Atualmente, metade da superfície do Cerrado está ocupada pela produção de animais e grãos.
Agência Xinhua Brasil - 14/09/2023 08:08:31 | Foto: Reprodução Agência Xinhua Brasil
A atenção que a Amazônia brasileira concentra tem feito com que o Cerrado, a savana com maior biodiversidade do mundo e que ocupa 24% do território nacional, sofra com altas taxas de desmatamento e destruição, que inclusive põem em perigo a segurança hídrica do Brasil, alertaram especialistas na última sexta-feira, coincidindo com a celebração do Dia Nacional do Cerrado, que se comemora a cada 11 de setembro.
Presente em 12 estados brasileiros, o Cerrado, que tem uma grande importância para a preservação da fauna, da flora e dos povos nativos, sofre com o avanço da agricultura de exportação.
Enquanto o desmatamento da Amazônia caiu 42,5% entre janeiro e julho deste ano, no Cerrado aumentou 21,7% em comparação com o mesmo período de 2022. Em outras palavras, 582.000 hectares do Cerrado foram desmatados até julho deste ano, uma área semelhante ao tamanho do Distrito Federal. Cada hectare equivale a um campo de futebol.
"Tendemos a nos fixarmos muito na Amazônia e sermos mais permissivos com o que acontece no Cerrado, apesar de o Cerrado ser o berço das águas do Brasil e onde nascem oito das 12 bacias fluviais mais importantes do país," explicou a pesquisadora do Observatório de Matopiba, Patrícia da Silva.
Atualmente, metade da superfície do Cerrado está ocupada pela produção de animais e grãos.
Em 1985, a agricultura ocupava pouco mais de um terço (34%) do bioma, segundo um estudo do instituto MapBiomas. A pesquisa realizada com dados de satélite revelou que entre 1985 e 2022, a savana brasileira perdeu 25% de sua vegetação autóctone por causa do desmatamento.
E a tendência é que o desmatamento continue, já que se espera que a agricultura se expanda no Cerrado nos próximos anos, segundo uma pesquisa do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
O ministério prevê um aumento de 37% da produção de grãos nos próximos dez anos. Como resultado, espera-se que o setor aumente a superfície explorada em 17%, o que representa uma expansão da fronteira agrícola de 1,6 milhão de hectares no período.
Um dos problemas que o desmatamento do Cerrado ocasiona é a falta de água, algo que põe o sistema hídrico brasileiro em situação de ameaça.
Considerado o berço das águas do Brasil, o Cerrado é a fonte dos mananciais de oito das 12 bacias fluviais mais importantes do país, além de ser a segunda maior reserva subterrânea de água do mundo, formada pelos aquíferos Guarani e Urucuia.
A região também fornece cerca de 70% da água do rio São Francisco, 47% da água do rio Paraná, que abastece a central hidrelétrica de Itaipu. Suas águas também são importantes para Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. A informação está em um estudo publicado pela revista científica Sustainability, que assinalava os riscos que o desmatamento do bioma poderia causar para a segurança hídrica e energética do Brasil.
Em uma audiência pública realizada no Senado no final de agosto, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, informou que a pasta está preparando um novo plano de luta contra o desmatamento no Cerrado, que deverá ser submetido a consulta pública neste mês de setembro.
"Levando em conta que mais de 70% do desmatamento que ocorre no Cerrado tem licença para desmatar, o que vamos ter que fazer é, digamos, rever estas licenças para saber até que ponto são legais", afirmou Marina Silva.
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