Em conversa com Eduardo Pojo, uma servidora afirma:
Victor Fuzeira Mirelle Pinheiro Manoela Alcântara -metrópoles - 13/09/2020 10:05:43 | Foto: Metrópoles
As manobras usadas pelos investigados na Operação Falso Negativo para fraudar dispensas de licitação e contratos de compra de testes para detecção de Covid-19 levantaram suspeitas dos próprios servidores da Secretaria de Saúde.
Em denúncia do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) remetida à Justiça, uma conversa de WhatsApp entre uma funcionária pública da pasta e Eduardo Pojo, então secretário-adjunto de Gestão em Saúde, mostra o desespero da servidora com as recorrentes compras dos exames.
“Tá o samba do crioulo doido isso. Não dá pra receber as coisas na cega assim. Socorro, falo isso para a empresa ou enrolo?”, desespera-se a servidora.
Mais adiante, a funcionária pública indaga Pojo sobre o que fazer com os testes de Covid-19 que não paravam de chegar ao depósito da pasta. O ex-secretário-adjunto, então, responde: “Francisco que pediu para entregar”, referindo-se ao então secretário de Saúde, Francisco Araújo – também denunciado pelo MPDFT à Justiça como integrante da organização criminosa.
A situação logo levanta a suspeita da trabalhadora. “Se ficarmos fazendo isso, pessoal vai começar a denunciar e parar de ajudar. Tá ficando tenso isso [sic]. Temos 30 mil em estoque, não precisamos”, diz ela, na mensagem.
A servidora não responde a qualquer acusação relacionada à Operação Falso Negativo.
Conforme noticiado pelo Metrópoles, os testes superfaturados lotaram o depósito da Saúde. Conversas interceptadas apontam que a pasta estava comprando mais testes do que o necessário.
Em 9 de julho de 2020, uma funcionária da Farmácia Central fala sobre o recebimento do material e destaca o problema. Ela diz que não tem mais espaço para guardar os testes e levanta a suspeita sobre um problema na execução do contrato, pois a Saúde não estaria utilizando os exames comprados.
Confira:
O prejuízo estimado aos cofres públicos, somente com as supostas fraudes em contratos para compra de testes rápidos da Covid-19, é de R$ 18 milhões. Conforme o Metrópoles noticiou nessa sexta-feira (11/9), 15 pessoas foram denunciadas no âmbito da Operação Falso Negativo.
Foram denunciados pelo MPDFT:
Cinco deles chegaram a ser presos no dia em que foi deflagrada a operação: Francisco Araújo, Ricardo Tavares, Eduardo Hage, Eduardo Pojo do Rego, Jorge Antônio Chamon e Ramon Santana ( veja galeria abaixo ).
Logo após a operação, todos os alvos que integravam a cúpula da Secretaria de Saúde do DF foram afastados em edição extra do Diário Oficial do DF (DODF) do dia 25 de agosto.
Falso negativo
A ação investiga irregularidades em dispensas de licitações direcionadas à aquisição de testes rápidos para o combate à Covid-19, com prejuízo estimado em R$ 18 milhões aos cofres públicos, somente com as supostas fraudes em contratos.
O valor é referente ao pagamento feito pela Secretaria de Saúde à empresa Biomega Medicina Diagnóstica, em razão da compra de 150 mil testes para detecção do novo coronavírus.
Há ainda suspeição acerca do contrato com a Luna Park Importação, Exportação e Comércio Atacadista de Brinquedos Temáticos. A empresa foi a escolhida pela pasta para fornecer 90 mil testes por R$ 16,2 milhões, de acordo com a investigação.
A operação revelou que, no caso das contratações das empresas Biomega Medicina Diagnóstica e Luna Park Brinquedos, os contratos de aquisição dos testes para a detecção do novo coronavírus tramitaram em questão de minutos.
O processo cita o trâmite que consagrou a empresa Luna Park como vencedora do processo com dispensa de licitação. “Elaborado o projeto básico em tempo exíguo, foi ele analisado e aprovado em questão de minutos, quando, também minutos após, as empresas foram convocadas para o fornecimento dos testes rápidos em 24 horas”, diz trecho do documento.
Há ainda dúvidas sobre a eficácia dos testes e o pagamento de valores acima do mercado pelos produtos.
Ao Metrópoles, a defesa do ex-secretário de Saúde, Francisco Araújo, classificou a denúncia do MPDFT como “peça insubsistente”. “A acusação padece da falta de prova das alegações ali contidas. Por outro lado, o Ministério Público pediu a prisão do Secretário, acusando-o de corrupto, mas não consta da denúncia a acusação de corrupção nem lavagem de dinheiro. Essa denúncia não pode prosperar”, afirmou o advogado Cléber Lopes.
Em nota, a defesa de Ricardo Tavares Mendes classificou a denúncia como “absurdo equívoco”. “A denúncia cita Ricardo Mendes pouquíssimas vezes, a partir de fatos que não configuram qualquer crime, e até mesmo cometendo o erro grosseiro de confundi-lo com outra pessoa de mesmo nome. Claramente, o Ministério Público errou ao mencionar um médico com longa carreira dedicada ao serviço público como suposto partícipe de irregularidades. A defesa tem a convicção de que o Judiciário não cairá nesse absurdo equívoco”, destaca o texto assinado pelos advogados Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso.
O Metrópoles busca contato com a defesa dos denunciados e assim que obtiver retorno vai atualizar todas as reportagens publicadas sobre o caso.
Em nota, o Carnelós e Garcia Advogados, que representa a empresa Biomega – também investigada pelo MPDFT –, ressalta que os representantes da companhia não foram ouvidos durante as investigações. Leia o texto na íntegra:
“A denúncia contra diretores e funcionários da empresa é ato açodado, assim como também foi a deflagração de medidas de buscas e decretação de sequestro. Os representantes da companhia não foram sequer ouvidos para explicar as distorções identificadas nas investigações.
A empresa participou de um processo licitatório com outras concorrentes e venceu pelo menor preço.
A companhia informa que é um laboratório de análises clínicas, e não uma distribuidora de testes. Também não vendeu kits para testagem, mas sim a prestação de serviços para análise e determinação de laudos de exames laboratoriais referentes à covid-19.
Quanto aos insumos usados na prestação do serviço, esclarece que todos os testes utilizados nos serviços contratados pelo Governo do Distrito Federal têm aprovação da Anvisa.”
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