Phillippe Watanabe, Bogotá, Colômbia (folhapress) - 18/11/2025 10:46:44 | Foto: Imagem/Reprodução: Forbes
Nas COPs, as conferências da ONU para mudanças climáticas, a presença da ciência do clima sempre pôde ser sentida junto, claro, às negociações internacionais e aos interesses de poderosos setores da economia -sim, estamos olhando para você, petróleo. A COP30, em Belém, no Pará, resolveu, então, materializar a ciência em um pavilhão, o primeiro do tipo na cúpula climática das Nações Unidas, liderado por referências mundiais na ciência.
O pavilhão da Ciência Planetária, que fica na zona azul da conferência, onde se concentram os estandes dos países e as negociações, começou a tomar forma a partir de uma ideia do cientista brasileira Carlos Nobre, membro do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), e de Johan Rockström, diretor do Potsdam Institute for Climate Impact Research, que, no primeiro dia de COP30, fez fortes declarações sobre o cenário climático que está se desenhando em nosso horizonte.
A possibilidade agradou a André Corrêa do Lago, presidente da COP30, e a Ana Toni, diretora-executiva da conferência, e foi para frente.
Em 11 de julho, Lago enviou uma carta para Rockström dando as boas vindas ao espaço "com o objetivo de ampliar a presença e a voz da ciência nas negociações".
A partir daí, os pesquisadores tiveram que correr atrás da ONU para conseguir as autorizações necessárias para o espaço. Além disso, segundo Nobre, tiveram que levantar US$ 1 milhão para concretizar o pavilhão.
Lago diz, na carta, que o objetivo do novo pavilhão é ampliar o escopo do pavilhão já existente do IPCC/OMM (painel científico da ONU e Organização Meteorológica Mundial), que, logicamente, também tem um perfil mais científico em comparação aos inúmeros pavilhões de países e entidades.
Nobre, que também é membro da ABC (Academia Brasileira de Ciências), diz que, enquanto o pavilhão do IPCC é muito voltado aos relatórios produzidos por esse braço da ONU, o espaço de Ciência Planetária acaba tendo conteúdo mais amplo. A programação do novo pavilhão é composta por dias temáticos. O site do local aponta diretamente para material de referência de ciência climática.
O local também serve para apresentação de estudos recém-publicados. Nesta quinta-feira (13), por exemplo, ocorreu a apresentação do Global Carbon Budget 2025.
Nobre afirma ainda que, além de apresentar a realidade científico-climática atual, o espaço busca apontar soluções para os problemas nos quais a humanidade se meteu com a imensa emissão de gases-estufa.
Voltando à carta de Lago, o presidente da COP pediu que o espaço abrigasse entrevistas coletivas diárias com os tópicos quentes das negociações, além de contar sessões científicas com a presença de pesquisadores e negociadores.
Ainda com poucos dias de atividade, Nobre se mostra otimista com a presença de negociadores no espaço no decorrer da COP30. Aponta também que a forte cobertura da imprensa no evento pode acabar atraindo ainda mais atenção, público e negociadores para o pavilhão.
Já partiu do pavilhão, inclusive, uma manifestação, nesta sexta-feira (14), afirmando ser inaceitável que as emissões de gases-estufa em 2025 estejam projetadas para ser superiores às de 2024, que já foram recorde.
"A ciência mostra que precisamos de, no mínimo, 5% de redução de emissões por ano, começando agora. Infelizmente, as promessas atuais equivalem a uma redução total de 5% em dez anos", diz, em declaração conjunta, um time de pesos-pesados da ciência climática, entre eles Nobre, Rockström, Thelma Krug (ex-vice-presidente do IPCC e presidente do Sistema de Observação Global do Clima) e Paulo Artaxo (membro do IPCC e pesquisador da USP).
O documento germinado no pavilhão destaca ainda que, apesar da urgência atual, há países na COP e no IPCC se esforçando para separar ciência e negociação. Os cientistas apontam a necessidade de uma eliminação rápida dos combustíveis fósseis.
"Estamos vendo a ciência ser apagada dos textos, e isso faz parte de uma estratégia mais ampla de atraso e negação", escrevem os autores da carta. "À medida que os negociadores se reúnem nas próximas horas e dias, desenvolver caminhos para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis deve ser a prioridade. É a única opção para evitar uma crise planetária."
O pavilhão recebeu apoio, entre outros locais, do Potsdam Institute for Climate Impact Research, da Universidade de Exeter, do Painel Científico para a Amazônia, do Instituto Arapyaú, da Bloomberg Philanthropies, da The David and Lucile Packard Foundation, da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), da Global Challenges Foundation, da Mandalah, do Planetary Guardians, da The Robertson Foundation, da The Rockefeller Foundation, do Instituto Serrapilheira, do Instituto Tecnológico Vale, da Vivo e de We Don't Have Time.


















