Rio De Janeiro, 1º Dez Agência Xinhua Brasil - 03/12/2025 10:09:51 | Foto: Rio de Janeiro, 1º dez Agência Xinhua Brasil
Um projeto pioneiro de mapeamento realizado por pesquisadores brasileiros revelou a extensão das áreas livres de gelo na Antártica e, pela primeira vez, forneceu uma visão geral da distribuição e da saúde da vegetação no continente mais austral, anunciou nesta segunda-feira projeto MapBiomas Antártica.
De acordo com o estudo, menos de um por cento do território antártico está livre de gelo: 2,4 milhões de hectares, dos quais apenas 107 mil hectares possuem cobertura vegetal durante o verão austral. Esta é a primeira medição detalhada tanto das áreas livres de gelo quanto da cobertura vegetal no continente, considerado uma reserva natural internacional dedicada à pesquisa científica.
O trabalho foi realizado por uma iniciativa científica brasileira utilizando imagens de satélite combinadas com algoritmos de aprendizado de máquina e processamento em nuvem devido ao grande volume de dados. Segundo a pesquisadora Eliana Fonseca, coordenadora do mapeamento, compreender a dinâmica natural do continente é fundamental para avaliar os efeitos locais das mudanças climáticas e seus impactos globais. "O mapa de áreas livres de gelo é essencial para o monitoramento da fauna do continente, já que as espécies animais nidificam e eclodem nessas áreas durante o verão. O mapa da vegetação, por sua vez, fornece informações essenciais para avaliar a produtividade do ecossistema, permitindo-nos monitorar mudanças ambientais e regiões sensíveis", explicou.
Para estudar a flora, os pesquisadores utilizaram um indicador de sensoriamento remoto calculado a partir de imagens de satélite que permite analisar a saúde e a densidade da vegetação. "Durante o verão, espécies de musgos, algas terrestres e gramíneas crescem em áreas livres de gelo. Líquens crescem em rochas e podem ser observados não apenas em áreas costeiras, mas também no interior", explicou Fonseca.
O estudo também encontrou semelhanças entre as formações vegetais da Antártica e do Brasil. Líquens, musgos e algas terrestres - classificados como crostas biológicas do solo - também aparecem em biomas brasileiros como o Pampa e a Caatinga, onde fornecem cobertura vegetal em áreas de vegetação esparsa. As gramíneas, por sua vez, estão entre as plantas pioneiras e estão presentes em todos os biomas do país.
A Antártida exerce influência direta sobre o clima de todo o Hemisfério Sul e é considerada a origem das frentes frias que afetam os padrões de precipitação. "O contraste entre as massas de ar frio e seco vindas da Antártida e a massa de ar quente e úmido que se forma sobre o Brasil influencia diretamente a precipitação, tanto em volume quanto em frequência", afirmou a pesquisadora. Segundo ela, frentes frias muito intensas podem baixar as temperaturas até mesmo nos estados das regiões Centro-Oeste e Norte.
A equipe observou que o estudo só foi possível após a colocação dos satélites Sentinel-2 em órbita polar, capazes de capturar imagens de alta resolução com ampla cobertura. Entre 2017 e 2025, as imagens só puderam registrar áreas livres de gelo entre dezembro e março, período em que o Hemisfério Sul recebe a maior quantidade de luz solar. Durante esse período, ocorre também o fenômeno do "sol da meia-noite", quando o sol parece circundar o continente e projeta extensas sombras sobre as cadeias montanhosas do interior.
A coordenadora científica do MapBiomas, Júlia Shimbo, enfatizou que esta é apenas a primeira versão do mapeamento. "Esperamos que as futuras coletas envolvam mais cientistas e grupos de pesquisa da Antártica, trazendo não apenas melhorias no mapeamento de áreas livres de gelo e com vegetação, mas também adicionando outras variáveis", afirmou.



















