FAO: 1,7 bilhão de pessoas sofrem com redução do rendimento agrícola devido à degradação

Relatório aponta desflorestação, pastoreio excessivo e práticas insustentáveis como principais causas da erosão dos solos; países asiáticos são os mais afetados por alta densidade população e degradação de terras; segurança alimentar e meios de subsistência em risco; Mato Grosso, no Brasil, é citado

FAO: 1,7 bilhão de pessoas sofrem com redução do rendimento agrícola devido à degradação
FAO: 1,7 bilhão de pessoas sofrem com redução do rendimento agrícola devido à degradação

Agência Onu News - 04/11/2025 09:29:24 | Foto: © WFP/Marco Frattini

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, divulgou o relatório “O Estado da Alimentação e da Agricultura 2025”, alertando que, aproximadamente, 1,7 bilhão de pessoas vivem em áreas onde o rendimento das colheitas está a diminuir devido à degradação dos solos.

O documento, divulgado em Roma, na segunda-feira, sublinha que o fenómeno está a minar a produtividade agrícola e a ameaçar a saúde dos ecossistemas em todo o mundo.

Degradação afeta segurança alimentar

O relatório transmite uma mensagem clara: a degradação do solo não é apenas uma questão ambiental – tem impacto na produtividade agrícola, nos meios de subsistência rurais e na segurança alimentar.

É a análise mais abrangente até à data sobre como o rendimento das colheitas é afetado pela degradação da terra induzida pelo homem, identifica pontos críticos de vulnerabilidade global e examina onde essas perdas se cruzam com a pobreza, a fome e outras formas de desnutrição.

Com base nos dados globais mais recentes sobre distribuição, dimensões e produção agrícola, descreve ainda oportunidades viáveis para práticas integradas de uso e gestão sustentáveis da terra, juntamente com políticas personalizadas. Estas medidas visam evitar, reduzir e reverter a degradação da terra, melhorando simultaneamente a produção alimentar e os meios de subsistência dos agricultores.

Medir a degradação do solo

A FAO define a degradação da terra como um declínio prolongado na capacidade da terra de fornecer serviços essenciais ao ecossistema. Embora fatores naturais como a erosão e a salinização do solo contribuam para o problema, as pressões induzidas pelo homem são cada vez mais dominantes. Atividades como a desflorestação, o pastoreio excessivo e práticas agrícolas e de irrigação insustentáveis estão agora entre os principais contribuintes.

Para medir a degradação induzida pelo ser humano, o relatório aplica uma abordagem baseada na dívida, comparando os valores atuais de três indicadores-chave — carbono orgânico do solo, erosão do solo e água do solo — com as condições que existiriam sem a atividade humana em estados nativos ou naturais. Os dados são processados por um modelo de aprendizagem automática que integra fatores ambientais e socioeconómicos.

Brasil: avanços e desafios na gestão sustentável

O Brasil destaca-se entre os países com maior concentração de grandes explorações agrícolas, responsáveis por uma parte substancial das terras cultivadas e elevada produtividade em regiões irrigadas. A agricultura comercial domina o setor, coexistindo com um vasto número de pequenas e médias propriedades que contribuem para a produção alimentar e inclusão rural.

Nos últimos anos, o país tem combinado regulação e iniciativas privadas para reduzir o desmatamento e promover o uso sustentável da terra. As moratórias da soja e da carne bovina ajudaram a conter a desflorestação na Amazónia, embora com efeitos limitados fora do bioma.

Instrumentos como as cotas de reserva ambiental em Mato Grosso reforçam incentivos à conservação, ilustrando o potencial de políticas que alinham governança ambiental e mecanismos de mercado.

Produção pode ser restaurada

Segundo o relatório, reverter apenas 10% da degradação causada pelo homem nas terras agrícolas existentes poderia restaurar a produção suficiente para alimentar mais 154 milhões de pessoas por ano.

Entre as medidas destacadas estão práticas sustentáveis de gestão da terra, como rotação de culturas e culturas de cobertura para preservar a saúde do solo, reduzir a erosão e contribuir para a biodiversidade,

A FAO destaca ainda que as políticas devem ser adaptadas à estrutura agrícola, uma vez que os pequenos agricultores enfrentam restrições financeiras distintas em comparação com as grandes explorações agrícolas, que gerem a maior parte das terras e têm maior capacidade para uma implementação em escala.

O papel da FAO

A comunidade internacional reconheceu a degradação da terra como um desafio global crítico, com mais de 130 países a comprometerem-se a alcançar a Neutralidade da Degradação da Terra no âmbito da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação.

Como agência responsável pelo Indicador 2 dos ODS (Fome Zero), a FAO monitoriza e atualiza a distribuição global das disparidades de rendimento agroecológico utilizando o seu sistema de Zoneamento Agroecológico Global – que é utilizado neste relatório. Também fornece dados críticos sobre a saúde do solo através do Mapa Global de Carbono Orgânico do Solo da FAO.

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