O ato buscou denunciar a interferência dos EUA nas instituições brasileiras.
Gustavo Zeitel, São Paulo, Sp (folhapress) - 25/07/2025 16:26:09 | Foto: Herton Escobar/USP Imagens/Reprodução
Manifestantes de diversas entidades da sociedade civil se reuniram, na manhã desta sexta-feira (25), no salão nobre da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, no centro de São Paulo, para defender a soberania nacional.
O ato teve como objetivo protestar contra a taxação anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que entra em vigor a partir de 1º de agosto. Durante o protesto, a psicóloga e a ativista pelos direitos da população negra, Cida Bento, autora do livro "O Pacto da Branquitude" leu, acompanhada da vice-diretora da faculdade, Ana Elisa Bechara, a "Carta em Defesa da Soberania Nacional".
"Exigimos o mesmo respeito que dispensamos às demais nações. Repudiamos toda e qualquer forma de intervenção, intimidação ou admoestação, que busque subordinar nossa liberdade como nação democrática. A nação brasileira jamais abrirá mão de sua soberania, arduamente conquistada. Mais do que isso: o Brasil sabe como defender sua soberania", diz um trecho da carta.
Aos gritos de "sem anistia", os manifestantes, que lotaram as galerias do salão, também criticaram a revogação dos vistos para entrada nos Estados Unidos que atingiu ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), prestando solidariedade ao Judiciário e ao Ministério Público.
O ato buscou denunciar, assim, a interferência dos EUA nas instituições brasileiras e nos assuntos internos do país. Participaram da manifestação mais de cem entidades da sociedade civil, como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o grupo Prerrogativas, a UNE (União Nacional dos Estudantes), além do Instituto Vladimir Herzog e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa).
A convocação para o ato foi assinada por Bechara e pelo diretor da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), Celso Campilongo.
"Quando a soberania de uma nação está sendo ameaçada, não está em jogo apenas a posição de um país. Mas o que está em jogo é uma ordem mundial que seja democrática e que respeite o direito internacional, disse Campilongo, em seu discurso.
Em dado momento, os manifestantes entoaram o cântico "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor", tradicional nos jogos da seleção.
No salão nobre, o verde e amarelo da bandeira se fazia presente em faixas nas janelas. Na ocasião, todos os presentes também cantaram o hino nacional. O ex-jogador de futebol e ídolo do Corinthians, Walter Casagrande Junior esteve no local e foi tietado antes e depois do ato.
Também aderiram ao protesto o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra), a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e a Força Sindical. Ex-ministro da Casa Civil no primeiro governo Lula, José Dirceu compareceu ao ato.
"O Brasil sempre respeitou a solução pacífica dos conflitos internacionais e a não intervenção nos assuntos de outros países. O Brasil nunca teve um conflito grave comercial com os Estados Unidos. Isso é um pretexto da administração do Trump. O objetivo dela é político: é a família Bolsonaro, a anistia, as big techs, e é também o objetivo de interromper a caminhada do Brasil por uma soberania tecnológica e financeira", disse Dirceu, destacando que trabalha com o PT para lançar sua candidatura ao cargo de deputado federal no ano que vem.
"Não creio que o ato tenha relação com as eleições. Muitos podem querer a frente ampla, mas aqui o importante é a soberania e a democracia."
Dirceu foi condenado no escândalo do mensalão por corrupção ativa e teve o mandato cassado na Câmara por quebra de decoro, tendo recebido indulto em 2016. Também foi condenado na Operação Lava Jato, por corrupção passiva, recebimento de vantagem indevida e lavagem de dinheiro, mas obteve a anulação das sentenças em 2024.
Os organizadores se inspiraram no ato de 11 agosto de 2022, quando setores da sociedade civil se uniram, no mesmo Largo de São Francisco, e leram uma carta em defesa do Estado democrático de Direito. Naquele contexto, havia o temor de que a reeleição de Jair Bolsonaro (PL) pudesse ocasionar uma ruptura institucional. Realizado meses antes do pleito, aquele evento ajudou a pavimentar a frente ampla então encarnada pelo presidente Lula (PT).
O aumento em 50% no valor dos produtos exportados para os EUA, como anunciado pelo presidente americano Donald Trump, causará impactos na economia brasileira. Afinal, o mercado americano é o segundo maior destino das exportações do Brasil, só perdendo para a China. Entre os produtos mais vendidos Brasil para os EUA, estão o café, a carne e o suco de laranja. Trump anunciou o tarifaço porque, segundo ele, está em curso uma perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu no STF pela trama golpista.
Para José Eduardo Cardozo, que defendeu a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no processo de impeachment, é fundamental que a pauta da soberania tenha adesão dos governadores.
"É uma luta travada contra aqueles que querem colocar o país de joelhos, aqueles que não querem que o poder venha do povo brasileiro. Se alguém concorda ou discorda do governo, isso é uma questão interna nossa. Jamais podemos admitir que as ordens venham do exterior para tentar coagir as instituições", afirmou.
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