restaurantes”. “Cinco ‘beach clubs’ também estão na lista das demolições. Todos os empreendimentos são ligados à empresa Habitasul“.
Segue O Estado, “dezesseis pessoas foram condenadas por corrupção em um esquema entre empresários e servidores públicos que em troca de propina liberavam licenças ambientais em áreas de preservação permanente. Ainda cabe recurso às decisões no Tribunal Regional Federal (TRF)”.
Estadão: “De acordo com Krás Borges, a empresa Habitasul, que tinha uma rede de contatos com funcionários públicos, conseguia com suborno as liberações em Jurerê Internacional. O juiz ainda afirma que Péricles de Freitas Druck, empresário da Habitasul, era o líder da quadrilha. Ele recebeu a pena mais alta, 28 anos em regime fechado, multa e prestação de serviços comunitários”.
Hoje todo mundo é verde, eco, ou sustentável. Ao menos no papel…A Habitasul não seria diferente. No site da empresa estão seus valores. À eles:
1) A Responsabilidade Social e Ambiental
Somos agentes promotores e multiplicadores do desenvolvimento econômico, social, ambiental, comunitário e pessoal.
2) A Ética, Coragem, Transparência e Cordialidade
Somos éticos, corajosos, transparentes e cordiais em todas as nossas atitudes e relações.
3) A Inovação e o Pioneirismo
Cultivamos a inovação e o pioneirismo nos negócios, processos, produtos e serviços.
Hã, hã..é tudo que o Mar Sem Fim pode dizer. Voltando ao Estadão: “Péricles de Freitas Druck, empresário da Habitasul, era o líder da quadrilha”(segundo o Juiz).
Pra não ser sempre do contra, o Mar Sem Fim foi pesquisar. E encontrou dados favoráveis. É a Veja quem diz: “Jurerê Internacional é um bairro planejado, com 100% do esgoto tratado e arquitetura própria“. E prossegue: “As mansões que surgem em cada esquina das ruas impecavelmente limpas não têm muros, e a praia é cercada por vegetação plantada a partir dos anos 1990”.
Em nota, a Habitasul disse que recebeu com surpresa a sentença e que vai recorrer da decisão já em primeira instância.
Foi o G1 quem disse: ” Na época (em que começou a investigação, 2006) , o Ministério Público Federal (MPF) afirmou que a empresa Habitasul pagava servidores públicos para que eles concedessem liberação de licenças ambientais para a construção de empreendimentos.”
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Comentários para "Jurerê Internacional, a ostentação de mãos dadas com a especulação":