Onu News - 25/11/2020 - 11:39:37
A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michele Bachelet, pediu às autoridades brasileiras para investigar o caso de João Alberto Silveira Freitas de forma “rápida, completa, independente, imparcial e transparente”. Em comunicado, Bachelet disse também que deve ser apurado se o crime foi motivado por preconceito racial.
Segundo a mídia local, João Alberto Silveira Freitas foi morto por asfixia, após ser espancado por dois seguranças no supermercado Carrefour, em Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul.
A porta-voz da alta comissária, Ravina Shamdasani, afirmou que o assassinato “é um exemplo extremo, mas infelizmente muito comum, da violência sofrida pelos negros no Brasil.”
Shamdasani contou que o crime mostra nitidamente a persistente discriminação estrutural e o racismo que os descendentes de africanos enfrentam. Segundo ela, “esse ato deplorável, que aconteceu tragicamente na véspera do Dia da Consciência Negra no Brasil, deve ser condenado por todos.”
O Escritório da ONU afirma que os funcionários do governo têm “a responsabilidade de reconhecer o problema subjacente do racismo persistente no país, pois este é o primeiro passo essencial para resolvê-lo.”
A porta-voz disse que “o racismo, a discriminação e a violência estruturais que os afrodescendentes enfrentam no Brasil são documentados por dados oficiais, que indicam que o número de vítimas afro-brasileiras de homicídio é desproporcionalmente maior do que outros grupos.” Os dados também mostram que os afro-brasileiros, incluindo as mulheres, são a maioria na população prisional do país.
Shamdasani disse que o inquérito penal deve assegurar a justiça e a verdade, bem como a reparação para a família da vítima.
O Escritório também pede às autoridades que investiguem quaisquer alegações de uso desnecessário e desproporcional da força contra pessoas que protestam pacificamente e responsabilizem os autores dos excessos.
Beth Santos/Secretaria Geral da PR
Crime aconteceu na cidade de Porto Alegre, no sul do Brasil
A porta-voz ressaltou “a necessidade urgente das autoridades brasileiras de combater o racismo e a discriminação racial em estreita coordenação com todos os grupos da sociedade, especialmente os mais afetados.”
Shamdasani disse que “os negros brasileiros sofrem de racismo, exclusão, marginalização e violência estrutural e institucional com consequências letais em muitos casos.”
Além disso, “os afro-brasileiros são excluídos e quase invisíveis das estruturas e instituições de tomada de decisão.”
Para superar essa situação, o Escritório defende reformas urgentes de leis, instituições e políticas, incluindo ações afirmativas.
Além disso, “os estereótipos raciais profundamente enraizados, inclusive entre os funcionários da polícia e do judiciário, devem ser combatidos.”
As autoridades devem intensificar a educação em direitos humanos, a fim de promover uma melhor compreensão das raízes do racismo, e fazer um maior esforço para incentivar o respeito à diversidade e ao multiculturalismo. Devem ainda promover um conhecimento mais profundo da cultura e história dos afro-brasileiros, bem como da sua contribuição para a sociedade brasileira.
Embora o Estado tenha o dever de prevenir e reparar as violações dos direitos humanos, para a ONU as empresas também têm a responsabilidade de respeitar os direitos humanos em todas as suas operações e relações comerciais.
Essa responsabilidade exige que uma empresa tome medidas para prevenir, identificar e mitigar riscos de direitos humanos, inclusive na contratação de segurança privada.
A porta-voz contou que o supermercado Carrefour, onde o crime ocorreu, é um membro do Pacto Global da ONU e já rescindiu o contrato com a empresa de segurança privada em questão.
Apesar desses passos, Shamdasani disse que o Carrefour “deve explicar se, e como, avaliou os riscos para os direitos humanos associados à contratação da empresa e que medidas tomou para mitigar tais riscos a fim de prevenir uma tragédia como esta.”
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