Além de garantir objetivos de curto a longo prazo, introduzir investimentos na rotina de crianças ajuda a formar adultos financeiramente mais conscientes
Isaac De Oliveira/e-investidor/estadio Conteúdo - 12/10/2020 08:33:56 | Foto: Estadão
No Dia das Crianças , em vez de presentear com algo que logo será deixado de lado após algumas semanas, por que não investir em um bem para toda a vida dos pequenos: a educação financeira ? Longe de desmerecer a importância dos presentes para as crianças, inclusive para quem se comportou e mereceu, mas os pais podem e devem dividir essas recompensas com o planejamento financeiro dos filhos, além de ajudá-los a serem protagonistas das próprias finanças.
Davi Estevam, de 10 anos, sonha em um dia ser piloto de carro ou de avião. Apesar da pouca idade, o garoto já tem consciência das dificuldades e dos custos que envolvem esse sonho. Por isso, tem ajuda dos pais para se preparar financeiramente através de investimentos em ações .
“Investir é mais fácil do que eu pensava, mas tem que estudar as empresas para escolher bem”, conta Davi, que começou sua jornada como investidor para garantir a formação profissional no futuro.
Davi é um exemplo de que é possível – e necessário – educar financeiramente as crianças para que a relação com o dinheiro seja um processo contínuo e sadio ao longo da vida. Mas para que o hábito de economizar se inicie ainda na infância é fundamental ter os responsáveis conduzindo este aprendizado.
O comunicador Daniel Carneiro, pai de Davi, explica que o filho já faz alguns trabalhos como modelo, e recentemente a família começou a se organizar para investir na Bolsa de Valores , todos os meses.
“Preferimos as empresas que fazem parte do dia a dia do Davi. Assim ele fica mais familiarizado com os investimentos”, diz Carneiro, que investe em ações de uma varejista de moda e uma locadora de veículos.
Ciente da importância do fator tempo no planejamento, o comunicador explica que o investimento em ações é pensado no longo prazo, conforme recomendam especialistas.
“Com pouco investido todos os meses em grandes empresas, ele vai conseguir ter uma boa quantia quando for maior de idade e não enfrentará as dificuldades que nós enfrentamos”, afirma Carneiro.
“Por que não dar uma ação de uma empresa legal, que faça parte do dia a dia das crianças e um brinquedo?”. A provocação é de Francine Mendes, economista e criadora do canal Mary Poupe .
Uma forma de introduzir a criança na prática do planejamento financeiro é usar os investimentos para a compra do presente, por exemplo. A economista frisa que é preciso dar autonomia aos pequenos, mesmo que de forma supervisionada. Essa não é uma tarefa difícil, considerando que muitas plataformas de investimento têm interfaces intuitivas e algumas até apostam na gamificação.
“As crianças acabam gostando muito. Elas ficam felizes com R$ 3,50, R$ 4 de dividendos . Além de que é importante mostrar o que acontece com o patrimônio, e o valor de ser organizado nas finanças”, comenta Mendes.
A partir dos sete anos, a economista afirma os pequenos já podem começar a fazer as movimentações financeiras sozinhos, mas sempre com o acompanhamento dos pais. É assim que Francine faz com os próprios filhos Lara, de 10 anos, e Luca, de 7 anos.
“A minha mãe começou a investir para mim e depois baixou o aplicativo no celular em meu nome e todos os meses eu pego uma parte da minha mesada e compro pelo menos uma ação”, diz Lara.
Marcos Figueiredo, co-fundador do aplicativo de educação financeira Blu , do banco digital BS2, explica que a independência financeira dos filhos também pode ser adquirida até com ações mais simples, como uma simples compra em dinheiro.
“Os pais devem dar nem que seja R$ 5 para a criança comprar figurinha na banca no final de semana. Mas ela precisa lidar com o dinheiro para aprender como é que funciona essa dinâmica”, diz Figueiredo.
A mesada é um instrumento válido desde que venha atrelado à educação financeira, diz Lúcia Stradiotti, educadora financeira e coach de mães, durante live da Ágora Investimentos. Além do dinheiro em si, que deve ser fixo e de acordo com a renda familiar, ela explica que os pais precisam ensinar os filhos a “pescarem”.
“O que vai realmente ensinar seu filho a fazer boas escolhas no futuro, ensinar sobre consumo consciente, é você, a educação e o conhecimento que vem atrelado à mesada”, destaca Stradiotti.
Uma dica é criar atividades em casa, em que a criança possa ser recompensada por isso, como uma alusão ao trabalho. Contudo, ela destaca que isso não deve ser aplicado nas atividades rotineiras dos cuidados de casa.
A regra para a escolha da classe de ativos para os filhos também pode ser similar a dos pais. O investimento para objetivos de curto e médio prazo podem ser feitos, por exemplo, na renda fixa , seja através de títulos públicos, como o Tesouro Selic , ou de crédito privado, como CDBs , LCIs , LCAs , CRIs e CRAs .
A renda variável é recomendada para planos de longo prazo. Portando, a Bolsa de Valores pode ser uma boa opção, e uma dica é escolher empresas que, de alguma forma, estejam ligadas ao dia a dia das crianças.
Vale lembrar que a fatia do público infanto-juvenil vem crescendo na B3. Em setembro, eram 12.154 pessoas cadastros de pessoas físicas com até 15 anos. Em janeiro deste ano, esse perfil era de 6.617, o que mostra um crescimento superior a 83%.
A Genial Investimentos lançou a Genominha, uma carteira recomendada com alguns ativos, e que os pais podem começar a investir para os filhos. O portfólio sugere os seguintes papéis, ETFs e BDRs : B3 (B3SA3), Iguatemi (IGTA3)-0,46%, Klabin (KLBN11)-2,85%, Lojas Renner (LREN3)-1,53%, Localiza (RENT3), iShares Índice Carbono E ciente (ECOO11), iShares S&P 500 (IVVB11), Activision (ATVI34), Disney Company (DISB34), Mercado Livre (MELI34), Nvidia (NVDC34) e Procter & Gamble Company (P&G) (PGCO34).
O hábito de investir na infância deve se sustentar sobre três pilares: paciência, eleição de prioridades e disciplina, diz a criadora do canal Mary Poupe.
“Com esses valores é possível desde cedo educar as crianças a valorizarem o que realmente importa. Porque investindo elas não valorizam o dinheiro, mas sim o tempo, que é o nosso grande ativo”, explica a economista.
Assim como o planejamento de adultos, os investimentos para o público infantil devem partir sempre da definição de objetivos de curto, médio e longo prazo. Isso é fundamental não só para escolher o melhor tipo de aplicação, como para se criar o hábito de poupar.
“Guardar dinheiro por guardar, só para olhar aquele número aumentando, não tem sentido. Quando se poupa com propósito, para conquistar algum objetivo, isso faz muito mais sentido e você fica muito mais engajado”, alerta Figueiredo.
Parte do trabalho da educação financeira infantil tem a ver com a postergação do consumo. Ou seja, deixar de consumir no presente para consumir no futuro. Com isso, os pais ajudam a desenvolver o controle dos impulsos dos filhos, cada vez mais bombardeados por anúncios nas telas.
“Esse é o maior ganho de uma criança investir, um hábito que ela tem que fazer ao longo de toda a vida. E quanto antes começar a aprender sobre isso, melhor vai ser para ela e mais êxito vai ter na vida”, esclarece Figueiredo.
Após definidos os objetivos, os pais precisam reconhecer qual é o tamanho do orçamento familiar, para determinar o quanto será investido mês a mês para os filhos.
“Recomendo destinar em torno de 5% das receitas da família aos filhos, e fazer esse investimento ao longo do tempo com disciplina e frequência”, sugere Mendes.
Os pais podem também contar com os serviços de plataformas que estão atentas a público infantil. O Blu, por exemplo, oferece uma conta para menores de 18 anos, com cartão mesada. Além disso, o aplicativo ajuda no ensino de educação financeira na prática com conteúdo. Outro exemplo é o Neaglebank , uma conta digital também focada em diversos serviços para o público infanto-juvenil.
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