Caminho Desafiador.
Por agência Brasília* | Edição: Carolina Caraballo - 12/08/2025 09:25:47 | Foto: Assessora técnica do IgesDF, Maraline dos Santos Sales nasceu na Aldeia Pataxó de Coroa Vermelha, no município baiano de Santa Cruz Cabrália | Foto: Alberto Ruy/IgesDF
No Dia Internacional dos Povos Indígenas, trajetória de colaboradora do Instituto destaca resistência, ancestralidade e representatividade.
No Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado neste sábado (9), o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF) destaca a trajetória da assessora técnica Maraline dos Santos Sales, que incorpora, em sua atuação, os valores do cuidado coletivo e da resistência ancestral.
Nascida na Aldeia Pataxó de Coroa Vermelha, no município de Santa Cruz Cabrália (BA), Maraline cresceu entre o som da língua patxohã e os ensinamentos da coletividade. Filha da terra e da tradição, aprendeu desde cedo que viver em comunidade é escutar com o coração, zelar pelo outro com respeito e valorizar o que se constrói em grupo. “Minha identidade indígena influencia tudo em mim: meu olhar, minhas escolhas, meu jeito de lidar com as pessoas”, afirma.Atualmente, Maraline é assessora técnica na área de gestão de pessoas do IgesDF, onde atua cuidando de quem cuida. Para ela, essa função se conecta diretamente com a vivência que teve na aldeia. “Crescer em comunidade me ensinou sobre escuta, zelo e responsabilidade coletiva. E é exatamente isso que levo para a minha missão profissional todos os dias”, diz.
Caminho desafiador
Maraline chegou a Brasília em busca de estudo e oportunidade, deixando para trás sua aldeia e encarando o desafio do desconhecido. “Vim sem conhecer quase nada nem ninguém. E mais difícil do que a distância física, às vezes, é lidar com o desconhecimento que as pessoas ainda têm sobre quem somos”, relata.
A colaboradora do IgesDF conta que já ouviu frases como “Você anda pelada na aldeia?” ou “Índio pode ter celular?”. Perguntas que, além de ofensivas, revelam o peso dos estereótipos e o desconhecimento persistente sobre os povos indígenas.
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Mesmo nunca tendo se sentido obrigada a justificar sua origem, Maraline reconhece que, em alguns momentos, precisou se posicionar com firmeza. “Ser indígena não é ter uma aparência única. Não vivemos todos na floresta. Estamos nos espaços urbanos, estamos estudando, trabalhando, liderando. E isso também é ser indígena. O que não dá é aceitar que apaguem nossa essência ou nos reduzam a uma imagem distorcida”, pontua.
Sua presença no IgesDF representa mais do que um crachá de colaboradora – carrega toda uma vivência de resistência e visibilidade. “Estar aqui é ocupar um espaço que, por muito tempo, nos foi negado. É mostrar que podemos contribuir com competência e, ao mesmo tempo, com leveza e autenticidade, sem precisar abrir mão de quem somos”, ressalta.
Quando perguntada sobre que conselho daria a jovens indígenas que sonham em ocupar espaços profissionais como o seu, ela responde com a sabedoria de quem abriu caminhos: “Leve sua história com você. Ela não te limita, ela te impulsiona. Dá para crescer, ocupar espaços e continuar sendo quem você é. E quanto mais a gente chega, mais outros se enxergam também. É sobre abrir caminho sem perder a essência”.
Acolhimento
Gerente-geral de Pessoas do IgesDF, Elaine Silvestre ressalta que receber Maraline na equipe tem sido uma experiência de troca e aprendizado: "Aqui no IgesDF, acolhemos com base na capacidade técnica e buscamos construir um ambiente seguro, onde todos possam se expressar com liberdade. Ter uma equipe plural, com pessoas como ela, nos ajuda a combater estigmas e enriquece não só os projetos, mas também as relações humanas”.
*Com informações do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF)
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