Em conferência global, indígena brasileira faz apelo por proteção das águas

Uruba Pataxó participa em Estocolmo; segundo ela, rios estão sendo destruídos por mineradoras e empresas do agronegócio; pesquisadora brasileira afirma que parcerias com povos indígenas podem apoiar demarcação de terras

Em conferência global, indígena brasileira faz apelo por proteção das águas
Em conferência global, indígena brasileira faz apelo por proteção das águas

Agência Onu News - 25/08/2025 18:46:16 | Foto: World Water Week / Pnud

A Semana Mundial da Água chega a sua 35ª edição com o tema “água para a adaptação climática”. O evento, organizado pelo Instituto Internacional da Água de Estocolmo teve início no domingo e vai até esta quinta-feira, na capital da Suécia.

O encontro destaca a importância dos conhecimentos tradicionais e valores espirituais dos povos indígenas no manejo e proteção de rios, mares, manguezais e outros ecossistemas aquáticos.

Relação espiritual com a natureza
A vice cacique da aldeia Mãe Barra Velha, na Bahia, Uruba Pataxó, particiou de um painel sobre liderança dos povos indígenas. Após a atividade, ela contou à ONU News, de Estocolmo, como seu povo se relaciona com o meio ambiente.

“Para o povo indígena, a água é o nosso sangue, a terra, nosso corpo, e a mata é nosso espírito. Se a gente não cuidar da mãe natureza, nós não estamos cuidando da gente”.

Ela ressalta que aqueles que destroem a natureza em troca de lucros não ameaçam apenas os povos indígenas, mas também a si mesmos, pois “estão acabando com o ar que existe para respirar e com a água que sacia a sede.”

Uruba afirma que aqueles que agridem o meio ambiente acham que estão protegidos pelo dinheiro, mas não estão.

Critica a projeto de lei
A líder indígena criticou a aprovação no Brasil do Projeto de Lei 2159/21 pelo Congresso do país.

“Foi o Congresso que aprovou a lei da devastação, que autoriza mineradoras, o agronegócio, o processamento dentro da terra indígena. As mineradoras jogam mercúrio e seus resíduos que é para retirar o ouro, diamante, tudo dentro da água e está matando o nosso povo, matando nossas caça, matando o peixe de onde nosso povo sobrevive”.

Aprovado em julho e sancionado pelo governo federal, com vetos do presidente da República, em agosto, o texto voltou aos congressistas para consideração.

Uruba Pataxó afirmou que o povo Pataxó surgiu das águas e que vai sempre atuar para proteger esse recurso natural.

Parcerias para apoiar demarcação de territórios
Já a doutora em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Universidade Federal de São Carlos, Márcia Camargo, que também participou do painel, abordou a importância da troca de conhecimentos entre povos indígenas e pesquisadores.

Ela destacou diversas parcerias que realiza com Uruba em pesquisas dentro do território Pataxó.

“Viemos fazer também um workshop, eu e Uruba, sobre o genoma da terra, extração do genoma e do DNA, tanto de solo como da água. E como a gente pode usar isso também como ferramenta para defesa e para demarcação, para ajudar no processo de demarcação do território. Então, são várias trocas de conhecimentos que são importantíssimos hoje em dia”.

Márcia Camargo enfatizou que o evento em Estocolmo serve também para abrir novos espaços de “captação de recursos pra que projetos elaborados pelas lideranças indígenas sejam apoiados e financiados”

A Semana Mundial da Água é a principal conferência sobre questões globais relacionadas à água, realizada todos os anos desde 1991.

*Felipe de Carvalho é redator da ONU News Português.

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