Galípolo defende acordo do BC com Campos Neto por falhas de controle no Santander

Galípolo fez referência à tese de que o acordo firmado entre o Banco Central e Campos Neto teria impedido uma investigação contra o ex-presidente da instituição

Galípolo defende acordo do BC com Campos Neto por falhas de controle no Santander
Galípolo defende acordo do BC com Campos Neto por falhas de controle no Santander

Matheus Dos Santos, São Paulo, Sp (folhapress) - 26/11/2025 06:44:57 | Foto: José Cruz/Agência Brasil

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, defendeu nesta terça-feira (25) o acordo de R$ 300 mil firmado pela autarquia com Roberto Campos Neto neste ano, em caso envolvendo falhas de segurança com o banco Santander.

Segundo ele, os acordos não são de leniência. "O Banco Central não goza desse estatuto, o Banco Central não faz acordos de leniência. Como é que o Banco Central faria algo que não está no seu estatuto, não está na sua competência? Ele faz termos de compromisso, e ainda assim sem o alcance de interromper uma investigação criminal", disse em conversa com parlamentares durante sessão da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado.

Galípolo fez referência à tese de que o acordo firmado entre o Banco Central e Campos Neto teria impedido uma investigação contra o ex-presidente da instituição.

Firmado em junho deste ano, o acordo definiu que Campos Neto pagasse R$ 300 mil ao BC por falhas no controle de operações de câmbio do Santander na época em que era funcionário do banco.

O termo assinado pelo ex-presidente do BC faz referência a "supostas práticas" consistentes em deixar de verificar a legalidade de operações de câmbio e de certificar-se da qualificação de clientes de câmbio do Santander, que pagou R$ 19,4 milhões pelas falhas. A reportagem procurou Campos Neto através do Nubank, onde ele atua como vice-chairman desde 2025, mas o banco disse que não irá se pronunciar sobre o tema.

O Santander disse nesta terça que o acordo não envolve reconhecimento de infração ou penalidade, mas o compromisso de reforçar processos e sistemas de conformidade de forma preventiva.

O instrumento, criado pelo BC em 2017, é um contrato administrativo sem formação de juízo quanto à culpa da instituição financeira e de seus representantes e que não alcança a esfera penal. O termo de compromisso permite chegar a uma solução consensual para o conflito, sem que haja litígio.

Ailton de Aquino Santos, diretor de fiscalização do Banco Central, destacou que a autarquia já assinou mais de 120 termos de compromisso, mas admitiu que este foi o primeiro envolvendo um ex-presidente do BC. "A decisão seguiu todo o caminho burocrático. Toda a governança foi cumprida nesse caso", afirmou.

Segundo o diretor, a infração cometida por Campos Neto não foi considerada falta grave. Questionado se as movimentações poderiam indicar lavagem de dinheiro ou outro crime, Ailton respondeu que, se esse fosse o caso, o BC não teria assinado o termo de compromisso.

"Seríamos obrigados a informar ao Ministério Público, e com toda a certeza julgaríamos o processo administrativo como falta grave. E, no caso presente, não foi considerado isso", afirmou.

Campos Neto trabalhou por quase 18 anos no Santander, com uma breve passagem pela gestora Claritas. Entre 2000 e 2003, foi chefe da área de renda fixa internacional do banco.

O economista era diretor de Tesouraria do Santander na época em que ocorreram as práticas sob investigação, de forma que o valor de compensação acordado foi assumido pela instituição.

BC não avalia conveniência de investimento, diz Galípolo sobre títulos do Master

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Comentando a liquidação do Banco Master, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta terça-feira (25) que a autoridade monetária não avalia conveniência de investimentos e não pode liquidar uma instituição porque ela está emitindo títulos com rendimentos acima da média.

"O Banco Central tem possibilidade de liquidar alguém porque está emitindo [títulos que pagam] 140% do CDI [Certificado de Depósitos Interbancários, taxa de referência para empréstimos entre bancos]? Não tem", disse Galípolo em conversa com parlamentares durante sessão da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.

A fala fez referência aos títulos de rendimento altíssimo, que chegaram a pagar 140% do CDI, oferecidos pelo agora liquidado Master. Questionado por senadores, Galípolo negou que o BC tenha se omitido na fiscalização do banco e afirmou que a autoridade monetária seguiu todo o rito necessário.

"Nenhuma instituição deveria buscar um voluntarismo que tende a se reverter em custo para o erário público. O Banco Central seguiu todo o procedimento legal demandado. Obviamente, quem tem que identificar [as inconsistências], e identificou, foi o Banco Central".

Além de defender a atuação da autarquia, Galípolo também agradeceu à Polícia Federal e a Justiça pela atuação conjunta no tema do Master. "O processo previsto em lei de colaboração foi muito importante não só para que existisse uma troca de informações, mas para que também o trabalho de um não impedisse o trabalho de outro".

Na última terça-feira (18), o Banco Central decretou a liquidação do Banco Master, enquanto a Polícia Federal prendeu seu controlador, Daniel Vorcaro, suspeito de tentar fugir do país.

O banqueiro foi transferido nesta segunda-feira (24) da superintendência da Polícia Federal em São Paulo para um presídio em Guarulhos, na região metropolitana.

A prisão preventiva (sem tempo determinado) foi mantida na audiência de custódia realizada no dia seguinte à prisão e, dias depois, por uma juíza do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), que viu riscos às investigações na possibilidade de soltura de Vorcaro.

A liquidação é adotada quando o BC avalia que a situação da instituição financeira é irrecuperável. Nesse caso, o funcionamento da instituição é interrompido e ela é retirada do sistema financeiro nacional. O Master vinha enfrentando dificuldades para honrar seus compromissos, e seus negócios viraram alvo de investigação da PF por suspeita de irregularidades em carteiras de crédito.

O BC afirmou em comunicado que a decisão foi motivada "pela grave crise de liquidez do conglomerado Master" e por "graves violações às normas que regem a atividade das instituições integrantes do SFN [sistema financeiro nacional]".

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