Por duas vezes Vale ignorou plano de emergência que poderia ter evitado 270 mortes em Brumadinho

Dados são do relatório de investigações apresentado nesta quarta-feira (25) pela superintendência do trabalho de MG

Por duas vezes Vale ignorou plano de emergência que poderia ter evitado 270 mortes em Brumadinho
Por duas vezes Vale ignorou plano de emergência que poderia ter evitado 270 mortes em Brumadinho

Amélia Gomes-brasil De Fato -belo Horizonte (mg) - 27/09/2019 12:04:21 | Foto: Marcelo Cruz

No dia do rompimento, a Vale fazia um estudo da situação da estrutura visando a remineração dos rejeitos da barragem

Uma perfuração de 68 metros de profundidade pode ter sido o gatilho que levou a barragem B1 da mineradora Vale, ao colapso total no dia 25 de janeiro deste ano. A conclusão foi apresentada exatamente oito meses após a tragédia que devastou a cidade de Brumadinho e toda a bacia do Paraopeba. O apontamento é resultado das investigações realizadas por auditores fiscais do trabalho de Minas Gerais, apresentadas nesta quarta-feira (25).

No dia do rompimento - considerado o maior acidente de trabalho com barragens no mundo - a Vale fazia um estudo da situação da estrutura visando a remineração dos rejeitos da barragem. No procedimento era utilizada uma sonda que perfurava a barragem com um jato d'água, o que é proibido pelas normas de mineração. A força empregada pela sonda com a perfuração foi a fator decisivo para o colapso da estrutura. Isto porque desde 2016 a barragem já estava em uma situação de iminente rompimento.

Histórico de negligência

A perfuração foi o gatilho, mas o alto índice de água da estrutura levou, em longo prazo, a barragem ao colapso. Para se ter uma ideia da quantidade de água que havia na estrutura, um levantamento feito pelos auditores apontou que, para que a barragem fosse considerada segura, seria preciso uma drenagem de 98 metros cúbicos de água por hora, durante um ano e meio. Isto porque a drenagem do empreendimento era completamente ineficiente. Entre a lista de negligências apresentada pelos auditores estão: drenos quebrados, canaletas de escoamento assoreadas e trincadas, disposição inadequada dos rejeitos, formação de lençóis nos diques da estrutura, etc.

Por isto, desde 2016 a barragem não tinha condições efetivas para obter o laudo de estabilidade, documento necessário para continuar operando. No entanto, ao invés de realizar um procedimento sério de drenagem da estrutura, a mineradora optou por burlar os dados sobre a segurança da barragem para conseguir a declaração e continuar operando. A barragem estava muito fragilizada. Para uma drenagem mais eficiente seria preciso paralisar as atividades e acionar o Plano de Emergência para retirada dos trabalhadores e da comunidade", declara Marcos Botelho, um dos auditores fiscais que participou das investigações.

Vale ignorou acionamento do Plano de Emergência por duas vezes

Pouco tempo depois, em junho de 2018, a empresa novamente negligenciou o acionamento do Plano de Emergência. Durante um processo de tentativa de drenagem da barragem, a estrutura sofreu uma fratura e ficou ainda mais comprometida. Novamente a mineradora assumiu o risco do rompimento. "Quando você tem esse tipo de ocorrência a barragem entra no nível 3 de risco e a mineradora precisa comunicar a Agência Nacional de Mineração sobre a situação e também deve acionar o Plano de Emergência de Barragem de Drenação. No entanto, nada disso foi feito", ressalta o auditor fiscal do trabalho Mário Parreiras, que também participou das investigações.


A estrutura fraturada, as inúmeras anomalias na barragem, o excesso de água na estrutura, o aumento das chuvas no último trimestre de 2018 e a perfuração na barragem foram os principais fatores que ocasionaram o colapso da estrutura.

Além do relatório das investigações, apresentado pela Superintendência do Trabalho, o órgão também aplicou 21 autos de infração contra a mineradora. A Vale já recorreu das acusações. Agora um grupo de auditores fiscais independentes irá avaliar as acusações e poderá definir multas e sanções à empresa.

Edição: Elis Almeida

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