Investimento bilionário da Foxconn anunciado há 14 anos ficou quase todo no papel

As negociações prometiam gerar 100 mil empregos, do quais 20 mil engenheiros, e produzir iPads em território brasileiro

Investimento bilionário da Foxconn anunciado há 14 anos ficou quase todo no papel
Investimento bilionário da Foxconn anunciado há 14 anos ficou quase todo no papel

Pelotas, Rs E São Paulo, Sp (folhapress) - 18/05/2025 09:13:33 | Foto: Gerd Altmann por Pixabay

Há 14 anos, o governo Dilma Rousseff (PT) comemorava o anúncio de US$ 12 bilhões (US$ 17 bilhões corrigidos pela inflação ou R$ 95 bilhões na cotação atual) de investimentos da taiwanesa Foxconn no Brasil. O acordo foi anunciado durante visita da então presidente a Pequim.

As negociações, lideradas por Aloizio Mercadante (ministro da Ciência e Tecnologia na época, hoje presidente do BNDES), prometiam gerar 100 mil empregos, do quais 20 mil engenheiros, e produzir iPads em território brasileiro.

O investimento, no entanto, não foi totalmente concretizado: apesar de montar modelos mais recentes do iPhone no país, apenas uma fração das vagas prometidas foi criada, e a ideia de uma cidade inteligente ligada ao projeto não existe.

A Foxconn é uma das principais fabricantes de produtos eletrônicos de renome no mundo, incluindo dispositivos da Apple, o videogame PlayStation da Sony e TVs.

A empresa de Taiwan tinha uma lista de exigências para tirar o projeto do papel, que iam de infraestrutura a garantia de incentivos, passando por mudança na legislação fiscal. Entre eles estava um financiamento do BNDES e a ajuda do governo na busca por sócios minoritários brasileiros.

No ano seguinte ao anúncio, a Folha de S.Paulo noticiou que desacordos sobre tecnologia estavam entre os impasses que travaram o investimento. O governo brasileiro exigia que a empresa utilizasse nas novas fábricas sua tecnologia de última geração, mas a taiwanesa resistia. Sem acordo, o Brasil afirmou que não iria financiar o projeto por meio do BNDES -uma das exigências dos taiwaneses.

O cenário internacional também contribuiu para o descarrilamento do projeto. Com a queda na demanda, a Foxconn não tinha pressa em expandir, porque unidades na Ásia estavam conseguindo atender aos pedidos do setor.

Em 2015, reportagem da agência de notícias Reuters apontou que a empresa tinha criado apenas uma pequena fração dos 100 mil empregos que o governo projetou, e a maior parte das vagas era de baixa qualificação. Hoje, segundo o perfil da empresa no LinkedIn, são de 5.000 a 10 mil funcionários.

Na época, outra promessa da empresa era um investimento de US$ 1 bilhão para criar um parque industrial nacional para a fabricação de componentes eletrônicos.

A terraplanagem do terreno, em Itu (SP), começou em 2014 e, em 2017, o então prefeito da cidade disse ao New York Times que a área estava abandonada. Imagens de satélite deste ano mostram que ainda não há nada no terreno.

Segundo o site da Foxconn no país, há duas unidades operantes em Jundiaí (SP). Uma subsidiária da empresa também opera em Santa Rita do Sapucaí (MG), com o nome Fênix by Foxconn. No Brasil, são fabricados, por exemplo, os iPhones 14, 15, 16 e o 16e, lançado neste ano.

A reportagem entrou em contato com a Foxconn para confirmar a cifra investida no Brasil até o momento, mas não obteve retorno.

Agora, o governo brasileiro volta a comemorar um grande aporte estrangeiro no país. Durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Pequim, empresas da China anunciaram investimentos de cerca de R$ 27 bilhões no Brasil, cerca de 28% do prometido pela Foxconn.

O anúncio ocorreu em seminário empresarial organizado pela ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

Um dos principais aportes é o da Envision, que prometeu destinar R$ 5 bilhões para produzir combustível sustentável para aviação (SAF, na sigla em inglês) a partir de cana-de-açúcar no Brasil. Segundo o chefe da Casa Civil, Rui Costa, com o projeto o Brasil passará a ser um dos principais produtores de SAF no mundo.

A montadora GAC, o gigante de delivery Meituan e a maior rede de fast food do mundo, a Mixue, também prometeram investimentos no país. Acordos também foram fechados na área da saúde, com a Sinovac, e de semicondutores, com a fabricante Longsys.

"A nossa relação será indestrutível", disse Lula em discurso na ocasião. "Porque a China precisa do Brasil e o Brasil precisa da China. E nós dois juntos poderemos fazer com que o sul global seja respeitado no mundo, como nunca foi."

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