Eduardo Pazuello e Elcio Franco decretaram a fase final do governo Jair Bolsonaro

Eduardo Pazuello se reuniu com “intermediários” que ofereceram Coronavac

Eduardo Pazuello e Elcio Franco decretaram a fase final do governo Jair Bolsonaro
Eduardo Pazuello e Elcio Franco decretaram a fase final do governo Jair Bolsonaro

Pedro Do Coutto - Tribuna Da Internet - 18/07/2021 08:02:07 | Foto: Tribuna da Internet

As reportagens da GloboNews e da TV Globo na noite de sexta-feira, e da Folha de S.Paulo, do O Globo e do Estado de S.Paulo deste sábado, revelam um episódio totalmente escandaloso ocorrido na gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello, no gabinete do seu diretor imediato Elcio Franco, quando receberam pessoas que se apresentaram como intermediários da Sinovac, empresa chinesa produtora da vacina Coronavac, com a oferta 30 milhões de doses ao preço de US$ 28 a unidade, preço praticamente três vezes superior ao dos demais laboratórios produtores do imunizante.

Um empresário chamado apenas de John, de aparência asiática e falando com sotaque chinês, apresentou-se como parceiro da World Brands. Ao receber uma ligação de Constança Rezende e Mateus Vargas, autores de reportagem publicada ontem pela Folha de S.Paulo, desligou o telefone, cortando a ligação. Os repórteres perguntaram então ao Ministério da Saúde quem participou da reunião e através de quem foi agendada. Não obtiveram resposta, mas conseguiram a reprodução da reunião em vídeo, o que permitiu constatar que o encontro foi no gabinete de Elcio Franco.

CURTO PRONUNCIAMENTO – Pazuello só chegou nos 10 minutos finais, quando fez curto pronunciamento agradecendo a John e aos que acompanharam o personagem. O tema obteve também grande destaque no O Globo e no Estado de S.Paulo. No O Globo a reportagem é de Natália Portinari e Jussara Soares. No Estado de S. Paulo, de André Shalders e Lauriberto Pompeu. Todos os três jornais, os mais importantes do país, destacaram o triplo do preço proposto por aqueles que se apresentaram como representantes comerciais.

A Folha de S.Paulo sustenta que a reunião foi marcada pelo ex-diretor Elcio Franco, que recebeu o grupo em seu gabinete no Ministério. Um dos aspectos focalizados refere-se a uma afirmação anterior do presidente Jair Bolsonaro quando disse que não compraria a vacina chinesa mesmo quando a Anvisa desse aval para o uso. “Da China não compremos”, frisou.

Depois, o presidente da República aceitou a vacina chinesa. Entretanto, a reunião dos personagens liderados por John foi realizada, conferindo-se as datas, após a afirmativa de Bolsonaro em relação à China, acompanhado na ocasião pelo então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Portanto, o Ministério da Saúde estava negociando a vacina chinesa num espaço de tempo em que a sua aceitação colidia com a posição do Planalto.

SEM AUTORIZAÇÃO – Mas essa é outra questão. Natália Portinari e Jussara Soares no O Globo, além de ressaltarem o preço absurdo da unidade, recordam que a World Brands, sediada em Santa Catarina, e que atua no comércio exterior, na realidade não possuía autorização da produtora chinesa Sinovac para representá-la em qualquer transação. Agravando o panorama, o diretor-presidente do Butantan, Dimas Covas, afirmou à GloboNews que as negociações com a China são exclusivas do instituto, como ficou patente no recebimento das unidades que já foram aplicadas em diversas regiões do país, a exemplo do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Finalizando o encontro, Eduardo Pazuello afirmou: “Saímos daqui hoje já com memorando de entendimento assinado e com o compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, o contrato, para podermos receber essas 30 milhões de doses no mais curto prazo possível para atender a população”.

O ex-ministro da Saúde sustentou também na CPI da Pandemia que a compra da Coronavac seria feita diretamente com o governo chinês. Após a gravação, parte da equipe de Pazuello pediu que os empresários não compartilhassem o vídeo feito por meio do aparelho celular de John.

ALERTA – Um dos assessores do general teria alertado o então ministro de que a proposta era incomum, acima do preço, e a World Brands poderia não ser representante oficial da empresa chinesa que fabrica a vacina. O preço anunciado por John ultrapassava até o preço de US$ 15 da Covaxin, já considerado um absurdo, cujo contrato foi suspenso por suspeita de irregularidades. O fato de o contrato ser suspenso significa que ele existia.

O Globo procurou a direção da empresa em Santa Catarina e o seu sócio José Tomaselli, mas não obteve resposta. O Estado de S. Paulo informa que o presidente da CPI, senador Omar Aziz, analisará os documentos e convocará Eduardo Pazuello a comparecer à Comissão para esclarecer os fatos.

PACHECO – Numa entrevista a Bruno Boghossian e Renato Machado, Folha de S. Paulo de ontem, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, rebate a ameaça de Bolsonaro às eleições, afirmando que o risco à democracia deve ser eternamente vigiado, afastando-se pensamentos concretos que possam representar uma ruptura.

Como é público, Bolsonaro ameaçou a realização das eleições de 2022 caso o Congresso não aprovasse uma emenda constitucional, substituindo a votação eletrônica pelo voto impresso. Pacheco ressaltou que a declaração de Bolsonaro deve estar sujeita a uma retificação, o que significa que, em sua opinião, ele deve rever o erro para que não seja incluído como um propulsor de retrocessos ao silenciar-se quanto às manifestações de adeptos seus que defendem a intervenção militar e a volta do Ato Institucional nº 5.

Para Pacheco, ainda, as tensões que abalam o governo, principalmente no Ministério da Saúde, estão sendo superadas. O presidente do Senado, entretanto, acrescentou que a ameaça de ruptura é inaceitável e quanto a questão do Ministério da Saúde, os envolvidos na teia de suspeitos devem esclarecer seus atos à CPI presidida pelo senador Omar Aziz.

TV GLOBO – Reportagem de Julio Wiziack, Folha de S. Paulo, revela que o governo perdeu terreno no Cade na ofensiva que havia iniciado contra a TV Globo com a troca de Alexandre Barreto na Presidência, substituído por Alexandre Cordeiro de Macedo, que assumiu a Presidência do Conselho Administrativo de Defesa Econômica na segunda-feira.

Macedo assumiu também a Secretaria Geral que recebe e analisa todos os processos que chegam ao Cade. O mandato de Alexandre Barreto chegou ao fim por ter completado o tempo exigido de permanência. Em dezembro, a TV Globo foi impedida de exigir exclusividade em contratos de publicidade aos quais oferecera descontos, como é praxe no mercado dependendo do volume das mensagens. Essa exigência do Cade teria partido da inspiração do senador Ciro Nogueira, bolsonarista, apontado como o autor da indicação de Alexandre Barreto.

Barreto havia sido chefe de Gabinete do ministro do TCU Bruno Dantas, que o governo considera aliado de Renan Calheiros, relator da CPI da Pandemia. Barreto ganhou a simpatia do Planalto ao apresentar soluções para a crise dos combustíveis, ao fechar um acordo com a Petrobras para a venda de refinarias. Tinha bom relacionamento com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, em razão do arranjo definido pelo Cade que levou à abertura do mercado de gás natural.

MEDIAÇÃO – Além disso, Barreto se tornou próximo do ex-ministro da Justiça André Mendonça e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, depois de apaziguar um conflito histórico entre Cade e autoridade monetária na análise de casos do setor financeiro.

Sua recondução era dada como certa até a entrada em campo da conselheira Paula Farani Azevêdo para disputar a Secretaria Geral. Filha do ex-presidente da OMC Roberto Azevedo, Farani realizou trabalhos junto ao ministro-chefe da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos, e com a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda.

NOVA POLÍTICA – Um dos fatos que entrou em debate no Cade, mas que acho não ter cabimento, é a nova política da TV Globo de não renovar contratos de exclusividade de artistas. A emissora mantinha artistas à disposição no Projac pagando mensalmente pela exclusividade, mas de 2019 para cá a Globo resolveu remunerar somente os atores e atrizes por trabalhos realizados na emissora.

Paulo Farani Azevêdo manifestou-se a favor da TV Globo no caso desses contratos de trabalho, cuja modificação é perfeitamente legítima. Mas na política as nuvens mudam de direção e forma incessantemente, frase do senador Magalhães Pinto. Bolsonaro chegou a pensar em enviar um projeto ao Congresso proibindo a TV Globo de conceder bônus às peças publicitárias, o que contraria a prática normal da publicidade.

DICIONÁRIO HOUAISS – O dicionário que leva o nome do grande intelectual Antônio Houaiss, tradutor de Ulysses, de James Joyce, membro da Academia Brasileira de Letras e muito saudoso amigo, deixou a sua marca eterna na cultura e na sociedade brasileira. Antes do dicionário, Antônio Houaiss dirigiu a elaboração da Enciclopédia Delta Larousse, de cujo trabalho participei como autor dos verbetes políticos da história do país, no período de 1930 a 1969, quando a Delta-Larousse chegou às livrarias e à memória nacional.

Antônio Houaiss era um diplomata de carreira, chegou ao posto de embaixador, teve os direitos cassados pela estupidez do Itamaraty em março de 1964, e então foi editorialista do Correio da Manhã, onde o conheci e nos tornamos amigos, almoçando pelo menos duas vezes a cada mês.

HONRA – Hoje, ao relembrar a sua imagem e a sua obra eternamente assegurada por Mauro Villar, que aos 82 anos ainda tem um amplo período de existência pela frente, sinto a honra de ele e eu termos assinado em conjunto a autoria do livro “Brasil: o fracasso do conservadorismo”.

A obra de Houaiss é imensa, marcada por pontos altos da inteligência e da cultura. Lembro que um dia almoçamos no Rio Minho, restaurante próximo à Praça XV com Gerardo Mello Mourão, único brasileiro condenado à morte a partir da República, pelo Tribunal de Segurança do governo Vargas que funcionava na Avenida Oswaldo Cruz, exatamente onde hoje está a Escola Darth.

ANISTIA – Mello Mourão era também um intelectual, mas cujo passado foi manchado por sua participação no Integralismo de Plínio Salgado, sigla que professava o nazismo e o fascismo. Mello Mourão não foi incluído na Lei de Anistia assinada em abril de 1945 por Vargas, que convocava também as eleições de 2 de dezembro, vencidas pelo general Eurico Dutra, com apoio de Vargas.

Leio na entrevista de Mauro Villar, em forma de depoimento a Mariana Rosário, que ele é a única pessoa que tem responsabilidade de incluir novas palavras no banco de dados do grande dicionário Houaiss. O problema de atualização de dicionários e enciclopédias somente ser feita por computador, não existe outro meio. O próprio Houaiss me disse uma vez que tinham sido tentadas algumas formas de atualização, mas nenhuma se tornou viável.

RESPONSABILIDADE – A responsabilidade de Villar, sobrinho de Houaiss e também intelectual, é imensa, sobretudo para si próprio. Um home aplicado intensamente nos trabalhos que executa. Participou inclusive da elaboração da Delta-Larousse.

O dicionário Houaiss é considerado o mais completo editado no Brasil, inclusive porque focaliza o peso das palavras em contexto diversos, o que assinala a pluralidade de interpretações e adaptações de vontade dos textos em que estão presentes. Num dos últimos almoços em que estive com ele, sugeri que dirigisse dois trabalhos: o de identificar na realidade significados mais profundos do que os aparentes na literatura e nas letras da música, e nas imagens de pinturas famosas.

Além disso, que comandasse uma análise focada em lentes de cristal sobre os textos bíblicos, abrangendo o Velho Testamento e o Novo Testamento, o primeiro judaico e o segundo cristão, e comparasse as redações com a categoria de autores conhecidos pelos seus nomes. Ele gostou da ideia que fascina pela aparente contradição entre o nível cultural atribuído aos autores e a sofisticação dos textos.

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