Lembre filmes de Brigitte Bardot, que despontou com 'E Deus Criou a Mulher'
São Paulo, Sp (folhapress) - 28/12/2025 16:18:31 | Foto: Reprodução Paradiso internet
É uma passagem curta de sua biografia, inofensiva em obituários estrangeiros que lembram a trajetória de Brigitte Bardot neste domingo, quando sua morte, aos 91 anos, foi informada à imprensa. No entanto, para fãs e cinéfilos brasileiros, é difícil esquecer a passagem da atriz pelo Brasil, em 1964 –mais especificamente em Búzios, onde uma estátua em tamanho real a eternizou à beira-mar.
Bardot veio ao país para passar o verão, acompanhada do então namorado Bob Zagury, um marroquino-brasileiro que era jogador de basquete do Flamengo no Rio de Janeiro.
Símbolo absoluto do cinema e da cultura pop àquela época, a atriz buscava se distanciar do assédio da imprensa europeia. Foi Zagury quem a levou até Búzios, então uma pequena vila de pescadores no litoral fluminense, ainda fora do circuito turístico internacional.
Mas a fama de Bardot já era incontornável e não conhecia fronteiras. Prova disso é que, quatro anos antes, ela já havia virado uma marchinha de Carnaval, de Jorge Veiga, escrita por Miguel Gustavo – "Brigitte Bardot, Bardot/ Brigitte beijou, beijou/ lá dentro do cinema todo mundo se afobou."
Relatos publicados na imprensa dão conta de que, ali, Bardot encontrou um ritmo de vida mais simples, caminhou pelas praias quase desertas e se misturou à paisagem e ao público com uma naturalidade que contrastava com sua condição estelar.
A atriz também passou pela capital fluminense e esteve no Copacabana Palace. Ela posou para fotógrafos no terraço, em registro que faz parte do livro "Copacabana Palace - Um Hotel e Sua História", do jornalista Ricardo Boechat, com fotos de Sergio Pagano e do arquivo do hotel.
Sua presença no Rio ajudou a transformar Búzios em notícia. Fotos acabaram publicadas em jornais de todo o mundo despertando a curiosidade de viajantes estrangeiros e dando início ao processo que faria do vilarejo um dos destinos mais famosos do Brasil nas décadas seguintes.
Bardot revisitou essa memória com ambivalência décadas depois. Em 2017, criticou a modernização da cidade em entrevista à emissora Radio France International, a RFI. "Guardo recordações únicas. Uma lembrança mágica, magnífica. Foi o lado selvagem do lugar que me seduziu. Mas o que Búzios se tornou hoje me deixa atordoada. É uma pena."
Lembre filmes de Brigitte Bardot, que despontou com 'E Deus Criou a Mulher'
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Brigitte Bardot, cuja carreira no cinema se encerrou em 1973 após 45 filmes rodados, trabalhou com importantes cineastas, como Roger Vadim, Louis Malle e Jean-Luc Godard. Confira obras estreladas pela artista francesa morta aos 91 anos.
"Se Versalhes Falasse" (1954), de Sacha Guitry
Um retrato da história do Palácio de Versalhes e de seus personagens.
"As Grandes Manobras" (1955), de René Clair
Um tenente francês aposta seduzir qualquer mulher da cidade antes da partida de seu regimento, mas a sua escolhida não é como as outras que ele já conheceu.
"E Deus Criou a Mulher" (1956), de Roger Vadim
Na ensolarada Saint-Tropez, Juliete, interpretada por Bardot, é cobiçada por um milionário, ama outro homem, mas acaba se casando com o irmão do amado.
"Babette Vai à Guerra" (1959), de Christian Jaque
Refugiada em Londres, uma ingênua jovem francesa é enviada de paraquedas à França ocupada para ajudar a capturar um general alemão.
"A Verdade" (1960), de Henri-Georges Clouzot
Uma jovem do interior muda-se para Paris e acaba no banco dos réus, acusada do assassinato de seu jovem amante, um maestro recém-formado no conservatório.
"Vida Privada" (1961), de Louis Malle
Uma jovem se torna estrela de cinema em Paris e, de repente, vê sua vida privada invadida por fãs insistentes e todas as complicações que isso acarreta.
"O Desprezo" (1963), de Jean-Luc Godard
O roteirista de uma adaptação de "A Odisseia" vê seu casamento entrar em crise à medida que sua mulher se envolve com o produtor, revelando sentimentos que corroem a relação.
"Viva Maria!" (1965), de Louis Malle
Nesta comédia de Malle, em um país imaginário da América Latina, Maria, personagem de Bardot, conhece outra Maria, papel de Jeanne Moreau. Juntas montam um número de circo e se envolvem com um líder revolucionário.
"William Wilson" (1968), de Louis Malle
Em um dos segmentos do filme "Histórias Extraordinárias", baseado em contos de Edgar Allan Poe, um soldado sádico é assombrado por seu duplo e Bardot interpreta uma jogadora que o desafia no pôquer.
"Shalako" (1968), de Edward Dmytryk
Aristocratas europeus atravessam o deserto do Novo México até entrar em uma reserva indígena, onde a personagem de Bardot é atacada e salva por um guia.
"As Petroleiras" (1971), de Christian-Jaque
Nesse faroeste cômico, Bardot e Claudia Cardinale encarnam a disputa entre famílias após a descoberta de petróleo na propriedade de uma delas.
Morre Brigitte Bardot, lenda do cinema francês e 'sex symbol' absoluto de uma era
INÁCIO ARAUJO, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Alguém escreveu que, antes de BB, a mulher que tinha um amante era uma sem-vergonha. Depois de BB, é uma mulher liberada. A frase pode não ser de todo correta, mas não está longe da verdade. Brigitte Bardot, morta aos 91 anos, encarnou, desde os anos 1950, a imagem da mulher leve, moderna, de porte altivo, atrevida e tímida ao mesmo tempo, insinuante e de uma beleza sem afetações -mas sobretudo mulher livre para ser e fazer o que bem quisesse.
Essa imagem se torna famosa em todo o mundo, paradoxalmente, não por causa da França, mas pelos Estados Unidos, já que "E Deus Criou a Mulher", de 1956, fracassou em seu lançamento na França e foi massacrado pela crítica. Salvaram-se Claude Chabrol, François Truffaut e Jean-Luc Godard, que de imediato viram no filme o surgimento de uma França moderna e, em Bardot, o símbolo da nova mulher francesa do pós-guerra.
Resultado –Roger Vadim, autor do filme e então marido de Bardot, relançou-o nos Estados Unidos, onde o sucesso foi grande o bastante para reverter o fracasso original, espalhar-se pelo mundo, fazer dela um "sex symbol" absoluto de sua era e, de quebra, consagrar a frase publicitária "Deus criou a mulher... e o diabo inventou BB". Com efeito, o filme hoje está um tanto ultrapassado -ainda assim, a cena que Bardot dança em cima de uma mesa ainda é memorável.
Na verdade, sua vida na arte começa pelo balé. Filha de um industrial de família tradicional e católica de Paris, nascida em setembro de 1934, começou a dançar aos oito anos. Aos 15 anos tornou-se capa da revista Elle e foi convidada pelo diretor Marc Allegret.
Duas coisas ocorreram nesse momento, no entanto. A primeira foi cruzar com Roger Vadim, então com 21 anos, encontro em que ambos se apaixonaram de imediato. A segunda foi o drama familiar que viveu, já que o pai não queria vê-la de modo algum no cinema. Bardot foi salva pelos argumentos do avô que a defendeu -"Se tiver que ser puta, essa menina vai ser com cinema ou sem. Se ela não tiver que ser puta, não é o cinema que vai mudá-la".
E lá foi ela. Em dezembro de 1952, chegando aos 18 anos, casa-se com Vadim, então com 24. O convite de Allegret primeiro não deu em nada, mas Bardot começa a obter papéis em uma série de filmes, por vezes significativos, como "Se Versalhes Falasse", de Sacha Guitry (1954), "As Grandes Manobras" (1955), de René Clair -e ainda aquele com o título sugestivo de "Desfolhando a Margarida".
A celebridade que chegou com "E Deus Criou a Mulher" foi instantânea e basicamente mundial. Ainda nos anos 1950, Kirk Douglas, fascinado por ela, quer levá-la para os Estados Unidos -sua mulher não deixa. Um Bob Dylan ainda adolescente lhe dedica uma canção.
Em 1960, Jorge Veiga lança a marchinha de Carnaval, escrita por Miguel Gustavo, que começava assim -"Brigitte Bardot, Bardot/ Brigitte beijou, beijou./ Lá dentro do cinema todo mundo se afobou." E seguia indagando: "BB, BB, BB/ Por que é que todo mundo/ Olha tanto pra você?"
Nem sempre foi um mar de alegria. Na comédia "Babette Vai à Guerra" (1959), de Christian Jaque, ela passa de sedutora fatal a garota inocente, o que, francamente, não chega a ser uma grande mudança. Ela era sedutora de um modo ou de outro.
Em "A Verdade" (1960), ela se embrenha pelo drama penitenciário. Pior: foi dirigida pelo brutal Henri-Georges Clouzot, que por alguma razão obscura o establishment cinematográfico francês da época tinha como o melhor diretor do mundo.
O mais sádico, talvez. Antes de rodar uma cena dramática, BB teve a má ideia de sorrir. Furioso, Clouzot levantou-se e pisou no pé da atriz com o salto de seu sapato. Ela chorou de dor, enquanto o diretor berrava: "Eu não preciso de amadores no meu set". Daí por diante, ele passou a motivar o choro na atriz dizendo-lhe, baixinho, as piores coisas a propósito de sua vida pessoal.
O método pode ter sido estúpido, mas, por uma vez, trouxe a crítica para o lado da atriz. O filme foi para o Festival de Veneza. As multidões se aglomeravam para vê-la. Um avião desenhou no céu as iniciais BB.
Com Louis Malle, faz "Vida Privada" (1961), com ela como atriz e personagem. Vida privada era o que BB menos tinha nessa altura dos acontecimentos. Quando rodava uma cena na Suíça, com Marcello Mastroianni, foi recebida a ovos, tomatadas e insultos vários, por suíços que lhe ordenavam de fazer suas sujeiras lá onde nasceu.
Malle gostou da ideia e incluiu uma cena em que uma "concierge" -na França, com frequência, um misto de zeladora, delatora e fiscal de costumes- ou faxineira a agride com palavras nada gentis: "Estou cheia de ver sua cara em toda parte"; "Você não vai deixar em paz esses pobres rapazes?" E depois: "Mas quem é você, afinal? Uma cadela?" E ainda "ganha milhões para se mostrar pelada". Por aí vai.
Como nem só de ser ofendida BB vivia, em 1960 mesmo ingeriu barbitúricos e cortou os pulsos no dia do seu aniversário. Estava na Côte d'Azur e foi encontrada perto de uma propriedade rural em Menton. A fama lhe dificultava até mesmo a chegada aos hospitais, pois a ambulância em que se encontrava era constantemente impedida de prosseguir pelos fotógrafos que a cercavam.
A mesma fama, o mesmo carisma lhe permitiam certas liberdades. À pergunta "o que você usa para dormir?", que Marilyn Monroe respondeu dizendo "Chanel nº 5", Brigitte responderia de modo mais atrevido -"os braços do meu amante". A resposta de Marilyn de certa forma continha a solidão que a frequentava. Outro era o caminho de BB, o amor a todo preço.
Nessa altura, sua vida pessoal já era uma bagunça. Ainda no set de "E Deus Criou a Mulher", apaixonou-se por Jean-Louis Trintignant, que por sua vez largou a mulher, Stéphane Audran –que futuramente se casaria com Claude Chabrol.
Tempos depois, já que ela tinha um romance com o cantor Gilbert Bécaud, Trintignant a abandona. Ela trocará ainda Bécaud por Sacha Distel, outro cantor da época, antes de casar com o ator Jacques Charrier, em 1959, de quem engravida. Ela não quer o filho. Diz que os nove meses de espera foram massacrantes.
Para o parto, feito em seu apartamento, montou-se uma espécie de bunker, para que a imprensa não tivesse acesso ao evento. Com tudo isso, Bardot detestou ter o filho, Nicolas-Jacques, que foi criado pela família de Charrier. Discreto, hoje ele vive na Noruega, casado com a modelo Anne-Line Bjerkan, com que teve as filhas Thea e Anna Charrier. Sobre as bisnetas, Bardot chegou a dizer que o contato era difícil, já que elas não falavam francês.
Em 1962, ela se separa do depressivo Charrier e liga-se a outro ator, Samy Frey. Em 1964, vem passar o verão no Brasil, já em companhia do namorado Bob Zagury, basicamente um playboy, que a leva até Búzios, onde ela ganhará uma estátua em tamanho natural.
Já havia aí confusão para mais de uma vida, mas ela logo se casaria com outro ricaço, Gunther Sachs, também fotógrafo, em 1966, o que não a impediu de ter um tórrido caso com Serge Gainsbourg, que compôs para ela a célebre canção "Je T'Aime Moi non Plus". Eles a gravam em conjunto, mas, por respeito a Sachs, BB pede a Serge que não divulgue a gravação. A música só vai aparecer em 1969, com Jane Birkin como parceira de Gainsbourgh -no mesmo ano, aliás, em que o casamento de BB com Sachs chega ao fim.
Malle, que com "Vida Privada" desvendaria uma existência devassada por todos os lados, parecia se dar bem com ela, tanto que a chama para o faroeste paródia "Viva Maria!", em companhia de Jeanne Moreau –encontro do mito "sex symbol" com o mito Moreau, então a principal atriz francesa, e depois para o belo "William Wilson", episódio das "Histórias Extraordinárias", baseadas em contos de Edgar Allan Poe.
Se algo ficará para sempre, no entanto, é a parceria com Jean-Luc Godard. Ela não era a preferência de Godard para "O Desprezo". Foi imposta pelo produtor americano do filme, Joseph E. Levine. Também não queria filmá-la nua. Foi imposição de outro produtor, Carlo Ponti, para quem, se estava pagando para ter BB, ela devia aparecer nua em algum momento.
Sabe-se como Godard resolveu o problema -colocando-a nua na cama junto de Michel Piccoli, de bruços, em plano médio, enquanto pergunta ao parceiro sobre as partes do seu corpo de que ele gosta -de todas.
O que há de mais célebre no filme não é nenhuma cena. É a aposta que fez com Godard. Ele não suportava a altura do penteado da atriz. Ela adorava. Ele então lhe propôs: andaria de ponta-cabeça, com as mãos no chão. E a cada passo que avançasse sem parar ela abaixaria um centímetro da célebre cabeleira. Ele conseguiu dar 11 passos. Ela pagou a aposta.
O resultado é magnifico, mas BB percebeu todo o tempo que seu papel não era outro senão o de Anna Karina, e que Godard estava, a rigor, filmando o fim de seu casamento com sua então mulher. Não reclamou, ao contrário. Tentou fazer como Karina faria, não se queixou nem mesmo da peruca de cabelos escuros que Godard lhe destinou.
Não foi nem o início nem o final de sua carreira. Mas, admita-se, daí por diante ela foi quase sempre mais célebre pelos filmes que rejeitou do que pelos que fez. Recusou, por exemplo, estar em "007 - A Serviço Secreto de Sua Majestade" (1969), dizendo: "Adoro os filmes de James Bond, desde que sem mim".
Recusou também "O Estrangeiro" (1967), dizendo que Luchino Visconti mais Albert Camus era "intelectual demais" para ela. Mas também preferiu ficar fora dos dois musicais de Jacques Demy para os quais foi convidada: "Os Guarda-Chuvas do Amor" (1964) e "Duas Garotas Românticas" (1967). Não era por nada que se dizia que BB sabotava a própria carreira. Também não quis fazer "Crown, o Magnífico" (1968), grande sucesso de Norman Jewison com Steve McQueen e Faye Dunnaway (que ficou com o seu papel).
Com efeito, fez o frouxo "As Petroleiras" (1971), de Christian-Jaque apenas pelo prazer de fazer dupla com Claudia Caridnale; topou o faroeste "Shalako" (1968), de Edward Dmytryk, nulidade em que trabalhava com Sean Connery.
Em contrapartida, quis ardorosamente filmar "A Sereia do Mississipi", desde que François Truffaut anunciou o projeto. Mas Truffaut a preteriu em favor de Catherine Deneuve. Bardot ficou furiosa e festejou quando soube que o filme era um fracasso.
Estrela maior não só cinema francês como da França propriamente dita, em 1970, ela se tornou a primeira atriz a servir de modelo para um busto de Marianne, a figura feminina símbolo da Revolução Francesa.
Em 1973, decide encerrar sua carreira no cinema, com 45 filmes rodados. Prossegue com a música até os anos 1980, tendo gravado cerca de 70 canções, inclusive o "Je T'Aime Moi non Plus", que autoriza o autor a divulgar também nos anos 1980, quando já era sucesso na parceria dele com Birkin.
Bardot já se dedicava há muito tempo à proteção da vida animal, e se dispõe a escrever à Organização das Nações Unidos, a ONU, em defesa do vegetarianismo. Ela vai intensificar seus esforços nessa direção. Mais de uma vez disse que prezava os animais muito mais do que os homens.
Só em 1992, já bem longe do cinema e até da musica, ela se casará novamente, agora com o industrial Bernard d'Ormale, conselheiro político de Jean-Marie LePen. A adesão à extrema direita que se segue começa outra e não menos escandalosa existência para BB. Conservadora, ela sempre foi e disse que era. Agora, no entanto, opunha-se ao islamismo devido à maneira como sacrificavam animais.
Mais polêmica –seu voto para Marine LePen à presidência da França. E mais um pouco: cinco condenações por ódio racial. Ela nunca as aceitou, disse que jamais incitou alguém a odiar em especial muçulmanos. No entanto, estão longe de ser gentis certas declarações contra a população muçulmana, como as de que "nos destrói, destrói nosso país, impondo-nos seus hábitos".
Também não foi propriamente gentil com os imigrantes ilegais na Europa -"clandestinos ou mendigos profanam e tomam de assalto nossas igrejas para transformá-las em chiqueiros humanos".
Em setembro de 2025, aos 91, ela lançou o livro "Mon BBcédaire", no qual ela dá sua opinião, muitas vezes incisiva, sobre o mundo. "A liberdade é ser você mesmo, mesmo quando incomoda", escreve já no prólogo.
Da "A" de abandono ao "Z" de zoológico, a atriz declara seu amor por Jean-Paul Belmondo, um "cara formidável, ator genial, engraçado e corajoso", mas opina que Alain Delon "carrega em si o melhor e o pior". Também menciona a famosa cidade de Saint-Tropez, onde comprou uma casa, "La Madrague", e lamenta que este "lindo pequeno vilarejo de pescadores" tenha se tornado "uma cidade de milionários onde já não se reconhece nem um pouco seu charme".
O distanciamento também dos franceses não foi tão menos radical. Não por acaso escreveu em seu livro "Larmes de Combat", de 2018: "Não faço parte da espécie humana. Não quero fazer parte. Eu me sinto diferente, quase anormal". E talvez por sentir-se diferente, achou, quando tratou um câncer no seio, que o melhor seria não lhe dar importância. Ideia que Jane Birkin conseguiu tirar a tempo de sua cabeça.
Nesse seu livro-testamento, ela credita à luta pelos direitos dos animais a força para ter se livrado das luzes da ribalta. Verdade seja dita, de um modo ou de outro, essas luzes nunca a abandonaram –BB pode ter tido seus defeitos, mas foi uma estrela do começo ao fim.
Brigitte Bardot virou letra de Caetano Veloso e pôs Búzios na rota do turismo mundial
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - É uma passagem curta de sua biografia, inofensiva em obituários estrangeiros que lembram a trajetória de Brigitte Bardot neste domingo, quando sua morte, aos 91 anos, foi informada à imprensa. No entanto, para fãs e cinéfilos brasileiros, é difícil esquecer a passagem da atriz pelo Brasil, em 1964 -mais especificamente em Búzios, no Rio de Janeiro, onde uma estátua em tamanho real a eternizou à beira-mar.
Bardot veio ao país para passar o verão, acompanhada do então namorado Bob Zagury, um marroquino-brasileiro. Símbolo absoluto do cinema e da cultura pop àquela época, a atriz buscava se distanciar do assédio da imprensa europeia. Foi Zagury quem a levou até Búzios, então uma pequena vila de pescadores no litoral fluminense, ainda fora do circuito turístico internacional.
Mas a fama de Bardot já era incontornável e não conhecia fronteiras. Prova disso é que, quatro anos antes, ela já havia virado uma marchinha de Carnaval, de Jorge Veiga, escrita por Miguel Gustavo - "Brigitte Bardot, Bardot/ Brigitte beijou, beijou/ lá dentro do cinema todo mundo se afobou".
Bardot também atravessou a música popular brasileira. Caetano Veloso citou a atriz em "Alegria, Alegria", canção-manifesto do tropicalismo apresentada no Festival de Música Popular Brasileira de 1967, na qual seu nome aparece ao lado de Claudia Cardinale, amiga de Bardot e outra diva da época. Elas surgem na letra como símbolos de um imaginário internacional de glamour e modernidade.
Relatos publicados na imprensa dão conta de que, em Búzios, Bardot encontrou um ritmo de vida mais simples, caminhou pelas praias quase desertas e se misturou à paisagem e ao público com uma naturalidade que contrastava com sua condição estelar.
A atriz também passou pela capital fluminense e esteve no Copacabana Palace. Ela posou para fotógrafos no terraço, em registro que faz parte do livro "Copacabana Palace - Um Hotel e Sua História", do jornalista Ricardo Boechat, com fotos de Sergio Pagano e do arquivo do hotel.
Sua presença no Rio ajudou a transformar Búzios em notícia. Fotos acabaram publicadas em jornais de todo o mundo despertando a curiosidade de viajantes estrangeiros e dando início ao processo que faria do vilarejo um dos destinos mais famosos do Brasil nas décadas seguintes.
Bardot revisitou essa memória com ambivalência décadas depois. Em 2017, criticou a modernização da cidade em entrevista à emissora Radio France International, a RFI. "Guardo recordações únicas. Uma lembrança mágica, magnífica. Foi o lado selvagem do lugar que me seduziu. Mas o que Búzios se tornou hoje me deixa atordoada. É uma pena."
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