Estudo mostra que própolis dessa abelha é capaz de eliminar até 100 por cento das larvas do mosquito em até 48 horas. A descoberta foi feita por cientistas da USP, da UnB e de startups de Ribeirão Preto
São Paulo, Sp (uol/folhapress) - 07/08/2025 10:24:56 | Foto: Freepik
Uma pesquisa brasileira identificou um composto com alto poder larvicida contra o Aedes aegypti no própolis da mandaçaia (Melipona quadrifasciata), uma abelha nativa do Brasil e sem ferrão.
O estudo mostra que essa substância é capaz de eliminar até 100 por cento das larvas do mosquito em até 48 horas. A descoberta foi feita por cientistas da USP, da UnB e de startups de Ribeirão Preto e o resultado foi publicado na revista científica Rapid Communications in Mass Spectrometry, com apoio do Ministério da Saúde e da FAPESP.
A substância ativa é um tipo de diterpeno, encontrado na resina do pinus (Pinus elliottii), árvore amplamente cultivada no Brasil. As mandaçaias usam essa resina para construir e proteger seus ninhos. Segundo os pesquisadores, o contato da resina com a saliva das abelhas altera sua estrutura química e potencializa a ação larvicida.
"As abelhas são conhecidas por recolher materiais na natureza para compor a colônia, que em certos casos podem atuar protegendo contra bactérias e fungos invasores. Fizemos uma série de análises na geoprópolis, que mistura resinas vegetais com partículas de terra ou argila em sua composição [a própolis tradicional é feita apenas com resinas, cera e secreções das abelhas]. Observamos que o diterpeno presente nela era responsável pela atividade larvicida", disse Norberto Peporine Lopes, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP).
Nos testes realizados, o própolis tradicional da abelha europeia Apis mellifera teve efeito mínimo. Já a geoprópolis da mandaçaia matou 90 por cento das larvas em um 24 horas e 100 por cento em 48 horas.
Mesmo outras abelhas nativas, como jataí e mirim, não mostraram o mesmo efeito. Isso reforça que a combinação entre a resina do pinus e o metabolismo da mandaçaia é o diferencial.
"Era sabido que a composição química da própolis é influenciada pelas resinas coletadas para a construção e proteção dos ninhos, assim como pela composição florística do ambiente, do bioma e de fatores sazonais. Nesse caso, ficou claro que a resina do pinus, processada pela saliva das mandaçaias, é que proporciona a ação larvicida", disse Luís Guilherme Pereira Feitosa, primeiro autor do artigo, realizado com apoio da FAPESP durante doutorado na FCFRP-USP.
Apesar do resultado promissor, o volume de própolis produzido por essas abelhas é pequeno. Por isso, os cientistas sugerem copiar o processo em laboratório. Como o pinus já é usado na indústria, seria possível extrair o diterpeno e reproduzir sua transformação química usando biorreatores, equipamentos comuns em fábricas de medicamentos.
Além disso, o mesmo projeto resultou em outro achado: um óleo essencial, também com ação larvicida, já testado em pó e comprimido. O pó mata as larvas de imediato. O comprimido tem efeito prolongado e protege a água por até 24 dias. A pesquisa abre caminho para o desenvolvimento de produtos naturais, eficazes e menos tóxicos ao meio ambiente no combate à dengue, zika, chikungunya e febre amarela.
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