Entrada verde da Pousada da Alcobaça
Agora Noticias Brasil - 03/09/2020 19:51:05 | Foto: Divulgação
À frente do refúgio em Correias, Dona Laura chega aos 90 anos em grande forma, com verve e cozinha superafiadas
“Ai de quem chamá-la de senhorinha fofa”, avisa logo a neta e jornalista Maria Prata, que faz parte do numeroso clã familiar — dez filhos (dois falecidos), nove netos, cinco bisnetos — que, desde o último dia 9, estão indo a Correias, em grupos pequenos, para festejar os 90 anos de Dona Laura, a educadora de raiz (e essência), mentora e condutora da mais emblemática das pousadas do Rio: a Alcobaça.
Foi no final dos anos 1980 que Laura e o marido, Mário, compraram parte de uma fazenda da família e transformaram o bonito casarão normando, erguido em 1914, em pousada. Chamaram de Alcobaça em alusão aos ancestrais portugueses. E lá se vão quase quatro décadas.
.
São 30 mil metros quadrados de jardim centenário, farto em bromélias, rosas, orquídeas, acácias, jasmins. Dona Laura conhece cada uma das árvores e plantas que lá estão, já que grande parte foi plantada por ela. “Gosto de deixar que façam o que querem.” Caminhar cedinho pelos jardins com a matriarca é o programa preferido da atriz Regina Casé, quando está na pousada. “Ela diz coisas assim ‘essa árvore é chata, essa outra é antipática’. Isso só tem o direito de dizer quem tem intimidade com as plantas. Ela tem toda. Sou assim também”, observa.
Cozinheira de mão cheia, Dona Laura não precisou muito para fazer da Alcobaça uma referência de boa mesa na Serra, fama que jamais perdeu ao longo de todos esses anos. Sua feijoada light, servida em panelões lindamente dispostos na cozinha da casa, entre fogões antigos, tachos de cobre e flores colhidas do jardim, já ganhou as páginas do “New York Times”. “Ela faz a melhor feijoada do mundo e um cozido divino”, atesta Pedro Bial, que, além de ser pai das bisnetas Laura (em homenagem à matriarca, claro) e Dora, é um antigo frequentador da Alcobaça.
Segundo a filha mais velha, a jornalista, escritora e teatróloga Marta Góes, a feijoada é light porque as carnes não são cozidas junto com o feijão. Um vegetariano pode perfeitamente comê-lo com couve, abóbora, mandioca e farofa. “O que pesou nessa criação foi o fato de minha mãe ter sempre feito regime para emagrecer.”
Na cozinha, Dona Laura tem teorias particulares. Implica, discretamente, com os vegetarianos e justifica. “Os elefantes são herbívoros e nem por isso são magros.” Ponto de carne? Seu cardápio não deixa dúvidas: “Não servimos bife bem passado”, traz escrito de seu próprio punho. Para os que não encaram uma carne sangrenta, ela sugere… uma carne assada. “Acho isso maravilhoso, porque nós, chefs, estamos sempre tendo de dar mil voltas, é uma chateação. Ela encerra a questão já no menu”, ressalta Roberta Sudbrack. “Uma vez, estive lá no verão e presenciei um hóspede reclamando que não tinha ar-condicionado. Ela ouviu, olhou para ele e disse : ‘Ora, abra as janelas, você está na Serra’”.
Laura Jacobina Lacombe Góes, que vem de uma família tradicional de educadores, fundadora do Colégio Jacobina, tem tiradas divertidas e conversa saborosa. É culta, viajada e dona de uma verve espetacular. “Giulia, minha filha, que era uma criança chatíssima para comer, aprendeu a gostar de peixe lá, graças à sabedoria da Dona Laura. Em casa, não comia nada; na Alcobaça, comia tudo”, lembra a atriz Lilia Cabral.
Em 2011, que entrou para história como o ano em que a Região Serrana do Rio presenciou um dos piores temporais de sua história, o setor de hotelaria foi afetado. Correias, nem tanto, mas Petrópolis ficou uma penúria. Foi aí que apareceu o ator Tarcísio Meira, dizendo na novela “Insensato coração”, que ia “passar o fim de semana em Petrópolis, dar um pulo até Correias, se hospedar na Pousada da Alcobaça, comer muito bem e conversar com a Dona Laura”. A pousada lotou.
Laura teve três escolas, sendo que uma delas foi instalada no mesmo terreno da pousada. Ela chegou a ter 50 alunos, que recebiam educação moderna. “Todos os lugares por onde minha mãe passou, ela abriu uma escola”, atesta o filho Leco Góes.
Comentários para "Pousada da Alcobaça é referência na Serra há quase quatro décadas":