Bali, Indonésia, ‘paraíso’ ou depósito de lixo plástico?
Por João Lara Mesquita - Mar Sem Fim - 01/12/2020 17:23:09 | Foto: National Geographic
Um dos vícios da indústria do turismo é batizar parte dos litorais do planeta como ‘paraíso’, às vezes vão além, ‘paraíso intocado’. Quantas vezes já vi isso em papéis de agências de turismo ou, mais recentemente, nas páginas da internet? Perdi a conta. São inúmeras as praias assim batizadas. Mas neste mundo superpopuloso continuar nesta toada é quase um ato criminoso. No mínimo, é enganador. Bali, Indonésia, ‘paraíso’ ou depósito de lixo plástico?
Uma das regiões que recebeu esta alcunha é a ilha de Bali, Indonésia; na verdade, hoje, um ‘paraíso’ de lixo plástico. Até um ícone do jornalismo mundial como a National Geographic ainda utiliza o adjetivo, mesmo ao publicar matéria que mostra como Bali se transfigurou nos últimos tempos.
“Qual é a primeira coisa que vem à mente quando se fala em Bali? Provavelmente, as praias lindas e intocadas da região. Contudo o que aparece com cada vez mais frequência nas praias dessa paradisíaca ilha do arquipélago indonésio não são conchas, mas lixo plástico.”
Praias intocadas?
A matéria foi publicada em novembro de 2019 com o título Bali luta para conservar suas lindas praias repensando o lixo plástico . Na verdade, o que Bali mais quer é se ver livre do entulho e assim manter os recursos do turismo, uma das atividades que mais empregos gera, e das que mais cresce no mundo (um mundo sem pandemia).
Bali, Indonésia, ‘paraíso’ ou depósito de lixo?
O problema é mundial e não se resume apenas à praias, mas ao meio ambiente marítimo e terrestre. Já comentamos inúmeras vezes os problemas, e também as virtudes, do material. A invenção do plástico , nos anos 50 do século passado, contribuiu demais com a humanidade. Mas hoje sabe-se que ele nos trouxe um novo problema: como nos livrarmos do plástico usado?
O material é onipresente. Eu mesmo já fiz o possível para usar menos plástico. Mas jamais consegui algo a mais que migalhas. Olhando em volta de onde escrevo me vejo cercado.
Das teclas do computador onde escrevo, às canetas que ficam em volta para anotações. Sem falar no frasco de álcool em gel, das capas dos fios que saem da tomada e mantém vivo meu computador, do mouse que uso para clicar aqui ou ali.
Vivemos uma pandemia de plástico. E Bali não é exceção, é a regra do nosso mundo. Pior, a reciclagem de plástico é quase impossível como já demonstramos. De todo o plástico produzido no mundo, em 65 anos desde a sua invenção, apenas 9% foi reciclado.
NG: “Em um estudo de 2015 publicado na revista científica Science sobre os 20 países com a pior gestão de lixo plástico, a Indonésia apareceu em segundo lugar. O país gerou 3,2 milhões de toneladas de plástico em 2010, e quase metade disso acabou no mar.”
“A China ficou na primeira posição; os Estados Unidos, na vigésima. O governo indonésio apresentou à National Geographic números um tanto menores que os informados no estudo, mas a conclusão é a mesma: a maior parte do lixo plástico não é bem gerida na Indonésia.”
O plástico hoje é um problema mundial. O tema é debatido por grande parte dos países e organizações mundiais como a ONU. E parece que tudo que conseguimos é banir, em alguns lugares, as sacolas e canudinhos de plástico. É muito pouco para uma humanidade que se preparara para colonizar Marte .
NG : “Bali vem tentando enfrentar seu problema com o plástico e, nesse esforço, produziu alguns exemplos dignos de menção. No fim de 2018, o governador balinês Wayan Koster anunciou a proibição de sacolas plásticas, poliestireno e canudos plásticos.”
“O governo indonésio prometeu reduzir o lixo plástico marinho em 70% até 2025. O governo balinês, por sua vez, está transformando o maior aterro sanitário da ilha, o aterro de Suwung, de 32 hectares, localizado na capital Denpasar, em um parque ecológico e uma usina de geração de energia a partir de esgoto e lixo.”
Mesmo que Bali avance em suas metas publicadas pela National Geographic , isso está tão distante de acabar o problema como a distância da Terra ao planeta a que pretendemos chegar. Já fizemos matéria mostrando os litorais mais imundos do planeta . Quase todos ficam na Ásia, apesar do problema estar longe de ser asiático.
No Brasil nem é bom falar. Basta ver o que acontece em cada virada do ano nas praias ‘paradisíacas’ que temos. É de dar nojo. Isso sugere que enquanto todos os governos do mundo não se unirem para acharem uma solução o problema tende a aumentar até sermos engolidos por nossos rejeitos diários.
NG : “A recente proibição das sacolas plásticas descartáveis pelo governo levantou objeções por parte dos produtores indonésios de plástico, preocupados com o freio que a proibição pode colocar no setor. Os produtores estão convencidos de que a gestão de resíduos precisa ser melhorada, além da redução do uso.”
Aqui há um ponto de concordância com o que já lemos e estudamos sobre o assunto. A redução do uso é obrigação de cada cidadão consciente, e respectivos governos. Mas a indústria do plástico não pode continuar a se eximir como se o problema fosse apenas de cidadãos e governos.
Ela é parte importante do problema e, como todos, tem necessariamente que dar a sua contribuição. Mas, até hoje, ainda não vimos quase nenhuma ação por parte da indústria do plástico.
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