EUA ameaçam Venezuela com bombardeiros pesados B-52
Victor Lacombe, São Paulo, Sp (folhapress) - 15/10/2025 18:15:20 | Foto: Divulgação
O governo Donald Trump autorizou oficialmente a CIA, a agência de espionagem dos Estados Unidos com longo histórico de interferência na América Latina, a realizar operações secretas e letais dentro da Venezuela com o objetivo de derrubar o ditador Nicolás Maduro do poder.
A informação foi antecipada pelo jornal The New York Times e confirmada por Trump horas depois. Em conversa com a imprensa na Casa Branca, o republicano disse que a Venezuela "está sentindo a pressão".
A autorização formal da Casa Branca significa que a CIA tem agora permissão de agir unilateralmente ou em conjunto com uma operação militar de larga escala -isto é, uma invasão da Venezuela, cenário extremo temido por Caracas.
O New York Times afirma que Trump decidiu autorizar as operações secretas da CIA depois de abandonar esforços diplomáticos com a ditadura venezuelana, avaliando que pouco progresso foi feito.
A Casa Branca chegou a recusar um acordo que daria aos EUA participação dominante na indústria de petróleo da Venezuela, país com as maiores reservas de óleo do mundo, em favor de perseguir uma estratégia de derrubar Maduro do poder por meio da força. Essa seria a opção preferida pelo secretário de Estado, Marco Rubio, e pelo diretor da CIA, John Ratcliffe.
Rubio, filho de cubanos exilados, fez carreira política como forte opositor de regimes de esquerda na América Latina, e defende há tempos a retirada de Maduro do poder. Recentemente, o chefe da diplomacia americana chamou o ditador de governante ilegítimo e narcoterrorista.
Ainda não há informações indicando que Trump tenha tomado a decisão de invadir o país sul-americano. Nos últimos meses, seu governo aumentou consideravelmente a presença militar americana no Caribe, e o país hoje conta com mais de 10 mil soldados, oito navios de guerra e um submarino mobilizados na região. No total, é mais poder de fogo do que toda a Venezuela.
Ainda segundo o New York Times, o governo Trump considera autorizar também bombardeios e ataques aéreos diretamente em território venezuelano, o que quase certamente significaria um estado de guerra aberta contra o país.
Mas essa possibilidade pode esbarrar em questões jurídicas. A Constituição americana estabelece que o poder de declarar guerra é exclusivo do Congresso, o que exigiria apoio do Partido Democrata. Também por essa razão, a Casa Branca busca justificar ações contra a Venezuela afirmando que são parte de uma campanha contra o narcotráfico -como os ataques que mataram 27 pessoas nas águas internacionais próximas ao país desde setembro.
Recentemente, de acordo com a imprensa americana, o governo Trump comunicou formalmente ao Congresso que os EUA estão "em situação de conflito armado" com narcotraficantes latino-americanos. Essa notificação permitiria ataques unilaterais em contextos em que não há perigo para forças americanas, como é o caso dos barcos destruídos.
Nesta quarta, Trump disse que, se as embarcações estão carregando drogas, elas são "alvos legítimos", mas o Pentágono não apresentou provas de que os barcos estavam levando substâncias ilícitas aos EUA. A principal rota do tráfico de cocaína em direção à América do Norte passa pelo Oceano Pacífico e pela fronteira com o México, não pelo Caribe.
Também como parte da pressão exercida contra a Venezuela, o governo Trump diz que Maduro é o chefe do suposto Cartel de los Soles, que especialistas afirmam não existir, e sustenta que o ditador teria ligações com a facção Tren de Aragua, uma hipótese questionada por relatórios da própria inteligência americana.
Além disso, em agosto, o Departamento de Justiça dos EUA dobrou a recompensa por informações que levem à captura de Maduro, oferecendo agora US$ 50 milhões (R$ 272 milhões) e classificando o ditador de um dos maiores narcotraficantes do mundo e ameaça à segurança americana.
A CIA e o governo dos EUA têm longo histórico de interferência e patrocínio a golpes na América Latina, incluindo aquele que removeu João Goulart da Presidência em 1964 e instalou a ditadura militar no Brasil, período marcado por tortura, assassinatos e desaparecimentos contra dissidentes políticos.
EUA ameaçam Venezuela com bombardeiros pesados B-52
IGOR GIELOW, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Força Aérea dos Estados Unidos enviou três bombardeiros estratégicos B-52 nesta quarta-feira (15) para um voo no mar do Caribe junto à costa da Venezuela, chegando a menos de 200 km de Caracas.
A nada sutil ameaça ocorre no momento em que as tensões entre o governo de Donald Trump e o governo de Nicolás Maduro estão em alta. O americano afirma estar em campanha contra cartéis de narcotráfico que atuam na Venezuela, enquanto o ditador venezuelano o acusa de querer derrubá-lo.
A julgar pelos sinais externos, ambas as coisas são possíveis. Os B-52, aviões desenhados para ataques maciços, raramente fazem voos de treinamento no Caribe.
Ao longo desta manhã e tarde de quarta, eles operaram na FIR (Região de Informação de Voo, na sigla inglesa) da Venezuela, uma área de notificação compulsória antes do espaço aéreo do país, que começa a cerca de 22 km da costa.
Um dos aviões, de registro 60-0033, é um dos 46 da frota de B-52 americana habilitados a empregar também armas nucleares. Os outros dois integram o contingente de 30 que só podem operar armamentos convencionais.
Eles também protagonizaram uma curiosidade rapidamente captada em redes sociais. Sua rota de voo, monitorada por sites como o Flightradar24, sugere o desenho de um grande órgão sexual masculino, o que foi prontamente visto como uma provocação a mais a Maduro. Segundo monitores, um avião-espião Citation-560 da Força Aérea Colombiana acompanhou a ação à distância.
Os aviões circularam a região da ilha La Orchila, onde fica uma base militar e um complexo que costuma receber os presidentes venezuelanos.
Não houve reação oficial de Caracas, que tem reagido com exercícios militares e mobilização de milícias. O governo ainda enfrenta uma semana de pressão extra, com a concessão na sexta-feira (10) do Prêmio Nobel da Paz à principal líder opositora do país, María Corina Machado, chamada por Maduro de "bruxa demoníaca".
Um vídeo que circulou em redes sociais mostra a decolagem de um caça F-16 da base de El Libertador, na região de Aragua, mas não há confirmação independente de que isso tenha ocorrido nesta quarta.
O episódio é o mais recente de uma cadeia de eventos que começa no dia em que Trump, que no seu primeiro mandato namorou a ideia de derrubar Maduro com a ajuda dos então aliados Brasil e Colômbia. O americano assinou um decreto possibilitando qualificar cartéis como organizações terroristas.
Um mês depois, em fevereiro, entidades como o mexicano cartel de Sinaloa e o venezuelano Tren de Aragua, que especialistas relutam em qualificar como cartel e não apenas gangue criminosa, foram tachados de terroristas -logo, sujeitos a ações militares sem autorização específica pelo Congresso.
De lá para cá, Trump subiu o preço por dicas que levem à prisão de Maduro, indicado por narcotráfico desde 2020 numa corte de Nova York, para US$ 50 milhões. E promoveu a maior mobilização militar no Caribe desde que os EUA agiram para restabelecer o presidente eleito do Haiti em 1994.
Há uma força expedicionária de fuzileiros em três navios, um cruzador, três destróieres, um submarino de propulsão nuclear, dez caças avançados F-35 e vários outros recursos na região. Trump reativou uma base em Porto Rico para centralizar a operação, local que estava fechado havia 21 anos.
Por fim, começou a bombardear pequenos barcos que seu Departamento de Guerra diz serem de traficantes. Foram cinco ações até aqui, com 27 mortos. O governo colombiano, que como o brasileiro hoje é governado pela esquerda, diz que pelo menos em um caso as vítimas eram cidadãos de seu país. Trump nega.
O temor regional é de que Washington esteja, com o pretexto da guerra às drogas, ensaiando uma tentativa de mudança de poder na ditadura esquerdista. No caso do Brasil, há o agravante de que um conflito levaria a um influxo ainda maior de refugiados pela fronteira em Roraima, e o Exército já reforçou suas posições por lá.
Apesar da demonstração de força com os B-52, o ditador pode ser alvo de uma ação menos espetaculosa.
O jornal New York Times revelou nesta quarta que a CIA (Agência Central de Inteligência, na sigla em inglês) foi autorizada a operar secretamente para derrubar Maduro, e o próprio Trump já falou em agir por terra.
Na semana passada, helicópteros da unidade do Exército especializada em operações especiais, como a que levou as forças da Marinha que mataram Osama bin Laden em 2011 no Paquistão, foram avistados treinando em Trinidad e Tobago, junto à costa da Venezuela.
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