Incêndio atinge pavilhões da COP30
Vinicius Sassine, Belém, Pa (folhapress) - 20/11/2025 18:48:58 | Foto: © TÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL
Passadas quatro horas do incêndio que paralisou a COP30 e que levou risco às pessoas presentes na "blue zone", a entidade e a empresa responsáveis por erguerem a estrutura da área central da conferência mantêm o silêncio sobre o incidente e sobre o que se sucedeu nos momentos seguintes ao fogo.
O governo Lula (PT) contratou, com dispensa de licitação, a OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos) para erguer as estruturas do evento da ONU. O contrato tem valor de R$ 480 milhões e já foram gastos R$ 324,6 milhões.
A OEI, por sua vez, contratou a empresa DMDL, por R$ 182,6 milhões, para a construção da "blue zone" -uma ampla estrutura de metal, lona e estandes- no Parque da Cidade. A DMDL já recebeu R$ 112,9 milhões pelos serviços.
A Folha questionou a entidade e a empresa sobre o incêndio, sobre a resposta dada para evacuação (como o funcionamento do sistema de alarme e das saídas de emergência) e sobre problemas elétricos como eventual causa do que ocorreu.
Nem a OEI nem a DMDL responderam aos questionamentos.
A primeira enviou uma resposta da organização da COP30, a cargo do governo federal, em que afirma que o incêndio foi controlado e que não houve feridos, com prosseguimento do monitoramento da situação. A empresa, por sua vez, disse que o governo federal deveria ser procurado.
Incêndio atinge pavilhões da COP30, esvazia áreas e interrompe negociações climáticas
ALEXA SALOMÃO, AUGUSTO PINHEIRO, FÁBIO PUPO, GEOVANA OLIVEIRA, JÉSSICA MAES, JOÃO, GABRIEL, JORGE ABREU, PEDRO LOVISI, VINICIUS SASSINE, DANILO VERPA, GUSTAVO ZEITE E NICOLA PAMPLONA
BELÉM, PA (FOLHAPRESS) - Um incêndio atingiu os pavilhões da COP30 em Belém (PA) no início da tarde desta quinta-feira (20). As chamas começaram nos setores reservados aos países, causando correria entre os participantes da conferência. A energia elétrica foi cortada no local, e as labaredas chegaram a furar os toldos dos estandes. As negociações foram paralisadas, e a zona azul, esvaziada.
A organização da COP30 afirmou que o incêndio foi controlado e que não há feridos. As equipes de bombeiros e de segurança trabalham agora no rescaldo e monitoram a situação. A ONU, as forças de segurança e a organização da COP30 convocaram uma reunião de emergência para abordar o assunto.
Às 15h28, a ONU anunciou a devolução da zona azul às autoridades brasileiras, mas o espaço não será reaberto antes das 20h. Nas redes sociais, vídeos mostram que as chamas começaram no estande da África Oriental. Ainda não se sabe, porém, a causa do incêndio.
O ministro do Turismo, Celso Sabino, disse que o fogo pode ter começado em decorrência de um curto circuito. Ele também defendeu a escolha da capital paraense como sede da COP30. "Não vai colar a ideia de que Belém não deveria sediar a COP", disse ele. "Esse incêndio poderia ter acontecido em qualquer lugar do mundo."
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi retirada do pavilhão da COP30 após o incêndio que atingiu o espaço. O incidente ocorre na fase final da conferência, quando os países tentam fechar o texto final do acordo. A secretrária da Cultura do Pará, Úrsula Vidal, disse esperar o pronunciamento da ONU, com informações corretas.
"Nós estamos aguardando que a ONU, que é responsável pelo espaço, dê as informações corretas pra que esse clima de desinformação não gere um ambiente ruim para a COP", afirmou. "Nós temos ainda uma agenda. Nós precisamos fechar protocolos, acordos. A imprensa está toda aqui, aguardando a informação correta pra fazer o seu papel, que é dar a informação segura pra combater a desinformação."
No meio da correria causada pelo incêndio, a caixa móvel Dielly Silva presenciou as chamas que, segundo ela, se espalhavam com muita rapidez. "Levei um susto, todo mundo correndo, praticamente passando por cima de todo mundo. A gente tentou achar um lugar mais tranquilo para correr", contou. "Todo mundo gritava para sair: 'fogo, fogo', em vários idiomas".
Pessoas tiveram que sair da COP30 usando escadas para escapar do incêndio que atinge o pavilhão dos países. O Hangar, construção do Parque da Cidade que faz parte da zona azul da COP30 e não é composto por tendas, também foi esvaziado. Na área de alimentação, bombeiros e voluntários gritam para que as pessoas se retirem.
Na primeira semana do evento, a ONU enviou uma carta à organização pontuando problemas na infraestrutura e na segurança. O secretário-executivo da UNFCCC (o braço climático das Nações Unidas), Simon Stiell, assinou o documento demandando que a proteção seja reforçada e que os problemas (como alagamentos e altas temperatura no ambiente) sejam resolvidos.
Meses antes do início da conferência, dezenas de negociadores assinaram uma carta endereçada ao governo Lula e a Stiell pressionando para que a COP30 fosse transferida, ao menos em parte, para outra cidade -as reclamações eram sobre os altos preços de hospedagem e os problemas de infraestrutura da capital paraense.
O governo federal optou por mantê-la em Belém, e Lula destacou que isso demonstrava um ato de coragem. O presidente argumentou que seria mais fácil realizar o evento em uma cidade pronta para recebê-lo, mas destacou a importância de sediar as reuniões climáticas na amazônia pela primeira vez.
Durante o incêndio, técnicos de áudio da zona azul ajudaram os bombeiros com extintores. "Eu estava no estande da Noruega, onde tinha uma palestra, a gente ouviu muita gritaria, e alguém disse 'É fogo'", diz o técnico Reginaldo Santos.
"Fiquei na minha sala, ouvi o pessoal de onde tava pegando fogo pedindo extintor de incêndio. Tinha um na minha sala e outro na sala da frente, levei para eles", diz Santos. Segundo o grupo, dois técnicos foram atendidos pelo serviço de saúde. Um por inalar fumaça e outro por cair durante a correria.
Comentários para "Empresa e entidade responsáveis por estrutura que pegou fogo na COP30 silenciam sobre incidente":