COP30 em Belém não é um fim, mas um marco para um processo contínuo, diz coordenadora da presidência
Guilherme Correia - Agência Sputnik Brasil - 28/10/2025 11:36:47 | Foto: © Sputnik / Sputnik Brasil / Guilherme Correia
Na região de Tomé-Açu, no nordeste do Pará, agricultores transformaram áreas degradadas em uma espécie de mosaico produtivo de floresta e lavouras de diferentes culturas.
Em meio ao calor úmido e à diversidade da vegetação amazônica, o açaí e o dendê são algumas das principais matérias-primas produzidas ali, que abastecem mercados nacionais e internacionais.
COP30 em Belém não é um fim, mas um marco para um processo contínuo, diz coordenadora da presidência
O município Tomé-Açu, de pouco mais de 80 mil habitantes, tem sido um dos pólos de produção sustentável na Amazônia, por meio da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA).
São 96 anos de história, quase um século, com 170 associados que cultivam no chamado sistema agroflorestal, modelo que combina diferentes espécies agrícolas e árvores nativas em um mesmo espaço. A técnica vai na contramão do avanço da monocultura, que ainda domina parte do território amazônico.
Na região, a diversidade tem sido a base da produtividade, misturando cacau, cupuaçu, andiroba, pimenta-do-reino, banana e outras espécies adaptadas ao clima úmido como forma de buscar uma paisagem mais verde o ano inteiro, com colheitas alternadas que garantem renda contínua às famílias.
"O sistema agroflorestal protege o solo, mantém a umidade e ajuda a enfrentar períodos de seca extrema. Na última estiagem, por exemplo, não tivemos perda de árvores e conseguimos manter a produção", afirma Pedro Silva, coordenador técnico da CAMTA, à Sputnik Brasil.
Segundo ele, o modelo "se manteve resiliente às mudanças climáticas e tornou a produção mais estável". A cooperativa processa parte das colheitas em polpas, óleos e manteigas vegetais que são exportados para a Europa, países vizinhos e Ásia, com ênfase em China e Índia.
Segundo Silva, cada hectare manejado de forma consorciada pode gerar até três vezes mais lucro do que uma monocultura tradicional, além de recuperar solos antes degradados. " O produtor entende que cuidar da floresta também é cuidar da produção. O que antes era visto como obrigação ambiental, agora é parte do negócio", explica Silva.
A CAMTA não atua apenas como compradora de produtos primários: há agroindústria de polpas (fundada na década de 1980), unidades de extração de óleos e linhas de embalagem que agregam valor à produção local.
Entre os produtos que hoje ganham mercado estão polpas de açaí, cupuaçu e cacau, óleos de andiroba e outros insumos para cosméticos e alimentos. Alguns fornecedores atendem empresas como a Natura, por exemplo.
O presidente da CAMTA, Alberto Oppata, defende uma modernização "gradual" das plantações devido à necessidade climática. "Algumas áreas estão se tornando improdutivas. Então, está na hora de renovar", afirmou Oppata.
"Essa renovação, nós estamos fazendo um trabalho gradativo para que possam ser reformadas. Hoje estamos com 45 mil hectares, menos da metade ainda em produção."
O dirigente explicou que o processo de renovação segue limites ambientais definidos por lei no Brasil. Propriedades cuja exploração se iniciaram antes de 1996 poderiam ter até 50% de seu território com produção de agricultura.
A partir daquele ano, por meio da Medida Provisória 1.511/1996, todas as propriedades na Amazônia Legal já deveriam obedecer uma nova exigência de 80% de vegetação nativa como Reserva Legal.
"Depois da Segunda Guerra Mundial, a pimenta-do-reino deu um boom econômico, mas uma doença, na década de 1960, dizimou a produção", relatou. "De um ano para o outro, perdemos tudo por causa de uma praga chamada Phytophthora capsici."
A retomada só foi possível, segundo ele, graças à cooperação técnica e à diversificação de culturas.
Oppata agradeceu a entidades como a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) pelo apoio e defendeu a influência e legado cultural dos imigrantes japoneses na culinária e nas tradições da região, que fundaram a cooperativa.
Ernesto Suzuki, dono de uma das terras que têm produção com tal diversidade, ressaltou que as culturas têm ciclos longos e podem ser renovadas.
"O açaí é muito sensível à falta de água aqui, se não é irrigado. Mas, nesse sistema, nós observamos que não secaram, apesar da seca no ano passado. Claro que a produtividade caiu de 30 a 35%, de uma forma geral, mas o sistema se manteve."
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