Chances de transmissão da covid pelo ar elevam risco do afrouxamento da quarentena

Comunidade global acende o alerta para riscos crescentes de contaminação, mas Brasil segue com isolamento enfraquecido

Chances de transmissão da covid pelo ar elevam risco do afrouxamento da quarentena
Chances de transmissão da covid pelo ar elevam risco do afrouxamento da quarentena

Nara Lacerda - Brasil De Fato - 13/07/2020 18:42:55 | Foto: Pixabay

A gente não sabe até quando isso vai e a situação é muito preocupante

A descoberta mais comentada desta semana sobre o comportamento do novo coronavírus veio de um grupo de cientistas que levantaram a possibilidade de transmissão da covid-19 pelo ar. A divulgação de uma carta, assinada por 239 pesquisadores do mundo, no domingo (5), acendeu o alerta. O grupo pedia que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reavaliasse as recomendações e cuidados para combate à propagação e levasse em consideração a possibilidade de infecção pelo ar.

No documento, os especialistas apelavam aos governos para novas medidas, principalmente em locais fechados e com pouca circulação de ar. O risco, de acordo com os cientistas, existe até mesmo se for mantida a distância de dois metros entre as pessoas nesses ambientes. A resposta inicial da OMS veio na terça-feira (7), quando a organização afirmou que havia evidências para as afirmações do grupo de pesquisadores, mas ponderou que o assunto estava em análise.

Bastaram dois dias para que órgão oficializasse a possibilidade. Na quinta-feira (9), um informe científico divulgado pela OMS passava a considerar o risco formalmente. A mudança tem impactos consideráveis não só na comunidade científica, mas nas avaliações que precisam ser feitas para retorno de atividades e relaxamento da quarentena. Em uma realidade em que o coronavírus se espalha pelo ar, restaurantes, igrejas, escolas, academias, cinemas e outros ambientes fechados, tornam-se potenciais focos de contágio.

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O risco dos ambientes fechados

A abertura de comércios, serviços e o retorno à normalidade traz ainda mais riscos. Em conversa com o boletim A Covid-19 na Semana, o médico de família Aristóteles Cardona, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, afirma que o momento exige reavaliação urgente das medidas de abertura.

É cada vez mais evidente pela ciência de que são ambientes que podem gerar muito risco.

“Não só esse grupo de pesquisadores, mas outras pesquisas que a gente tem visto, têm chamado atenção para ambientes fechados, que são ambientes onde são gerados muitos conteúdos dessas gotículas que vão pro ar e podem transmitir a doença. O presidente da República, algumas semanas atrás, até tentou colocar academias como um serviço essencial, de modo a pressionar para abrir. Está acontecendo essa flexibilização, essa reabertura e é cada vez mais evidente pela ciência de que são ambientes que podem gerar muito risco. Muita gente pode adoecer a partir daí.”

Foi nesse cenário de alerta para riscos ainda mais potencializados que Jair Bolsonaro divulgou ter sido contaminado pela covid-19. Na terça-feira (7), ele foi a público para confirmar o resultado positivo do exame e, ao conversar com alguns jornalistas, tirou a máscara de proteção. Apesar de ser um comportamento totalmente contraindicado por especialistas da área de saúde, o gesto está alinhado à postura do capitão reformado ao longo de toda a pandemia. Desde as primeiras declarações públicas sobre o coronavírus, ele minimiza os impactos da doença e faz declarações contrárias ao isolamento social.

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Menos de cinco meses após registrar o primeiro caso, o Brasil caminha para a marca de dois milhões de infectados. Em março, o capitão reformado disse que o governo previa 800 mortes por causa do vírus. O Brasil contabiliza hoje mais de 70 mil óbitos.

A gente não sabe até quando isso vai e a situação é muito preocupante.

“O governo brasileiro tem que se responsabilizar. Ninguém tem culpa de vivermos numa pandemia, mas essa pandemia exige que sejam tomadas medidas e aquilo que não é essencial a gente tem que evitar. Os números estão crescendo ainda. A gente não sabe até quando isso vai e a situação é muito preocupante. Apesar desse clima que o governo federal tenta gerar de que as coisas já estão se resolvendo no nosso país.”

Sintomas leves

Na quinta-feira (9), o Ministério da Saúde divulgou uma alteração no protocolo médico para pessoas que sentirem sintomas leves da doença. Agora a recomendação é de que essas pessoas também procurem o médico. A postura tenta evitar que pacientes cheguem ao sistema de saúde já com o quadro grave da doença, o que pode aumentar a ocupação de UTIs e os óbitos.

Nesta edição do boletim " A covid-19 na semana ", Aristóteles Cardona relembrou quais sãos os sintomas que devem causar alerta.

“O que chama atenção são sintomas como febre, dor no corpo, tosse, sensação de cansaço, dor muscular e dor de cabeça. A grande maioria não vai ter sintomas pesados, mas vão precisar usar remédios para dor e febre, repousar, se alimentar bem e beber bastante liquido", explica

O sintoma da falta de ar, ou fôlego curto chama atenção para a possibilidade de uma gravidade normal. Então, o ideal é que a partir desse sintoma, se busque uma unidade hospitalar”, completa o médico.

Edição: Rodrigo Chagas

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