Foto: G1DF
Dona de salão, Adriana recorria ao alisamento e se inspirou na própria história para montar workshop 'Mães que Curam'; veja como participar.
Por Maria Ferreira*-g1df - 23/05/2019 - 08:49:51
Da cabeça de onde saem vários caracóis enroladinhos também surge um produto chamado rejeição. "O preconceito em relação aos cabelos crespos e cacheados faz com que as crianças acabem querendo alisar as madeixas desde pequenas."
Quem afirma é a cabeleireira Adriana Ribeiro, que desde menina alisava o cabelo. Mas a experiência de quem também usou muita química nas clientes, ao longo da profissão, fez com que a moradora do Distrito Federal descobrisse que não precisava anular suas raízes para sentir-se bonita.
"O adulto é quem cria o preconceito, ele não se aceita e passa isso para a criança. Como vou cultivar uma coisa que eu não gosto?"
Foi para dividir o que aprendeu sobre a beleza do próprio cabelo que Adriana criou o “Workshop Mães que Curam”, um mini-curso gratuito pela internet (saiba mais abaixo).
Durante os encontros online, os pais aprendem desde os cuidados que devem ter com os cabelos cacheados dos filhos, até noções de autoaceitação e de como lidar com o preconceito. O workshop também é aberto para quem quer aprender mais sobre tratamentos e aceitação dos fios.
Preconceito enraizado
Segundo a pesquisadora e doutora em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB) Kelly Quirino, o preconceito está enraizado na cultura social e tem base em um padrão europeu de beleza. "Tudo que é diferente deste padrão, é feio", afirma a professora.
“Entender que o nariz largo, a pele escura e o cabelo cacheado são belos é fundamental para que o empoderamento ocorra.”
Fernanda Silva conta que encontrou na filha, Sophia, de 4 anos, os motivos para esse empoderamento. Foi por causa da menina que ela deixou de alisar o cabelo.
O resultado foi que Sophia ama seus cachos. Com um sorriso no rosto, a pequena fala sobre o cabelo, cheia de orgulh.
Mãe e filha se empoderam por meio do cabelo cacheado no DF
Para a pesquisadora Kelly Quirino, além do racismo, o cabelo crespo é percebido como um enfrentamento. "Alguns sentem-se até agredidos", diz a professora quando se refere, principalmente, às novas gerações que assumem seus "cabelos armados".
“O empoderamento que se tem dado para a nova geração é o que tem feito com que ela enfrente o sistema.”
O processo de aceitação ou não do cabelo passa de mãe para filha, afirma a especialista. "Muitas vezes as mães não aprenderam a perceber a beleza do próprio cabelo. Mas quando elas começam a entender esse processo – por meio da leitura ou de atrizes negras em que elas se veem representadas – os padrões começam a mudar".
A cabeleireira Adriana Ribeiro percebeu, por experiência própria, a necessidade de atuar diretamente com as mães. Como ela alisava os cabelos, a filha caçula também quis usar produtos químicos e ficar igual a mãe.
"Ela estava sofrendo porque queria um cabelo que nunca ia ter. Então, entramos juntas em um processo de transição. Pra mim, ela é uma referência de liberdade."
A empresária conta que outra motivação para criar o workshop veio da infância. A mãe de Adriana tinha dificuldade na hora de cuidar dos cachos da filha. Por isso, explica, vieram os problemas com a auto-estima pelo "cabelo ruim".
Adriana ainda afirma que a "cura" tem que partir dos pais e de quem está próximo da criança.
Workshop Mães Que Curam
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Sob supervisão de Maria Helena Martinho*
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