"Com o auxílio, custeamos o básico. O preço dos alimentos subiu de maneira expressiva. Só de alimentação gastamos, em média, R$ 400 por semana. Ainda têm as despesas com internet, água, luz e medicamentos Jessica Alves Silva, advogada e produtora cultural
Fernanda Strickland* - Correioweb - 08/09/2020 07:48:44 | Foto: CorreioWeb
Brasileiros que conseguiram sobreviver à crise da covid-19 com base no auxílio emergencial estão apreensivos com a perspectiva de não contar mais com a ajuda do governo, num momento em que há pouca oferta de trabalho
As dúvidas sobre como estará a economia do país no pós-pandemia e a redução do valor do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300 preocupam pessoas como Jéssica Alves Silva, 29 anos, advogada autônoma e produtora cultural, que está conseguindo sobreviver devido ao benefício, mesmo com muita dificuldade.
Ela mora em uma casa em Ceilândia com mais quatro mulheres que atuam na cena cultural de Brasília. “Antes da pandemia, eu morava sozinha, mas as condições financeiras não foram favoráveis”, conta. Todas recebem o auxílio emergencial de R$ 600. Elas decidiram morar juntas para dividirem as despesas com aluguel e alimentação. “Com o auxílio, custeamos o básico. O preço dos alimentos subiu de maneira expressiva. Só com alimentação, gastamos, em média, R$ 400 por semana. Ainda têm as despesas com internet, água, luz e medicamentos”, explica Jéssica.
“Estamos bem preocupadas. Somos mulheres negras em situação de vulnerabilidade social. Teremos de buscar outros meios de sobrevivência. O problema maior é a falta de oportunidades e, principalmente, o medo de contágio. Sabemos que a realidade da covid atinge de maneira drástica a periferia. Ficamos sem perspectiva de futuro”, diz a advogada.
Mesmo com as dificuldades, elas criaram um modo de ajudar outras pessoas na mesma situação, o Festival Preta Cei. “É um festival on-line com o objetivo de auxiliar artistas e outras pessoas que atuam na cena cultural. Conseguimos 21 cestas básicas e R$ 1.020 em dinheiro para dar assistência para pessoas que passam por dificuldades financeiras semelhantes às nossas”, conta Jéssica.
Francisco Chagas de Oliveira, 45 anos, morador da Cidade Ocidental (GO), fazia eventos no Distrito Federal, trabalhando como chefe de cozinha e viu sua renda de R$ 5 mil a 6 mil por mês despencar em meio à pandemia da covid-19. Há seis meses, devido ao isolamento social, vários eventos foram cancelados, impossibilitando que ele conseguisse trabalhar. “Agora, estou dependendo do dinheiro do auxílio emergencial ou de vender marmita”, afirma. Ainda desempregado, Francisco conta que tem dificuldades para pagar as contas. E, mesmo mandando currículo para várias empresas, não consegue emprego.
Já a dona de casa Maria Aparecida Fontele dos Santos Costa, 27 anos, que mora em Moraújo (CE), está desesperada para manter a família sem o auxílio emergencial, que foi suspenso. “Antes de o benefício ser cancelado, eu já estava preocupada com a diminuição do valor. Agora, me preocupa muito mais, pois o preço das mercadorias só aumenta”, conta.
Segundo ela, com o cancelamento, seu marido teve de fazer trabalhos ocasionais para garantir a sobrevivência da família. “Estamos apenas fazendo bicos ou dependendo da diária do meu esposo. Precisamos sustentar uma família com seis pessoas, então, é muito difícil”, afirma.
* Estagiária sob a supervisão de Rosana Hessel
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