Dados de desmatamento de órgão do próprio governo desmentem discurso de Bolsonaro

Governo federal celebrou redução de cerca de 15% nos alertas emitidos entre agosto de 2020 e abril de 2021, como resultado da ação do Exército na Amazônia

Dados de desmatamento de órgão do próprio governo desmentem discurso de Bolsonaro
Dados de desmatamento de órgão do próprio governo desmentem discurso de Bolsonaro

Brasil De Fato | São Paulo (sp) - 08/05/2021 08:28:58 | Foto: Welington Pedro de Oliveira / Fotos Públicas

Relatório do Inpe mostra que, em abril, alertas de desmatamento subiram 42% em comparação ao mesmo mês do ano anterior

Os alertas de desmatamento na Amazônia Legal no último mês de abril alcançaram o índice mais alto dos últimos seis anos para o período, segundo dados do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

As informações indicam 581 km² de área desmatada, uma alta de 42,5% em relação ao verificado em abril do ano passado, que registrou 407 km² de destruição. Destaca-se o fato que 26% da Amazônia estava coberta de nuvens, portanto, com áreas consideráveis invisíveis ao satélite. Isso significa que o rastro da destruição pode ser ainda maior.

Os novos dados do Inpe colocam em xeque a narrativa do governo federal, que celebrou uma redução de cerca de 15% nos alertas emitidos entre agosto de 2020 e abril de 2021, também em relação ao mesmo período dos anos anteriores. O feito seria conquista da atuação do Exército na Amazônia.

Segundo nota do Observatório do Clima, os alertas têm oscilado mês a mês para cima e para baixo, o que evidencia que não existe uma política consistente contra o desmatamento.

“A queda geral de 15% só apareceu nos dados porque os alertas em julho, agosto e setembro de 2019 foram completamente fora da curva — somente em julho de 2019 uma área equivalente a uma vez e meia a cidade de São Paulo tombou na Amazônia. Em contrapartida, janeiro deste ano teve o menor desmatamento de toda a série do Deter, mesmo sem nenhuma operação de fiscalização realizada, devido a um problema burocrático que atrasou a ida do Ibama a campo”, afirma o posicionamento.

A organização ressalta a denúncia que não há nenhum esforço federal de controle da devastação e que a fiscalização do Ibama está parada devido a inteferências do ministro Ricardo Salles nos procedimentos de autuação.

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O Observatório do Clima pontua que, com a fragilização da investigação e da punição a crimes ambientais, as ações contra o desmatamento dependem quase exclusivamente dos governos estaduais, cujo efetivo e alcance de fiscalização são limitados.

Durante a Cúpula do Clima, realizada em 22 de abril, Bolsonaro fez promessas internacionais de proteção ao meio ambiente brasileiro, mas sua gestão continua avançando sobre a legislação existente.

Um exemplo deste retrocesso é o PL que extingue o licenciamento ambiental, colocado na pauta da Câmara dos Deputados por Arthur Lira (PP-AL), presidente da casa legislativa e da base governista. Caso aprovado, o projeto permitirá que obras altamente danosas para o meio ambiente, como o asfaltamento da BR-319 (Porto Velho-Manaus), sejam feitas sem a necessidade de estudos ambientais.

O Observatório do Clima ressalta que a estação seca na maior parte da Amazônia começa em maio e a partir de junho, quando a tendência da devastação pode ser consolidada.

“Neste momento não é possível afirmar o que acontecerá, mas pode ser que em 2021 ocorra uma inédita quarta alta consecutiva do desmatamento”, alerta a organização ambiental.

Edição: Vinícius Segalla

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