Trump dá 'tiro no pé' com taxações e sai com fama de 'amarelão', afirmam especialistas

Trump colocou a família Bolsonaro na linha de fogo e facilitou a vida de Lula e do PT.

Trump dá 'tiro no pé' com taxações e sai com fama de 'amarelão', afirmam especialistas
Trump dá 'tiro no pé' com taxações e sai com fama de 'amarelão', afirmam especialistas

Agência Sputnik Brasil - 12/07/2025 10:47:16 | Foto: Reprodução Agência Sputnik Brasil

Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas garantem que política econômica do atual mandatário dos Estados Unidos é mais prejudicial para o próprio país do que para outras nações.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou uma carta ao governo brasileiro em que anuncia a intenção de aplicar tarifas de importação de 50% contra o país, em contraste com os 10% divulgados anteriormente. Dentre os motivos estão a proeminência brasileira no BRICS e o processo judicial que corre contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

A ação do mandatário, porém, não repercutiu bem internamente e ao redor do mundo, com críticas de especialistas e da imprensa global.

O governo do Brasil, por sua vez, garantiu que deseja negociar com os EUA para extinguir essas taxas. Todavia, caso não alcance um acordo, pretende estabelecer reciprocidade econômica a Washington.

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Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas afirmam que a política comercial de Trump prejudica mais os Estados Unidos do que os países taxados. Além dos fatores financeiros, o presidente dos EUA ganha fama de "amarelão" internamente toda vez que retrocede nessas ações unilaterais.

Lier Pires Ferreira, pesquisador do Núcleo de Estudos dos Países BRICS (NuBRICS) da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma que foi um "tiro no pé" de Trump esse tarifaço contra o Brasil, provocando a união de todas as vertentes políticas do país, que vive há quase uma década a polarização entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva.

"Está na cara que esse tarifaço do Trump foi um tiro no pé. A própria oposição política bolsonarista, centralista, do centrão brasileiro, está reconhecendo isso. Nós vimos, por exemplo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que é um pretenso candidato à presidência em 2026, no primeiro momento fazer uma crítica ao Lula e depois recuar, fazendo um mea culpa."

Para Ferreira, a grande motivação do mandatário estadunidense para a taxação é o alinhamento cada vez maior do Brasil com o BRICS e o Sul Global como um todo. A briga pelo multilateralismo internacional, com Lula como uma das principais vozes, deixa Washington em posição de desvantagem, em uma situação na qual não tem "o poder que teve no passado".

"Donald Trump está bastante emparedado, encurralado, e tenta responder isso com demonstrações unilaterais de exercício primário, primitivo, de poder, mas vai encontrando reações."

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O analista internacional e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás (PPGH/UFG) João Paulo Arias também aponta a ligação brasileira com o Sul Global como um estopim para as ações de Trump, em especial a parceria econômica do Brasil com a China. Porém, o entrevistado questiona: o presidente dos EUA vai levar a bravata adiante?

"Se é oficial essa taxação, Trump deve mandar um documento oficial diplomático para o Itamaraty, mas a representação diplomática brasileira não recebeu. O que é isso? Uma diplomacia do espetáculo?"

Nos Estados Unidos, críticos ao presidente Trump criaram um acrônimo para resumir sua tática de negociação: TACO ("Trump Always Chickens Out", ou "Trump sempre amarela", em tradução livre).

Desde que anunciou as tarifas do chamado Dia da Libertação, a Casa Branca voltou atrás ou adiou a implementação das novas taxas. O apelido, contudo, acabou sendo extrapolado para suas políticas no geral, com grandes falas inflamatórias e recuos pouco tempo depois.

Na opinião de Arias, a resposta de Lula ao tarifaço impulsiona a popularidade do presidente brasileiro e pode dar mais robustez a um quarto mandato do petista.

"A taxação vai ser péssima não só para o bolsonarismo, como vai ser ótima para o Lula, porque ele vai conseguir capitalizar todo o sentimento antiamericano, vai conseguir capitalizar politicamente esse mito que existe na América Latina da interferência imperialista americana."

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Diplomacia da chantagem e do imperialismo

O Brasil construiu, ao longo de centenas de anos, uma diplomacia que preza pelo diálogo e pela boa relação, tanto com vizinhos quanto com nações distantes e com culturas distintas da brasileira.

Esse ponto é ressaltado por Ferreira, que reforça que o Itamaraty é "capaz de estabelecer pontes entre diferentes países do mundo e atuar de modo proativo em diferentes cenários sensíveis". Por outro lado, o especialista classifica as ações econômicas do governo Trump como a "diplomacia da chantagem".

"Nós estamos falando de uma diplomacia da chantagem, de um elemento de retaliação absolutamente oposto ao arrepio da governança global, das organizações multilaterais, do próprio direito internacional. Essa sanção é, ao mesmo tempo, ilegal e imoral. Ela apresenta a perspectiva de uma intervenção imperialista direta, agressiva, violenta, em cima de um país que, tradicionalmente, é aliado estratégico dos EUA."

Sobre as alegações de que Bolsonaro estaria sendo perseguido politicamente no Brasil, Arias destaca que o Brasil não é uma "república das bananas", e que esse tipo de afirmação de Trump não gera qualquer tipo de pressão interna no país.

"O Brasil é um país soberano. Quem julga os crimes cometidos dentro do Brasil é o Supremo, não o Trump. Ele tentar impor uma lei que vai decidir o que acontece juridicamente dentro do Brasil é intervenção, imperialismo."

Ambos os especialistas acreditam que as taxações vão se voltar contra Trump a partir do momento em que o preço dos alimentos nos EUA subirem, como café, chocolate, frango e ovo.

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Brasil se afasta cada vez mais dos EUA

Por mais que o Itamaraty pretenda negociar com os norte-americanos sobre essa nova rodada de taxação, Lula disse, em entrevista à TV Globo, que buscará abrir novos caminhos para a exportação de produtos brasileiros.

"Nós vamos criar uma comissão de negociação juntando empresários e o governo. Vamos ver quais são as decisões, quem é afetado, como vai ser afetado, como a gente pode procurar novos mercados. E eu mesmo vou procurar novos mercados para os produtos brasileiros."

Para Ferreira, o alinhamento brasileiro com os países do BRICS é um dos sinais da "busca de novas oportunidades de desenvolvimento e inserção internacional" do país no "contexto de uma ordem internacional em transição". No entanto, o especialista reforça que o objetivo do BRICS não é ser disruptivo ao sistema, mas um elemento de reforma.

"O que o BRICS quer não é uma nova ordem internacional absolutamente diversa daquela que está posta desde o segundo pós-guerra. Muito pelo contrário, o que o BRICS quer é ampliar a participação do Sul Global […] dentro de instituições políticas e econômicas."

Arias, por sua vez, vê diversas oportunidades de destino para as exportações brasileiras, caso as relações com os Estados Unidos esfriem mais. Além do próprio mercado interno, o especialista aponta o Mercosul, a União Europeia e, claro, os países-membros e parceiros do BRICS como possíveis alvos das mercadorias nacionais.

Outro ponto para o entrevistado que deve ser destacado como algo benéfico para Brasília é o momento positivo da nação diante da economia global.

"Lembrar que o Brasil é um dos poucos países do mundo que tem crescimento positivo do produto interno bruto [PIB]. A gente está na recessão global, mas o Brasil está crescendo."

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