Fico na torcida para que mais propriedades se engajem em ações do tipo, o mais rápido possível.
Estadão Conteúdo - 10/05/2020 12:24:30 | Foto: Pixabay
A gente já sabe que a pandemia atingiu com tudo o turismo no mundo todo. Ao longo deste processo, mais de 100 milhões de empregos no setor devem ser eliminados e atualmente o tráfego aéreo chega a cair estarrecedores 95% no mundo – entre tantos outros efeitos, como o fechamento provisório de tantos hotéis.
Na semana passada, falei na minha coluna sobre hotelaria no Panrotas, a Hotel Inspectors, sobre a importância da indústria hoteleira enfrentar esta fase com foco em solidariedade. De doação de cestas básicas a comunidades dos arredores à cessão de seus quartos ociosos para profissionais da saúde, tem muito hotel, no Brasil e no mundo, fazendo bonito nestes tempos tão duros. E nós seguramente lembraremos destas empresas quando for seguro viajar novamente.
Mas hoje eu quero trazer aqui um caso específico: de lodges e camps de safari na África que estão investindo pesado para manter suas comunidades e a vida selvagem de suas reservas a salvo nestes meses. Com as medidas de quarentena ou lockdown acontecendo quase que no mundo todo, o turismo, que era a principal – quando não a única – renda destes lugares, simplesmente desapareceu. E o desaparecimento dos turistas trouxe de imediato um inesperado efeito: o aumento da ação de caçadores e contrabandistas.
Foto: Mari Campos
Duas redes de camps de safáris que eu admiro muito, a Great Plains Conservation e a Gamewatchers Safaris/Porini Camps, estão desde março travando esta dura batalha sem medir esforços. Não demitiram nenhum de seus funcionários e investiram importantes somas para manter não apenas seus funcionários, mas também as comunidades dos seus arredores, seguros e assistidos, incluindo compra de suprimentos médicos e criação de facilidades de emergências médicas. Além disso, nos dois casos, as empresas estão usando seus rangers e equipes de voluntários para manter suas concessões constantemente patrulhadas, impedindo o acesso de caçadores e contrabandistas de marfim. Dereck Joubert, fundador da Great Plains, está pessoalmente atuando nestas patrulhas, tanto por terra (à pé e nos carros de safári do grupo) quanto por ar (utilizando sua aeronave pessoal para sobrevoar constantemente o território).
Nos dois casos, apesar dos investimentos que estão fazendo, eles precisam agora também da colaboração externa para conseguir custeando tudo isso ao longo de tantos meses sem turistas pela frente. A Great Plains está recendo doações na Great Plains Foundation e no Rhino Without Borders, os dois braços específicos de assistência do grupo – e é possível doar qualquer quantia diretamente em seus websites, com um par de cliques. Já a Gamewatchers Safaris criou a campanha online ‘Adopt an Acre’, cujas doações começam em 35 dólares – e as doações mais polpudas poderão ser usadas também como crédito de igual valor para futuras hospedagens nas propriedades do grupo até 2022. Dá para ler mais sobre o incrível trabalho que essas duas redes fazem o ano todo em termos de preservação e conservação ambiental e cultural aqui.
Fico na torcida para que mais propriedades se engajem em ações do tipo, o mais rápido possível. E que nós, viajantes, valorizemos cada vez mais os players (propriedades, operadores, serviços) que levem a sério o turismo responsável e sustentável. Eis aí o único turismo possível.
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