Há 100 anos surgia a SS, responsável pelo terror nazista na Alemanha

A ideia de subverter o Estado de Direito manipulando polícias e outras forças de segurança continua em voga no planeta

Há 100 anos surgia a SS, responsável pelo terror nazista na Alemanha
Há 100 anos surgia a SS, responsável pelo terror nazista na Alemanha

José Henrique Mariante, Berlim, Alemanha (folharpess) - 09/11/2025 09:41:23 | Foto: © TÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL - Ilustração

Há cem anos surgia a SS, a organização paramilitar responsável pelo terror do regime nazista na Alemanha. Idealizada sete meses antes, teve a criação oficial marcada de propósito para 9 de novembro de 1925, data do segundo aniversário do Putsch da Cervejaria, uma tentativa de golpe em Munique que levou Adolf Hitler à prisão.

Este foi o momento em que o mundo tomou conhecimento de que havia um Partido Nazista e um líder ambicioso na República de Weimar, a Alemanha pós-Primeira Guerra. Condenado a cinco anos de prisão por traição, em 1924, Hitler acabou sendo libertado nove meses mais tarde. O resto da história é bem conhecido.

"Schutzstaffel", esquadrão de proteção, era a denominação final de uma guarda de voluntários criada dois anos antes para garantir às reuniões do partido e como a segurança pessoal de Hitler, que desconfiava até de aliados próximos. A partir de 1929, sob o comando de Heinrich Himmler, progressivamente se tornou o braço executivo da barbárie nazista, engolindo polícias, forças de segurança, funções e hierarquias do Estado alemão.

Já poderosa e temida, a SS era a principal ocupante de um grande prédio na esquina da Wilhelmstrasse com a Prinz-Albrecht-Strasse, no centro de Berlim, em 1933. Hitler havia galgado o poder e se tornado chanceler, a designação na Alemanha para primeiro-ministro.

O prédio não existe mais, e a Prinz-Albrecht-Strasse se chama agora Niederkirchnerstrasse. No lugar, há um terreno quase vazio, ocupado parcialmente por um bosque. A única e sóbria edificação da área é um centro de memória chamado Topografia do Terror.

O nome da instalação, recuada da rua e cercada por uma grande área de brita, que lhe dá certo ar estéril, inicialmente soa estranho, quase irônico, mas logo se traduz em peso.

O que tem relevo ali é a história das principais agências de segurança nazistas, SS, SD, Gestapo, artífices do elaborado aparato de repressão nazista que levou Hitler ao poder e, anos depois, a Alemanha à Segunda Guerra Mundial.

Uma estrutura insidiosa e implacável, que consumiu o Estado de direito e, no ápice, elaborou e executou a "solução final", o extermínio de 6 milhões judeus, o Holocausto, assim como um sem número de outros crimes comuns e de guerra. Toda essa trajetória é contada em detalhes na exposição permanente da Topografia do Terror, extrato de anos de pesquisa e de uma biblioteca de 40 mil volumes. A visita é de graça e um passeio obrigatório para quem estiver em Berlim.

Lá se aprende quem era Himmler, soldado que não entrou em combate na Primeira Guerra, estudou agronomia e, sem sucesso profissional, se radicalizou. Entrou no partido em 1923 e na SS dois anos mais tarde. Em meio a uma disputa de poder entre as forças paramilitares nazistas, sobressaiu-se pela capacidade de organização e a recusa a eufemismos.

Enquanto boa parte dos nazistas ainda usava termos como "afastar" adversários, Himmler falava em "extermínio". Vislumbrando o tamanho do conflito que a Alemanha encararia a partir de 1939, declarou um ano antes em discurso a oficiais do grupo que comandava: "Posso garantir que, enquanto eu liderar a SS, em uma guerra não haverá um único desertor ou pessoa que sequer pense em revolução. Seremos absolutamente impiedosos. Não importa se tivermos que eliminar 1.000 pessoas em uma única cidade. Eu faria isso e esperaria que vocês o fizessem."
Sobram episódios do tipo na guerra. A morte de Reinhard Heydrich, segundo na hierarquia do grupo e um dos principais arquitetos da "solução final", foi vingada pela execução de todos os homens acima de 16 anos de duas vilas na então Tchecoslováquia, em 1942.

Nesse momento, a atuação da SS já era internacional e comercial. Possuía propriedades e explorava trabalho forçado em campos de concentração. Himmler, com a confiança plena de Hitler, comandava com mão de ferro uma anomalia no Estado nazista.

Os seguranças voluntários do partido, que começaram apenas reforçando o trabalho da polícia duas décadas antes, tomaram o lugar e as funções das forças regulares. Vários agentes da SS eram ex-policiais experimentados. Tinham liberdade de ação, sem instância de controle ou Justiça para contê-los. Cumpriam "a vontade do Führer".

Apesar de se autodenominar "força de elite", a SS não se notabilizava pelos treinamentos, mas pela mentalidade. "Dessa maneira, o homem da SS aprendia a atitude de um guerreiro em nome da guerra; a obediência inquestionável; a rigidez como endurecimento próprio, inclusive contra qualquer ser humano; o desprezo pelos inferiores e a arrogância para com todos aqueles que não pertenciam à ordem", escreveu o historiador Hans Buchheim, em 1967.

E quem não pertencia à ordem era generalizado com rótulos simples: judeus, comunistas, ciganos, homossexuais, deficientes físicos e mentais, europeus orientais não contemplados com o padrão ariano, a falácia da raça pura germânica pregada pelo nazismo.

Uma desumanização crescente, levada ao cúmulo nos campos de concentração e extermínio, com organização e tecnologia desenvolvidas por oficiais da SS. O ápice do grupo, que tomou conta do Estado usando o próprio como justificativa.

"A polícia Nacional-Socialista deriva os seus poderes não de leis específicas, mas da realidade do Estado Nacional-Socialista do Führer e das tarefas definidas pela liderança. Os seus poderes não devem, portanto, ser impedidos por barreiras formais", declarou Himmler em 1937. O nazismo só funcionaria na ausência de questionamentos e democracia.

Sob a custódia de tropas britânicas, em 23 de maio de 1945, Himmler cometeu suicídio com uma cápsula de cianureto. Dias antes, em 30 de abril, Hitler havia dado um tiro em sua têmpora direita. Estertores da guerra na Europa.

A ideia de subverter o Estado de Direito manipulando polícias e outras forças de segurança continua em voga no planeta.

Topografia do Terror
Quando: diariamente, das 10h às 20h
Onde: Niederkirchnerstrasse, 8, Berlim
Preço: gratuito

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