Embraer entende que tem solução para liderar potencial de mercado no Oriente Médio, diz análise

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Embraer entende que tem solução para liderar potencial de mercado no Oriente Médio, diz análise
Embraer entende que tem solução para liderar potencial de mercado no Oriente Médio, diz análise

Melissa Rocha - Agência Sputnik Brasil - 28/11/2025 09:46:17 | Foto: Divulgação / Embraer

À Sputnik Brasil, especialistas apontam que o Oriente Médio oferece grandes oportunidades à Embraer por conta da alta demanda da região por equipamentos militares, e destacam a capacidade da empresa de suprir necessidades que outras potências militares não conseguem.

A Embraer assinou acordos com as empresas AMMROC e Global Aerospace Logistics (GAL), sediadas nos Emirados Árabes Unidos, para manutenção, reparo, revisão e treinamento para o cargueiro militar KC-390 Millennium.

Mais rápido e versátil que seus concorrentes, como o estadunidense C-130 Hercules, o KC-390 atende à demanda dos Emirados Árabes por aeronaves de transporte tático modernas. Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas explicam qual a importância do aumento da presença da Embraer no Oriente Médio.

O professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador da área de indústria aeroespacial e de defesa Marcos José Barbieri Ferreira destaca que os países do Oriente Médio são grandes demandantes de equipamentos militares por conta dos recursos que eles têm, principalmente petróleo. Ele acrescenta que a demanda também é alta por ser o Oriente Médio uma área de tensão internacional, o que leva governos da região a investir um volume em defesa muito acima da média mundial.

"A produção deles é muito pequena. A indústria aeronáutica desses países é praticamente inexistente, ou muito incipiente. Então eles precisam comprar aviões de terceiros. Nesse caso, a Embraer entra, e a Embraer tem um produto excelente, que é o KC-390."

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Ferreira afirma que a Embraer também tem se tornado cada vez mais atraente no mercado europeu por conta do conflito ucraniano, mas, diferentemente do Oriente Médio, o continente é um grande produtor de aeronaves. No entanto, não há empresas europeias capazes de produzir aeronaves do porte do KC-390.

"A principal empresa fabricante de aeronaves militares da Europa é a Airbus. Ela tem uma aeronave, A-400, que é uma aeronave de outro porte, que é quase o dobro do KC-390. Muitos países necessitam de uma aeronave menor, em um segmento de 25 toneladas, mais ou menos, de transporte, enquanto o A-400 transporta em torno de 40 toneladas. E qual é essa aeronave que eu tenho no mundo, a melhor, mais moderna e eficiente? É o KC-390."

Para ele, a Embraer, assim como outras empresas de aeronaves do mundo, como as norte-americanas Boeing e Lockheed Martin, tem origem na área militar, tendo sido criada dentro do Ministério da Aeronáutica, em 1969, como empresa produtora de aeronaves tanto civis quanto militares.

"Desde os anos 1970, a maior empresa de defesa que o Brasil tem é a Embraer. Até 2017 ela figurou entre as 100 maiores empresas de defesa do mundo. Talvez agora, com o avanço das vendas do KC-390, ela volte a figurar entre as 100 maiores do mundo, mas é uma grande e a mais importante empresa de defesa brasileira. E por isso deve ser preservada como empresa brasileira", avalia.

Desenvolvido para ser uma atualização da aeronave que é referência no setor de transporte militar, o Hércules C-130, o KC-390 Millennium tem "tudo para conseguir êxito nas vendas internacionais da Embraer", conforme aponta José Augusto Zague, pesquisador de pós-doutorado do Projeto Pró-Defesa V, pelo Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (IPPRI-Unesp), e do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (GEDES-Unesp).

Zague enfatiza que o Oriente Médio é importante para fabricantes de armamentos porque países da região normalmente adquirem sistemas de armas e armamentos leves em grande proporção, principalmente a Arábia Saudita.

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"O Oriente Médio já teve uma importância grande para a base industrial de defesa brasileira, entre o final da década de 1970 e meados da década de 1980. Empresas brasileiras, como a própria Avibras, Engeza e outras empresas, fizeram vendas significativas para países do Oriente Médio, principalmente durante o conflito Irã-Iraque, na década de 1980. Nesse período, o Brasil chegou a ter uma importância relativa no mercado de exportações de sistemas de armas" afirma.

Ele ressalta que "a Embraer é reconhecida pela sua capacidade de oferecer um pós-venda adequado e também manutenção".

Zague afirma que a Embraer é líder na produção de aeronaves comerciais de uso regional, e o "spin-off" que deu origem à liderança da Embraer no segmento de aviação regional foi obtido com recursos do orçamento da Força Aérea Brasileira (FAB) utilizado no projeto AMX, na década de 1980.

Zague explica que nem sempre o desenvolvimento dessas novas tecnologias tem um impacto direto para a defesa nacional, pois os planos nacionais de defesa do Brasil nem sempre estão articulados com aquilo que a Embraer produz.

"Muitas vezes alguns dos produtos desenvolvidos pela Embraer têm como objetivo o mercado externo, as exportações. Então, se nós formos pensar na questão da vulnerabilidade estratégica do Brasil, em alguns setores, a nossa base industrial de defesa é incapaz de suprir as nossas vulnerabilidades. Também falta definir mais claramente as vulnerabilidades estratégicas do Brasil e o que nos ameaça", afirma.

Ele frisa que "a transferência de armamentos é uma área muito sensível para a diplomacia", sempre vista com muito cuidado.

"A diplomacia também é o que a gente pode chamar de 'ponta de lança' para a venda de armamentos", destaca.

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O KC-390 é hoje um ativo importante do Brasil, segundo aponta Marianna Deus Deu, doutoranda em relações internacionais no programa San Tiago Dantas (Unicamp, Unesp e PUC-SP), pesquisadora do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional e do Projeto Defesa, Tecnologia e Estudos de Futuro, do programa Pró-Defesa V.

"Estamos falando de um comércio de alto valor agregado para países da América Latina, OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], e com perspectiva de venda para países africanos. Então, [o KC-390] tem uma boa projeção internacional, desenvolvido no polo de tecnologia de defesa do país, com impacto econômico positivo."

Segundo ela, além de o acordo com os Emirados Árabes fortalecer a imagem da aeronave, demonstrando sua robustez e confiabilidade, ele facilita novas vendas no Oriente Médio, "onde a Embraer está empenhada em expandir seus negócios".

Ela destaca o relatório Middle East's Next Frontier (Próxima fronteira do Oriente Médio, em tradução livre), lançado pela Embraer, com estudos da empresa sobre a importância da região e identificando uma série de oportunidades.

"O que a Embraer pretende fazer ali é mudar o paradigma de integração intrarregional a partir da aviação. Ela identificou que a região é uma ponte global de tráfego aéreo, ponte para outros continentes, mas a conectividade entre países vizinhos não é explorada", observa.

A analista destaca que a Embraer propõe uma mudança: abrir novas rotas diretas, menos longas, e fazer isso com baixo custo por viagem, a partir de sua família de jatos small narrowbody E2 (E2 Jets).

"Eles enxergam que a região tem envidado esforços para atrair fluxos migratórios em busca de trabalho e criar grandes centros de atração de turistas. A Embraer entende que tem a solução para liderar esse potencial de mercado."

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Ela destaca que a Embraer vem se recuperando de um período difícil que enfrentou desde 2011, quando virou alvo da operação Lava Jato por suspeita de receber propina para firmar contratos de venda de aviões, tendo pago mais de R$ 600 milhões para encerrar o processo. Anos depois, foi alvo de uma tentativa de venda para a Boeing, que ela aponta que "felizmente não foi concretizada", mas que resultou na perda de funcionários para a empresa norte-americana.

"Estamos falando de uma indústria altamente estratégica do Brasil que perdeu centenas de seus engenheiros e técnicos que trabalhavam em áreas como a Plataforma Suborbital de Microgravidade, do Projeto 14-X, que atua com tecnologia hipersônica, e do projeto Amazônia-1, o primeiro satélite brasileiro para observação", destaca.

É desse cenário, avalia a analista, que a Embraer conseguiu se reerguer, e hoje busca uma variedade de acordos e parcerias mundo afora.

"No terceiro trimestre deste ano, a Embraer atingiu um recorde em carteira de pedidos. E ela vem fazendo isso expandindo seus parceiros comerciais para além de potências tradicionais, o que é uma característica da diplomacia brasileira. Eu diria que a Embraer e o Brasil vêm se mostrando parceiros confiáveis e sólidos, e conseguem suprir demandas que outras potências militares não conseguem."

Ela frisa que "o cenário atual também ajuda bastante", com o multilateralismo dando "a tônica das agendas de relações exteriores".

"A dependência excessiva de fornecedores dos EUA é um problema porque cria entraves para a autonomia dos países e, agora, o país tem se mostrado menos confiável. Já o Brasil tem uma reputação mais positiva em sua postura diplomática. Fazer negócios conosco tem se mostrado mais seguro."

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