Madalosso começou a duvidar de suas escolhas.
São Paulo, Sp (folhapress) - Marcella Franco - 02/06/2025 09:51:29 | Foto: Reprodução da Internet
Na trama, Maria João é uma jornalista na casa dos 30 anos que descobre sofrer de arritmia cardíaca e se vê diante das dúvidas e medos que um problema de saúde pode trazer.
Logo depois da publicação de "Suíte Tóquio", a curitibana Giovana Madalosso, de 50 anos, já tinha decidido do que trataria seu próximo livro: menopausa. "Eu sabia que era um assunto que ia bombar. Ia falar sobre a crise da mulher aos 50 anos", lembra.
No entanto, Madalosso começou a duvidar de suas escolhas. Até que um dia, dirigindo por São Paulo, passou em frente a um hospital e a história tomou outro curso.
"Eu vi no ponto de ônibus uma mãe arrumando o lenço na cabeça de uma menina que estava carequinha, imagino que estivesse fazendo quimioterapia. Comecei a chorar muito, e olha que eu não choro fácil. Pensei: esse choro é um sinal. Eu tenho que escrever outro livro, quero levar essa mãe para a literatura."
A cena que comoveu Madalosso resvalou em uma ferida aberta. Sua filha passava por um problema cardiológico complicado. As duas percorriam consultórios médicos, laboratórios, hospitais e redutos de curas alternativas. "Aí, quando eu voltava para escrever o livro que eu estava escrevendo, a história parecia sem importância", diz Madalosso, colunista da Folha, em entrevista.
Foram dois anos cozinhando a nova ideia na cabeça até encontrar o caminho, e o resultado virou o novo "Batida Só". Ela lança o livro na próxima quinta-feira, num evento em São Paulo, e como convidada da programação principal da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que começa no final de julho.
Na trama, Maria João é uma jornalista na casa dos 30 anos que descobre sofrer de arritmia cardíaca e se vê diante das dúvidas e medos que um problema de saúde pode trazer. O diagnóstico é estopim para o que Madalosso chama de "observação das emoções", uma breve intersecção entre o que experimentou na vida real e o que impôs à sua protagonista.
A mãe do ponto de ônibus, completamente dedicada a uma filha doente, ganhou vida por meio de Sara, colega da protagonista nos tempos de escola. As duas perderam contato, se reencontram na cidadezinha em que cresceram e se conectam por meio de Nico, filho de Sara que enfrenta uma leucemia grave e busca a cura na medicina e na espiritualidade.
É aí que Madalosso ensaia falar de fé, não sob uma ótica específica, mas amparada na curiosidade e no respeito à pluralidade de crenças. "O problema é que eu não sabia nem por onde começar. A fé é um pensamento, uma emoção ou um sentimento?", questiona a protagonista de "Batida Só".
"Aos nove anos, minha família falou para eu fazer a primeira comunhão e respondi que não, porque não sabia se acreditava em Deus", afirma a autora. "Não sei de onde veio isso, mas desde então tive esse olhar desconfiado e acabei me tornando uma pessoa agnóstica."
"Aí, aconteceram algumas coisas na minha vida que me fizeram ficar desesperada por ajuda. Quando a gente estava tratando minha filha, teve um médico de um hospital famoso que recomendou procurar um médium, porque ele podia ajudar. Foi um baque pensar que um cara da ciência poderia trazer uma sugestão dessas."
Vulnerável, Madalosso diz ter se aproximado do budismo, mas entendido que é algo que acontece da noite para o dia. "Sou uma ignorante nos assuntos religiosos, tanto que nesse livro eu não quis escrever sobre nenhuma religião especificamente. Sou uma pessoa que está aprendendo a respeito."
A autora foi uma das idealizadoras da foto que reuniu mais de 400 escritoras no estádio do Pacaembu há três anos, no projeto "Um Grande Dia em São Paulo". O retrato ainda traz orgulho a Madalosso, que afirma ainda lamentar as poucas vozes de mulheres na literatura.
Ela própria, por outro lado, pode celebrar uma trajetória bem-sucedida que partiu de um cenário hostil --quando buscou quem publicasse sua estreia "A Teta Racional", ouviu que o título afastaria os leitores.
"Fiz um percurso bonito de ser a 'não escritora', vendo as mesas da Flip, depois a escritora iniciante, que foi lá fazer uma mesa para dez pessoas, e agora volto para participar da programação oficial", comemora.
Diz ser resultado de "muito trabalho e paixão pela escrita". "Fui a escritora que não tinha coragem de se chamar de escritora, que não conseguia entrar nas editoras. Agora me dá muito prazer escrever sem parar, falar disso em mesas. Porque escrever é a maneira como me relaciono com a vida."
Batida Só
Preço R$ 74,90 (240 págs.), R$ 54,90 (ebook)
Autoria Giovana Madalosso
Editora Todavia
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