Estudante quebra 'isolamento' e se torna primeiro acreano na Universidade de Princeton

A conquista de Diego não é apenas pessoal, é um marco histórico

Estudante quebra 'isolamento' e se torna primeiro acreano na Universidade de Princeton
Estudante quebra 'isolamento' e se torna primeiro acreano na Universidade de Princeton

Lucas Leite, São Paulo, Sp (folhapress) - 20/12/2025 18:16:05 | Foto: Divulgação Fundação Estudar

A notícia chegou no último dia 11. O estudante Diego Heitor da Silva, 17, estava em um evento do trabalho da mãe em Rio Branco, no Acre, tentando controlar a ansiedade que o acompanhava havia semanas. Na sua cabeça, a reprovação já era certa. Mas, ao chegar em casa e abrir o portal da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, o resultado positivo estava lá.

A conquista de Diego não é apenas pessoal, é um marco histórico. Ele é o primeiro estudante do Acre a ser aceito em Princeton, uma das mais renomadas instituições de ensino superior do mundo.

"Até agora não parece que eu passei. Mas aí eu abro o site, vejo a carta de aprovação, vejo a bolsa e fico 'meu Deus, eu consegui'", conta o estudante, que concluiu o ensino médio no Colégio de Aplicação da Ufac (Universidade Federal do Acre).

Diferentemente de alguns jovens que descobrem a possibilidade de intercâmbio no fim do ensino médio, a trajetória de Diego começou cedo. Aos 12 anos, um vídeo na internet sobre oportunidades de estudo mudou sua percepção. Com vídeos no YouTube, ele conheceu a chance de estudar fora do país.

O caminho até a conquista da bolsa integral em Princeton, no entanto, foi marcado por "nãos". Diego tentou bolsas para internatos americanos (boarding schools, em inglês) ainda no 9º ano. Embora tenha sido aceito em um deles, a bolsa não era suficiente para cobrir os custos.

"Eu recebi muitos 'nãos', principalmente no início de tudo. No começo, minha família não botava tanta fé porque achavam perigoso um adolescente morar fora sozinho."
Apesar disso, Diego não desistiu e continuou tentando uma oportunidade de estudar fora. Para isso, seu pai foi o primeiro incentivador, e sua mãe, após vê-lo conquistar o programa "jovens embaixadores", percebeu que o sonho era real.

A partir daí, Diego acumulou pioneirismos: foi o primeiro acreano selecionado para o Camp Rising Sun, um programa de liderança em Nova York, e o primeiro do estado na AFS Global STEM Academies, intercâmbio focado em ciências e tecnologia realizado na China -ambos conquistados com bolsas integrais.

O caminho para Princeton exigiu resistência emocional, além do conhecimento acadêmico. Diego conta que sentia o peso do isolamento geográfico do Acre.

"A gente cresce sabendo que nosso estado era um pouco esquecido em relação ao resto do país. Quando eu via as pessoas que passavam, eram sempre de São Paulo, Rio ou Paraná. Não tinha ninguém do Acre que tivesse feito isso", comenta.

O estudante afirma que a falta de representatividade gerava momentos de desmotivação. Para realizar o SAT (Scholastic Assessment Test, ou teste de avaliação acadêmica), que é necessário para entrada em parte das universidades americanas, Diego precisou viajar para Brasília, já que não há centros de aplicação do teste em seu estado.

"O SAT foi a parte mais difícil. É um minuto por questão. Fazer as coisas sob pressão era muito complicado", conta Diego, que estudava durante a madrugada.

Em novembro de 2024, Diego foi aceito no Prep Program, iniciativa da Fundação Estudar que oferece mentoria e preparação gratuita para estudantes interessados em cursar universidades no exterior.

Ao se integrar ao programa, o estudante encontrou o suporte técnico, como o custeio com as viagens até Brasília para fazer o SAT, e também emocional. "Eles me deram todo o apoio, desde as redações até os recursos financeiros. Mas, acima de tudo, a fundação me ensinou a valorizar a minha própria história."
O impacto de Diego em Princeton vai além da conquista da vaga. Interessado em psicologia -desejo que nasceu ao observar a falta de apoio emocional em escolas públicas-, ele fundou projetos como o "Mundo ao Alcance" e o "Melanina Speaks", este último focado em ensinar inglês online para jovens a partir do estudo da diáspora africana e cultura afrodescendente.

"O mais importante de tudo foi aprender a valorizar minha história. Percebi que sou muito desprivilegiado comparado a estudantes de outros estados, mas usei essa falta de oportunidade como força para conquistar mais", afirma Diego.

Com bolsa integral em Princeton, que cobre desde mensalidades até livros e alimentação, Diego planeja passar os próximos meses aproveitando a família antes de embarcar, em setembro, para os quatro anos de graduação.

Ao olhar para trás, o estudante entende que seu maior legado não é o diploma que virá, mas a porta que ele acaba de abrir para outros jovens do norte do país.

"Eu espero ser uma prova de que é possível. Mostrar para as pessoas do Acre, de cidades do interior, de contextos com menos dinheiro, que a gente consegue fazer isso. Agora eles vão ter um espelho: alguém saiu daqui e conseguiu", conclui Diego.

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