Iphan e moradores pedem ações urgentes.
Adele Robichez, aline Macedo e kaique Santos - Portal Brasil De Fato - 26/06/2025 08:50:59 | Foto: Ruínas de Paricatuba (AM) - Tereza Cidade e Marcos Santos/Amazonas e Mais
Ruínas de Paricatuba já foram hospital e hoje simbolizam 'memória sensível'; Iphan e moradores pedem ações urgentes.
O sítio arqueológico de Paricatuba, em Iranduba (AM), região metropolitana de Manaus, está em situação crítica e corre risco de desabamento. A estrutura centenária, conhecida como Ruínas de Paricatuba, apresenta rachaduras, paredes inclinadas e muros caídos, segundo um laudo da Defesa Civil. A vegetação que avança sobre o local também agrava as ameaças. Juntamente com a comunidade, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o poder público estadual e municipal articulam medidas para evitar o colapso do imóvel, que tem grande valor histórico e cultural.
“As Ruínas são parte de uma arquitetura que tem mais de 100 anos. É muito comum que a encontremos, como outras no Brasil e mundo afora, com trechos que não condizem com a sua característica original, de quando a sua arquitetura foi construída. […] Por nossa solicitação, a Defesa Civil se manifestou para pontos de atenção para projetos de estabilização do imóvel”, explica Beatriz Calheiro, superintendente do Iphan no Amazonas. Ela afirma, em entrevista ao Conexão BdF , da Rádio Brasil de Fato, que há um projeto sendo desenvolvido pela comunidade local e o Iphan acompanha a situação junto ao Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, governo do estado e prefeitura.
O órgão federal solicitou o cercamento emergencial da área e ampara ações de poda segura da vegetação, realizadas com o apoio técnico das autoridades ambientais. A Unidade Gestora de Projetos do estado finaliza um plano de escoramento da estrutura, enquanto o Iphan articula a aplicação de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para garantir intervenções estruturais mais amplas. “Nossa atuação é voltada para o patrimônio cultural, mas a segurança das pessoas é fundamental”, ressalta Calheiro.
Lugar de memória sensível
As ruínas de Paricatuba guardam a memória de momentos importantes da história do Amazonas. Construído no auge do ciclo da borracha, entre o fim do século 18 e o início do século 19, o prédio já serviu como espaço educacional, penitenciária e hospital. Durante parte do século 20, funcionou como leprosário, onde pessoas com hanseníase eram isoladas à força pelo estado.
“Essa comunidade ficou ali durante muito tempo isolada, sofrendo as violências do estado. […] São memórias de eventos traumáticos, é um local de memória sensível”, lembra Calheiro. Nos anos 1970, os pacientes foram transferidos para a Colônia Antônio Aleixo, em Manaus, e o prédio foi abandonado. Desde então, a estrutura foi assimilada pela vegetação e pela comunidade local, que passou a cuidar do espaço e hoje desenvolve ali um projeto de turismo de base comunitária.
Ações em andamento
Além da poda e do cercamento, o Iphan e seus parceiros atuam para preservar a paisagem integrada entre natureza e arquitetura. O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) realiza um inventário das espécies vegetais da área. Já o projeto de escoramento e cercamento do prédio deve garantir uma proteção provisória, enquanto se estrutura um plano definitivo com foco em acessibilidade, iluminação e segurança para visitantes.
“Com um projeto definitivo, queremos garantir não só a estabilidade do imóvel, mas também a acessibilidade para as visitas e iluminação. É um local que não tem esses três itens fundamentais para a continuidade não só do bem, mas também do trabalho da comunidade”, aponta a superintendente do Iphan. O local é tombado como patrimônio material do Amazonas por lei estadual, e sua preservação depende da articulação entre diferentes esferas do poder público e a população de Iranduba.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato , 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.
Editado por: Nathallia Fonseca
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