'Não quero ser exemplo para ninguém, só quero ser irmão de todos', diz Júlio Lancellotti em 1ª missa após veto

Dom Odilo Scherer o proibiu de transmitir a celebração pela internet

'Não quero ser exemplo para ninguém, só quero ser irmão de todos', diz Júlio Lancellotti em 1ª missa após veto
'Não quero ser exemplo para ninguém, só quero ser irmão de todos', diz Júlio Lancellotti em 1ª missa após veto

Anna Virginia Balloussier, São Paulo, Sp (folhapress) - 21/12/2025 17:01:05 | Foto: O padre Júlio Lancellotti. Foto: Reprodução/TV Brasil

Ali não havia dúvida: padre Júlio Lancellotti é um perseguido. Havia eletricidade política na primeira missa conduzida pelo clérigo desde que dom Odilo Scherer o proibiu de transmitir a celebração pela internet.

"Não quero ser exemplo para ninguém, só quero ser irmão de todos vocês, especialmente irmãos dos mais pobres, dos abandonados", disse no momento mais exaltado na manhã deste domingo (21).

Lancellotti conduziu a missa deste domingo (21) na capela da Universidade São Judas, na Mooca, zona leste de São Paulo. Agora, para a missa, só presencial.

Há uma semana, ele anunciou que as celebrações semanais realizadas na capela deixarão de ser exibidas ao vivo pela internet. Também afirmou que não deve continuar atualizando seus perfis nas redes. Sua última publicação no Instagram, uma discussão teológica, é de 10 de dezembro.

A decisão partiu do arcebispo da Arquidiocese de São Paulo, por motivos ainda não esclarecidos -na ocasião, Lancellotti divulgou uma nota falando em "período de recolhimento temporário", e dom Odilo disse à Folha que é "assunto de um bispo com seu padre". A Arquidiocese determinou uma auditoria financeira na paróquia de São Miguel Arcanjo, liderada há 40 anos por Lancellotti.

A missa começou com o clérigo acendendo velas para o Ocidente, que chamou de "prepotente", e para o norte, descrito como o lar dos poderosos, em contraposição ao sul. "Quem não sabe onde é o norte é um desnorteado."
O público lotou a capela e aplaudiu numerosas vezes. Um grupo de mulheres transgêneros levantou um cartaz onde se lia "o amor ao próximo não pode ser silenciado". Uma delas, Rafaella Stephanny da Rocha, 29, disse estar lá para ajudar o padre "que me ajuda muito".

A pregação do padre, conhecido por seu trabalho social, teve a voltagem social de praxe. Abordou a violência contra mulheres ("nesta cidade marcada por feminicídio, Maria é sinal de vida") e mirou a elite. "Os lugares mais iluminados de São Paulo" são onde "não entra Jesus, lá não entram os pobres", afirmou. "Essas luzes ofuscam e não fazem chegar Jesus."
Terminou a celebração com um lema seu: "Força e coragem, ninguém desanime!". E comungou, recebendo a hóstia, rito central na Igreja Católica.

Antes da missa, Elisa Huertas, da pastoral de comunicação da capela, anunciava um abaixo-assinado em favor do padre que contava com centenas de assinaturas. "Muitos não católicos" por ali, excepcionalmente, e expectativa de público dobrado em relação a missas passadas, ela estimava.

Huertas disse à reportagem que Lancellotti está "bastante abalado, tá chateado, mas muito firme".

A professora Teresinha Pinto, 68, afirmou ter certeza de que o clérigo é alvo de perseguição. Tudo culpa de dom Odilo, disse, imputando-lhe carga ideológica. "É um cara ligado à extrema direita, sempre foi."
"Não tem nenhum sentido você proibir um padre que tenha um trabalho consistente na rua, que tenha um trabalho de evangelização, de transmitir uma mídia. A missa é muito bonita, vêm pessoas que nem são católicas", afirmou. "Hoje poucos padres têm a audiência dele. Quando ele está falando nas redes, ele está evangelizando."
O casal Luzanira Santana, 51, Donivan Paladino, 61, foi à capela com camisas estampadas com a silhueta do padre, compradas numa manifestação pró-Palestina na avenida Paulista. O que aconteceu com Lancellotti foi "um absurdo, cerceamento de liberdade", disse ela. "Eles que pregam tanta paz estão privando a pessoa de ser respeitada, de realizar uma obra assistencial tão importante".

"É censura, né?", engatou Donivan.

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