Ao assumir a palavra, Guterres lembrou que Cabo Verde está na linha de frente dos efeitos das mudanças climáticas
Agência Onu News De Noticias - 22/01/2023 13:12:21 | Foto: ONU/Mark Garten ONU
António Guterres disse que o país de língua portuguesa é um “parceiro fundamental” para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; secretário-geral participa da Cúpula do Oceano, realizada na nação africana.
O chefe das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que Cabo Verde é um parceiro na construção de um mundo mais justo e mais sustentável, e que tem defendido, de forma consistente, a sustentabilidade nos últimos 40 anos.
A declaração ocorreu durante uma entrevista a jornalistas ao lado do primeiro-ministro cabo-verdiano José Ulisses Correia e Silva, que convidou Guterres para participar da Cúpula do Oceano, que ocorre na Ilha de Mindelo, na nação africana.
“Sei que Cabo Verde enfrentou uma seca severa. A subida do nível do mar e a perda da biodiversidade e de ecossistemas representam ameaças existenciais para este e para muitos outros arquipélagos. Estou profundamente frustrado com o facto de os líderes mundiais não estarem a prestar a esta emergência, uma emergência de vida e de morte à ação e aos investimentos necessários. Estamos perante a luta das nossas vidas e infelizmente estamos a perdê-la.”
O chefe da ONU ressalta que é preciso urgência para salvar o planeta. O mundo está prestes a ultrapassar a marca de 1,5º Celsius. E se nada for feito, Guterres diz que o planeta chegará aos 2,8ºC de aquecimento global até o final deste século.
Primeiro-ministro de Cabo Verde e chefe da ONU falam a jornalistas
Ele disse que países como Cabo Verde nada fizeram para contribuir para a crise, mas sofre as consequências dela.
“Estou mais determinado do que nunca em tentar fazer de 2023 um ponto de viragem para as pessoas e o planeta. Promovendo a paz e a segurança, impulsionado o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a redução das desigualdades, invertendo a maré no que diz respeito à crise climática. E por tudo isso, e muito mais, estou profundamente agradecido, por ter em Cabo Verde, um país que é um parceiro fundamental que ajuda a construir o caminho para um mundo mais justo e mais sustentável.”
Cabo Verde tem investido na economia azul e convertido títulos da dívida pelo investimento na mitigação climática dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Em seu discurso, Guterres citou os objetivos de proteção marinha do país africano.
Ele disse que as nações pobres ainda não receberam a promessa feita no Acordo de Paris de os países ricos destinarem US$ 100 bilhões para combater a mudança climática.
Foto ONU/Mark Garten
“Em relação aos impactos climáticos, houve um compromisso de dobrar o financiamento para adaptação, mas ainda não vimos um programa de ação que permita ter a certeza de que isso se vai concretizar. Por outro lado, o chamado fundo verde tem funcionado com uma grande ineficácia e com dificuldade de acesso a pequenas economias.”
Ao ser perguntado sobre o aumento de investimentos militares no mundo, Guterres disse que isso atrapalha no combate à pobreza.
“É evidente que estamos a assistir a uma tendência de rearmamento a nível mundial. Estamos a assistir não a uma redução, mas a um aumento das despesas militares. E este é mais um fator que está a limitar a capacidade de apoiar, financeiramente, aos países em desenvolvimento. Espero que esta moda possa terminar em breve.”
Durante a sua viagem a Cabo Verde, António Guterres deve conhecer de perto projetos inovadores no país, que tem 99,3% de seu território coberto por água. São 10 ilhas no arquipélago, localizado no meio do Oceano Atlântico.
O primeiro-ministro do país, Ulisses Correia e Silva, acredita na amplificação da voz de Cabo Verde, no cenário internacional, através dos oceanos.
Desde 2015, quando o país traçou a estratégia de investimento na economia azul, Cabo Verde tem desenvolvido eventos voltados para o oceano. Este ano, a nação de língua portuguesa faz uma parceria com o Ocean Race, que é o mundial de regatas com personalidades de todo o mundo incluindo o próprio chefe da ONU.
Nos últimos anos, muitos pescadores em Cabo Verde têm notado uma queda na captura de peixes como a cavala. No ano passado, a indústria reportou uma redução na pesca do atum.
Resultados preliminares de um estudo da ONU mostram que redução até 2100 de várias espécies de atum do mar cabo-verdiano. Na bacia entre Senegal e Mauritânia, a redução pode ser ainda maior que 45%.
Essas são mudanças que terão impacto profundo na economia do país, que em 2018 tinha mais de 6,2 mil pessoas empregadas no setor da pesca.
Cabo Verde é considerado um dos 10 maiores pontos de biodiversidade do mundo, e por décadas, 24 espécies de baleias e golfinhos documentados em suas águas têm atraído visitantes que fazem do turismo uma das maiores fontes de economia do arquipélago. No ano passado, foram 700 mil chegadas.
Atualmente, 20% da produção de energia do país vem de fontes renováveis. E a meta é aumentar para 50% até 2030.
Comentários para "Em Cabo Verde, chefe da ONU ressalta urgência de ação para salvar o clima":