CBF e federação de treinadores criticam declarações contra estrangeiros no futebol brasileiro

O primeiro a disparar contra os estrangeiros no Brasil foi Leão

CBF e federação de treinadores criticam declarações contra estrangeiros no futebol brasileiro
CBF e federação de treinadores criticam declarações contra estrangeiros no futebol brasileiro

Lucas Bombana, São Paulo, Sp (folhapress) - 06/11/2025 10:47:44 | Foto: Oswaldo de Oliveira critica treinadores estrangeiros - Reprodução

Deselegante, preconceituosa e inaceitável. Dessa forma, a CBF (Confederação Brasileira) e a FBTF (Federação Brasileira de Treinadores de Futebol) classificaram as declarações de Oswaldo de Oliveira e de Emerson Leão.

A dupla fez críticas à presença de técnicos estrangeiros no futebol nacional durante o 2º Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol, realizado na terça-feira (4), na sede da CBF, no Rio de Janeiro. As falas aconteceram na presença do italiano Carlo Ancelotti, treinador da seleção brasileira, convidado para receber uma homenagem dos organizadores.

O primeiro a disparar contra os estrangeiros trabalhando como treinadores no Brasil foi Leão.

"Eu sempre disse que não gosto de treinadores estrangeiros no meu país. Já falei isso e não mudo a minha opinião", afirmou o ex-goleiro no palco do evento, ao lado de Ancelotti. Aos 76 anos, ele trabalhou como técnico pela última vez em 2012, quando dirigiu o São Caetano.

Campeão do mundo com a seleção brasileira em 1970, Leão ponderou também que a culpa pela presença crescente de estrangeiros no comando de clubes no país se deve aos próprios técnicos brasileiros.

"Tenho que ser inteligente o suficiente pra dizer que isso tudo tem um culpado. Nós, treinadores, somos culpados da invasão de outros treinadores, que não têm nada a ver com isso."
Na sequência, foi a vez de Oswaldo de Oliveira pegar o microfone e também disparar contra os técnicos estrangeiros em solo brasileiro.

"Eu não queria treinador estrangeiro, mas não tinha jeito, se tivesse que ser, que fosse esse senhor [Ancelotti]. Torci para ser esse senhor", disse Oswaldo, 74, cujo último trabalho foi em 2019, no Fluminense. "Depois que ele for embora, campeão do mundo, que venha um brasileiro."
Ancelotti ouviu as declarações sem aparentar maior incômodo. Segundos relatos de pessoas presentes, o italiano já tinha conhecimento da insatisfação de técnicos brasileiros com a presença de estrangeiros, mas evitou entrar em polêmicas.

Em declaração na abertura do fórum, o treinador da equipe nacional já havia abordado a falta da presença de treinadores brasileiros em outros países.

"Uma das primeiras coisas que escutei e que não entendo é o porquê o treinador brasileiro não pode treinar na Europa? Significa que a figura é um pouco fraca", assinalou o técnico.

A CBF e a própria FBTF soltaram notas horas depois repudiando as declarações de Leão e Oswaldo de Oliveira.

"As declarações feitas durante o Fórum Brasileiro de Treinadores, dirigidas ao técnico Carlo Ancelotti e aos profissionais estrangeiros que atuam no Brasil, foram, no mínimo, deselegantes, para não dizer de outra forma, e não refletem o verdadeiro sentimento do povo brasileiro", escreveu Gustavo Feijó, diretor da CBF, em publicação nas redes sociais.

"Assim como queremos que nossos treinadores sejam tratados com respeito fora do país, também devemos acolher com consideração os profissionais que escolhem trabalhar aqui. Opiniões divergentes fazem parte do debate, mas falas preconceituosas e desnecessárias não contribuem para o processo de reconstrução e valorização do nosso futebol", acrescentou o dirigente.

A federação, por sua vez, disse que as falas de Oswaldo de Oliveira foram "inaceitáveis" e "desrespeitosas".

Segundo a FBTF, as declarações do ex-treinador "atingiram a CBF", que aceitou ceder um espaço em sua sede para receber o evento.

"Nós, treinadores de futebol, sabemos que o futebol não tem fronteiras. O técnico Carlo Ancelotti é um profissional extremamente competente, com enormes conquistas e que merece todo respeito da categoria dos treinadores", destacou a entidade.

Ainda durante o evento, o diretor da federação dos treinadores, Alfredo Sampaio, já havia condenado as declarações.

"Eu quero colocar publicamente o meu repúdio ao Oswaldo de Oliveira. Ele se comportou de forma inadequada. Estou falando isso porque ele gerou um grande problema institucional para a gente", disse Sampaio.

"Aqui, eram os treinadores brasileiros que estavam tentando se aproximar da instituição esportiva mais importante do país [...] Confesso a vocês que eu não sei se a gente vai conseguir fazer tudo que planejamos por força de uma pessoa que não teve o equilíbrio para entender onde estava e não percebeu o que não poderia ser dito."

Como evento com Ancelotti virou 'climão' na CBF

IGOR SIQUEIRA E PEDRO LOPES, RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O que estava programado para ser um momento de homenagens acabou tendo cenas de constrangimento nesta terça-feira (04) na sede da CBF, durante o Fórum de Treinadores Brasileiros. Os desabafos de Emerson Leão e Oswaldo de Oliveira sobre a presença de treinadores estrangeiros no futebol brasileiro pegaram Carlo Ancelotti, CBF e até a organização do evento de surpresa.

O "climão" foi nítido. Houve até um pedido de desculpas e uma manifestação de repúdio no fim.

O evento foi programado e organizado pela Federação Brasileira de Treinadores de Futebol (FBTF). A entidade, presidida pelo técnico Vagner Mancini, vem buscando há tempos uma aproximação institucional com a CBF. No começo do mês passado, esteve na confederação para um encontro com o presidente Samir Xaud e também com Ancelotti.

Foi nesse contexto que a FBTF pediu à CBF apoio para o evento - isso incluiu a cessão do espaço físico na sede da confederação. Como parte do processo de aproximação, a FNTF incluiu na pauta uma homenagem a Carlo Ancelotti.

Técnicos da geração de Leão e Oswaldo de Oliveira também são lembrados para momentos de homenagem como uma referência ao que fizeram no passado. Por isso, os dois receberam placas e o microfone, pouco depois da fala inicial de Ancelotti. Mas a participação deles degringolou.

Pessoas que convivem com o treinador da seleção brasileira dizem que ele tem consciência da resistência que enfrenta com seus companheiros de profissão brasileiros.

Mais do que isso, Ancelotti considera importantes a aproximação e o intercâmbio com os treinadores locais. Por isso, aceitou o convite.

Nas primeiras horas do evento, tudo transcorreu da forma esperada - Ancelotti foi tratado com educação e até reverência pelos vários treinadores presentes. Chegou a conversar amigavelmente, inclusive, com Emerson Leão.

Até que, já no palco, tudo fugiu do roteiro. Ancelotti observou, em silêncio, os desabafos de Leão e Oswaldo. O segundo finalizou esbravejando: "Depois que ele sair, campeão do mundo, que venha um brasileiro".

Ancelotti fez careta, pareceu entrar na "brincadeira". Seu filho Davide, que comanda o Botafogo, era outro técnico estrangeiro no ambiente.

A CBF entendeu as falas deselegantes e desnecessárias, principalmente considerando que a própria entidade tinha cedido o espaço e seu treinador, que foi apresentado como convidado de honra, acabou quase que emboscado. Pegou mal.

Apesar do constrangimento, o italiano levou tudo na esportiva. Não respondeu aos colegas. Ao estafe da seleção, indicou que compreende a situação, e deixou a CBF sem demonstrar qualquer incômodo mais profundo.

O aumento de estrangeiros fez parte do debate posterior entre os treinadores. Hélio dos Anjos, por exemplo, pontuou que isso seria interessante para os empresários, que conseguem movimentar comissões com negociações do exterior.

Fernando Diniz, ex-seleção e hoje no Vasco, disse que há uma tolerância maior aos estrangeiros nos clubes, mesmo quando têm os mesmos resultados (negativos) que os brasileiros.

Um outro convidado do exterior, o espanhol David Gutiérrez, da Federação Espanhola, mencionou que o tema técnicos estrangeiros também é presente em seu país. Ancelotti, inclusive, é um italiano que estava lá.

"O importante é que o treinador nacional tenha o nível suficiente para que só venham treinadores que aportem algo para o país. Que os que venham possam somar e ajudar a competição dos treinadores. Nossa preocupação não é que não venham, mas que nos ajudem a ser melhores", afirmou.

Como Vagner Mancini precisou sair ainda no início da tarde para dar treino no Red Bull Bragantino, o celular de Alfredo Sampaio, que o substituiu como representante principal da FBTF, não parou.

REPÚDIO
Depois da última palestra, Alfredo fez os agradecimentos aos participantes, relatou que escreveu um pedido de desculpas à CBF e verbalizou a revolta com as falas da parte da manhã.

"Eu não sou de ficar de rodeios. Quero colocar aqui publicamente o meu repúdio ao Oswaldo de Oliveira. À forma com a qual ele se comportou, de forma inadequada. Estou falando isso porque ele gerou um grande problema institucional para a gente. Desde a hora que começou, estou aqui ao telefone. A diretoria, com toda a razão, se sentiu atingida pelo vexame que foi dado e pelo que saiu na imprensa", disse Alfredo, que engatou:
"Estou dividindo isso com vocês porque vejo uma coisa planejada com tanto carinho, tanto empenho ser perdida por causa de um comportamento inadequado. Fica aqui o meu repúdio, pela postura inadequada que teve em um evento tão importante. Aqui, eram os treinadores brasileiros que estavam tentando se aproximar da instituição mais importante que tem no país, que está dando abertura e mudando o futebol brasileiro. Hoje, confesso que não sei se vamos conseguir fazer tudo o que planejamos por força de uma pessoa que não teve o equilíbrio para entender onde estava e não percebeu o que não poderia ser dito".

Alfredo Sampaio terminou aplaudido pelos participantes que ficaram até o fim

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