Por João Lara Mesquita - Mar Sem Fim / Estadão Conteúdo - 01/02/2021 - 15:17:24
Os últimos seis anos estão entre os mais quentes de todos os tempos. Mas os recordes aconteceram em 2016 e 2020. Nada de muito novo no front. Mas é preciso lembrar que a economia mundial quase parou em 2020, o que significa que menos combustíveis fósseis foram usados, um dos vilões do aquecimento. Mesmo assim, o aquecimento global em 2020 foi recorde igualando-se ao de 2016.
De acordo com o Copernicus , programa da União Europeia, a temperatura média global em 2020 foi 1,25 graus Celsius mais quente do que a média de 1850 a 1900, antes do aumento das emissões da industrialização. A média de 2020 foi ligeiramente inferior à média de 2016. Mas a diferença é muito pequena para ser significativa.
Freja Vamborg, cientista sênior do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus , declarou ao New York Times que este é mais um lembrete de que as temperaturas estão mudando.
e continuarão a mudar se não reduzirmos as emissões de gases de efeito estufa
Isso explica, em parte, a quantidade e intensidade dos incêndios mundo afora em 2020 . Eles aconteceram em quase todos os cantos do planeta. No Brasil as maiores vítimas foram a Amazônia, o Pantanal, São Paulo, e Paraná. Nos Estados Unidos, os incêndios custaram caríssimo para a Califórnia e o Colorado.
E até na Síria houve incêndios desproporcionais.
Segundo o New York Times , ‘algumas regiões experimentaram um aquecimento excepcional. Pelo segundo ano consecutivo, a Europa teve seu ano mais quente de todos os tempos. O continente sofreu com ondas de calor mortais. A diferença de temperatura entre 2020 e 2019 foi impressionante: 2020 foi de 0,4 graus Celsius mais quente’.
Segundo o Times , ‘embora não sejam tão drásticas quanto na Europa, as temperaturas na América do Norte também estão acima da média. O aquecimento desempenhou um papel crítico na seca generalizada que afetou a maior parte da metade ocidental dos Estados Unidos. E nos intensos incêndios florestais que devastaram a Califórnia e o Colorado’.
Talvez o que mais impressione os cientistas é o que acontece na calota polar do Ártico que esquenta ao dobro da taxa média do resto do planeta .
Isso é preocupante pelo fato de que, com superfícies menores de gelo, mais quente fica o planeta. A cor branca reflete de volta para a atmosfera os raios de sol. Com a diminuição da calota de gelo, os raios solares esquentam ainda mais a Terra.
A matéria do NYT confirma: ‘O Ártico está esquentando muito mais rápido do que em outros lugares. As temperaturas médias em algumas partes ficaram 6º Celsius mais altas no ano passado do que a média da linha de base de 1981 a 2010’.
‘No Ártico, e especialmente em partes da Sibéria, as condições anormalmente quentes persistiram durante a maior parte do ano. O calor levou à secagem da vegetação que, na Sibéria, ajudou a alimentar uma das mais intensas temporadas de incêndios florestais da história’.
O hemisfério Sul contou com a ajuda do fenômeno La Ninã (esfriamento das águas do Pacífico) o que tornou esta parte do mundo quase uma exceção. NYT: ‘partes do hemisfério sul experimentaram temperaturas mais baixas do que a média, possivelmente como resultado da chegada das condições de La Niña no segundo semestre de 2020’.
Isso reforça o que já dissemos em post recente sobre os efeitos da diminuição da floresta Amazônica. Ela implica em menos chuvas no Brasil Central. O drama da Amazônia contribuiu para as queimadas sem precedentes no Pantanal .
Mas, segundo cientistas, os efeitos do La Niña em 2020 serão percebidos de forma mais aguda neste ano que começa. Portanto, 2021 tende a ser ainda mais quente.
A despeito disso, as temperaturas globais de 2020 impressionaram. Em 2016 o calor da Terra foi acentuado pelo efeito do fenômeno contrário ao La Niña, o El Niño , que esquenta as águas do maior dos oceanos.
Zeke Hausfather, cientista da Berkeley Earth , disse ao Times que ficou impressionado que 2020 igualasse 2016 ‘porque o calor recorde daquele ano foi alimentado pelo El Niño, quando o aquecimento da superfície do Pacífico tende a sobrecarregar as temperaturas globais’.
Os dados trazidos pelo programa Copernicus são preocupantes, mas ainda faltam as análises da Berkeley Earth , programadas para o início de fevereiro. Além dos da NOAA, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional , e os da NASA , também programados para breve.
Mas, como pontua o NYT ‘apesar das diferenças (das análises de cada órgão), os resultados tendem a ser muito semelhantes’.
O Acordo de Paris, agora reforçado com a eleição de Joe Biden , previa esforços para que a temperatura mundial não suba mais que 2ºC até o fim deste século. Estamos nos aproximando deste patamar, mas ainda há tempo para mitigar o aquecimento desde que cada um faça sua parte. É o mesmo que acontece na pandemia da covid-19. Ou cada um faz sua parte, ou as mortes continuarão. Não há alternativa.
Imagem de abertura : Sean Gallup / Getty Images
Fonte : https://www.nytimes.com/2021/01/08/climate/hottest-year-ever.html?campaign_id=54&emc=edit_clim_20210113&instance_id=25971&nl=climate-fwd%3A®i_id=91955602&segment_id=49210&te=1&user_id=b71b4a33397786aaa2444aad1304ea43.
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