Temendo ataques bolsonaristas, Marcha de Mulheres Indígenas deve reunir milhares em Brasília

Mulheres Kayapó chegam ao acampamento da II Marcha Nacional das Mulheres Indígenas

Temendo ataques bolsonaristas, Marcha de Mulheres Indígenas deve reunir milhares em Brasília
Temendo ataques bolsonaristas, Marcha de Mulheres Indígenas deve reunir milhares em Brasília

Murilo Pajolla - Brasil De Fato | Lábrea (am) - 07/09/2021 09:36:29 | Foto: Anmiga

Caravanas de manifestantes começam a chegar nesta terça-feira (7), em meio a atos pró e contra Bolsonaro

Cerca de 4 mil mulheres de 150 povos originários começam a desembarcar em Brasília nesta terça-feira (7), Dia da Independência, para participar da Segunda Marcha das Mulheres Indígenas, prevista para terminar no sábado (11).

No feriado, a capital federal é palco de manifestações pró e contra o governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Os atos devem começar, respectivamente, na Esplanada dos Ministérios e no estacionamento da Torre de TV, com acompanhamento da Polícia Militar (PM).

Temendo ataques de bolsonaristas e defensores da política anti-indígena conduzida pelo governo federal, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que organiza a mobilização, aderiu ao esquema de segurança proposto pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF).

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“Não vou generalizar, mas são pessoas que têm demonstrado um ódio muito fluido, que não têm escrúpulos em nos atingir. Então a gente vai se resguardar de uma agenda de violência que está anunciada”, afirma, referindo-se a partidários de Bolsonaro, Christiane Julião, do povo Pankararu de Pernambuco, uma das organizadoras da Marcha.

Neutralidade

O acampamento indígena foi transferido da Praça da Cidadania para o prédio da Funarte. Ao longo do dia, a prioridade das lideranças será recepcionar as caravanas vindas de várias regiões do país, sem se envolver com os protestos.

“É claro que fica o medo, a insegurança. Mas mesmo assim a gente está aqui firme. Acreditando no nosso propósito de lutar por aqueles que nos antecederam, garantiram nossos territórios. A gente continua nessa luta, cobrando essa dívida histórica no Brasil”, afirma Christiane.

Segundo a liderança, a orientação para as mulheres indígenas é não interagir com as manifestações. “Por mais que todo mundo saiba que somos contra Bolsonaro, nós não vamos fazer eco a movimento algum, nem pró nem contra o governo”, explica.

Contra o “marco temporal”

Com o tema "Mulheres originárias: Reflorestando mentes para a cura da Terra”, a marcha também tem por objetivo manter a estratégia de sensibilizar o Supremo Tribunal Federal (STF).

A partir de quarta-feira (8), a Corte volta a julgar o “marco temporal”, tese jurídica defendida por Bolsonaro que impede indígenas de reivindicarem terras não ocupadas até a data da promulgação da Constituição Federal de 1988, restringindo processos de demarcação.

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"Caso a tese seja referendada, teremos a paralisação das demarcações e certamente pedidos de revisões de terras já demarcadas", explica Paloma Gomes, assessora jurídica do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

"Nós teremos ainda mais a ausência de políticas públicas destinadas aos indígenas, teremos mais violência, mais expulsões dos povos originários. Enfim, um processo de absoluto extermínio da cultura e dos povos indígenas no nosso pais", complementa a advogada.

As manifestantes se juntarão aos cerca de mil indígenas remanescentes do acampamento “Luta Pela Vida”, que teve início em 22 de agosto e chegou a reunir 6 mil pessoas. Segundo a Apib, que organizou o evento, foi a maior mobilização indígena da história do Brasil.

“Qual independência?”

Sob fogo-cerrado do governo federal, que promove ataques por múltiplas frentes contra os indígenas denunciados por lideranças no Brasil e no exterior, Christiane, organizadora da marcha, diz que os povos originários não têm muito a celebrar no Dia da Independência.

“Eu não sei qual independência o Brasil busca, se vive numa represa colonialista, represado psicologicamente e afetuosamente num sistema patriarcal e não sabem o que é realmente liberdade. Não sabem”, opina a liderança indígena.

Edição: Leandro Melito

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