Ruídos que desviam o olhar do essencial, que deformam o sentido do informar
                    
                        
                    Por Edson Sombra - 03/11/2025 11:17:22 | Foto: © JOÉDSON ALVES/AGÊNCIA BRASIL
Causa reflexão - e até uma certa inquietação - os rumos do jornalismo. Vivemos num tempo de pressa e até mesmo falta de compromisso de alguns profissionais. De superficialidade. De influenciadores de egos inflados. Em meio a tudo isso, o volume de informações que circula todos os dias nos enche de manchetes apressadas, análises rasas, textos que parecem dizer muito, mas que, ao final, nada dizem e quando dizem procuram falsear a verdade.
O fluxo de matérias que, à primeira vista, parecem denúncias, revelações ou “novidades bombásticas”, na prática, são ruídos. Ruídos que desviam o olhar do essencial, que deformam o sentido do informar. Por exemplo: alguém tem dúvida de que, em meio a disputa de uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) - uma das cadeiras mais cobiçadas no Brasil -, seria mais válido conhecer currículos ilibados do que saber sobre honorários recebidos por um dos postulantes, de forma legal, dentro da lei?
Na última semana, a corrida por holofotes e a ânsia de se tornar importante, gerou até factoides usando a Operação Caixa de Pandora, investigação deflagrada em 27 de novembro de 2009 escancarando um esquema de corrupção no Governo do Distrito Federal, um dos maiores escândalos do Brasil e que, salvo melhor juizo, foi exaurida por investigaçōes, denúncias, absolviçōes e condenaçōes em várias instâncias judiciais.
Neste paradoxo, o que tem ganhado destaque em muitas matérias que se dizem “jornalísticas” não é o cerne do problema, mas um recorte mínimo, uma anotação, um dado lateral: algo que, isoladamente, comunica pouco ou quase nada. E então me pergunto: para quê e para quem esse tipo de “notícia” é produzida? A quem interessa a disseminação desse tipo de conteúdo?
É claro que não se trata de inocência. Não há inocentes no mundo dos sonhos onde há uma luta entre os que sonham em ser os “influenciadores do momento” e entre os que sonham em jogar o xadrez da vida, que acham que movimentar peças será capaz de mudar destinos. Destinos de alguém, de um povo, de um país inteiro. Afinal, é assim que nascem as “organizações”, se é que estou me fazendo entender: alguém manda, alguém obedece e todo o resto é manipulado.                                                    
Há uma engrenagem por trás da guerra dos sonhos. Uma máquina de conveniências, de disputas políticas, de egos e vaidades. São notícias que não informam, mas servem a alguém. São textos que não explicam, mas atacam. São reportagens que não esclarecem, apenas insinuam. Tudo muito bem calculado, “organizado”, como se a irrelevância tivesse se tornado estratégia: as pautas surgem do nada, ganham corpo, tomam espaço nas manchetes e, de repente, desaparecem, apenas deixam suspeitas. Quase sempre, para atingir alguém. De repente aparecem em alguma ação judicial tentando inverter fatos, estórias a espera que um juíz caia numa esparrela e satisfaça o interesse de algum meliante.
E a “organização” depende muito do jornalista, ou do veiculo que cede ao impulso de publicar ou repercutir estórias. Eles se transformaram em peças de uma engrenagem, embora não sejam, muitas vezes, os articuladores principais. São apenas o canal. O canal que se expõe ao ego de “fazer-barulho”, “ser visto”, “virar influente”. Seduzidos pelo desejo de “viralizar”, acabam se deixando conduzir por pautas que parecem inofensivas, mas que têm propósitos precisos.
Mas quem realmente puxou o fio? Quem manipulou o ego sabe bem o valor de um texto assinado e publicado, de uma manchete replicada. E o sonho de sentir-se influente torna-se, na verdade, o pesadelo de ser influenciado - embora muitos só percebam isso tarde. Muito tarde. Enquanto os “organizados” por trás das cortinas - políticos, empresários, marqueteiros, consultores de imagem, lobistas - trabalham, ardilosamente, para garantir o adjetivo mal colocado, o recorte de frase, a contextualização enviesada.
É doloroso admitir, mas o jornalismo vem perdendo espaço para o espetáculo. E não porque a verdade tenha deixado de importar, mas porque “os organizados” tornaram o falso mais interessante, usando o sonho de influenciar de muitos. Para eles, o importante é justamente o recorte que omite e insinua que é preciso para que a pedra no tabuleiro de damas seja mexida.
Porque não há nada mais perigoso do que um texto vazio usado com propósito cheio. É tudo o que os “organizados” precisam. Que a irrelevância se torne estratégica, o silêncio se disfarce de denúncia, e o suposto “informar” vire apenas a ponta visível de um jogo de interesses. A organização é quem ganha com isso, enquanto aqueles que apostaram no sonho de se tornarem influentes no mundo de influenciadores se resumem à assinatura no texto.
Todo o jogo é feito, pensado e organizado para sustentar a vaidade ou a maldade de alguns. Quem escreve ou publica acreditando estar influenciando o mundo, na verdade, está sendo usado para movimentar engrenagens que desconhece. E não estou dizendo que o jornalismo perdeu a importância. Jamais! O jornalismo continua sendo uma ferramenta poderosa.
Mas, quem está segurando o cabo desta arma? Quem se beneficia da desmoralização de alguém ou de alguma instituição ou quem aproveita-se do próprio ato de escrever para se sentir “influente”, “importante”, “virar notícia”? Quantos “detalhes simbólicos” ainda vão ser manchetes antes que se perceba o real problema? E quantos jornalistas ainda vão se deixar usar sem perceber quem, de fato, está conduzindo a narrativa?
Talvez ainda haja tempo de resgatar o sentido primeiro do jornalismo: servir à verdade, e não aos interesses de quem a manipula. Porque influenciar é passageiro. Informar com verdade, esse sim, é o sonho que muda destinos.
Para finalizar desejo a todos uma boa semana.
Edson Sombra.
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