‘Me posicionar me prejudica, mas pago esse preço com tranquilidade’, diz Daniela Mercury em entrevista

Ao BdF Entrevista, Daniela Mercury fala sobre álbum Cirandaia, papel político da arte e defesa da democracia

‘Me posicionar me prejudica, mas pago esse preço com tranquilidade’, diz Daniela Mercury em entrevista
‘Me posicionar me prejudica, mas pago esse preço com tranquilidade’, diz Daniela Mercury em entrevista

Por  adele Robichez e camila Salmazio - Portal Bdf - 21/10/2025 16:38:29 | Foto: Daniela Mercury lançou Cirandaia, seu 26º álbum, que reúne ritmos afro-brasileiros, vozes indígenas e parcerias com diversos artistas - Divulgação

Artista com mais de quatro décadas de carreira, Daniela Mercury lançou o seu 26º álbum, Cirandaia , reunindo ritmos afro-brasileiros, vozes indígenas e colaborações de nomes como Davi Kopenawa, Ehuana Yaira, Dona Onete, Geraldo Azevedo, Chico César e Alcione. No disco, a cantora aborda temas como a justiça climática, a liberdade feminina e o amor como força política, reafirmando sua trajetória de engajamento artístico.

Em entrevista ao BdF Entrevista , da Rádio Brasil de Fato, a cantora defende que toda arte é política, mas recusa o panfletarismo. “Somos seres políticos e a arte inevitavelmente também faz parte desse contexto. A arte não precisa necessariamente ser panfletária, mas precisa ser boa para poder trazer temas e manter o nível da poesia”, diz. “A arte pede coragem para fazer a diferença. É nossa rebeldia contra a violência”, acrescenta, citando um trecho de Galope , uma das faixas do lançamento.

Daniela Mercury comenta ainda o impacto das redes sociais, o papel dos blocos afros na renovação da música popular brasileira e o desafio de manter uma voz crítica em tempos de ódio e intolerância. “Sim, eu perco espaços e patrocínios. Mas há uma trajetória transformadora. Aprendi que nós não vivemos sozinhos e pago esse preço com tranquilidade”, diz. “Precisamos de alegria, de fé em nós e de acreditar que podemos transformar o mundo”, ressalta.

Ao longo da entrevista, a artista também fala sobre sua participação nos atos contra a PEC da blindagem e a anistia a golpistas em Salvador (BA), reforça a defesa da democracia e dos direitos LGBT+, compara o fomento à arte nos governos Bolsonaro e Lula e destaca a importância de inspirar novas gerações de artistas comprometidos com o país.

Brasil de Fato No Cirandaia , você incluiu a temática da justiça climática e da defesa dos povos originários, traz a voz de alguns Yanomamis, como Davi Kopenawa, que participa do álbum. A música é esse lugar para falarmos de temas urgentes, alcançando até quem evita se envolver com política?

Daniela Mercury – Eu acho que nós somos seres políticos e a arte inevitavelmente também faz parte desse contexto. A arte não precisa necessariamente ser panfletária, mas precisa ser boa, muito bem cuidada, para poder trazer temas e manter o nível da poesia. Veja Chico Buarque, por exemplo, que é uma grande escola, ele sempre conseguiu. Caetano [Veloso] também, [Gilberto] Gil, e até Rita Lee, por exemplo, sempre falou de assuntos muito importantes para as mulheres, para a liberdade feminina, para a liberdade do país.

Somamos o que é o artista como cidadão – nas entrevistas, nas atitudes, nos testemunhos – com a sua arte porque nós não conseguimos separar as duas coisas. Eu busco sempre músicas lindas, que eu possa contextualizar nos meus shows de maneira que as pessoas saiam felizes pela obra de arte que viram ou pela alegria que elas trazem, mas gosto que a poesia traga algum pensamento importante.

Quando falo de mulher, de amor, acabo impactando na liberdade da mulher, na autonomia que nós buscamos, em espaços de reputação e reconhecimento. Essa música, por exemplo, com Davi Kopenawa e Ehuana [Yaira], é uma obra coletiva. Ehuana é uma jovem Yanomami, a primeira mulher a sair da comunidade para o mundo. Ela canta lindamente – eles [Yanomamis] cantam muito – e é também artista plástica. Está fazendo um trabalho bonito de falar sobre a cultura dos Yanomamis, a relação deles com a floresta e as violências que sofrem. Ela virou uma espécie de embaixadora do povo Yanomami.

Davi Kopenawa é escritor, poeta, e eu me emocionei muito com ele. As falas dele dariam uma música. Eu já tinha uma composição e fizemos juntos uma obra coletiva com uma canção inédita de Ehuana, que fala de Omama, o deus deles. Davi fala sobre nós, o “povo da mercadoria”, que rasga a pele da terra. Essa fala me comoveu imensamente.

A música trata da invasão das águas, dos desastres climáticos. É uma composição minha com Jeane Terra, artista plástica que também fez a capa do álbum. E meu filho, Gabriel [Mercury], que é compositor e cantor, participa comigo. É simbólico: mãe e filho falando sobre o clima. Afinal, são os jovens que vão pagar o preço mais alto pelo aquecimento global. Nós já estamos no limite da não reversibilidade do aquecimento global. Em relação aos corais, já chegamos a um ponto de não retorno. Isso é muito grave.

Mas a música é linda, comovente. Tem uma fala de Davi, a abertura de Ehuana, e é um presente, uma obra de arte coletiva. Do outro lado do álbum, tem Dona Onete trazendo alegria e representando o Norte, porque o Norte e o Nordeste conversam muito culturalmente, apesar de o Norte estar dentro da Amazônia, com uma cultura muito peculiar, rica e diversa. Dona Onete também tem influência do Nordeste. Nós nos “namoramos” culturalmente, é difícil até separar Fortaleza de Belém.

Há muita presença da coletividade no álbum. A primeira faixa, Axé Salvador , traz a participação de blocos afros que são referências históricas na Bahia. Em tempos de músicas digitais, qual a importância de resgatar esse fazer coletivo e a cultura de rua da Bahia?

Às vezes tenho tantas ideias e vontades de fazer tantas coisas que o que vai elegendo os temas ou homenagens são as circunstâncias do dia a dia. Os 40 anos do Axé trouxeram a vontade de fazer uma canção que reiterasse essa história e destacasse o que predomina no meu trabalho nesses anos, 26 álbuns e tudo.

Fizemos Axé Salvador coletivamente, porque ela tem muitos compositores. Foi muito bonito: a energia já era de coletividade. Eu queria que fosse um samba afro, samba reggae. Deu uma mistura de batidas do Ilê Aiyê, Olodum, Muzenza, Cortejo Afro. Fui fazendo convenções típicas nossas para chamar atenção para essa contribuição percussiva.

Os blocos afro trouxeram também uma linguagem melódica de pergunta e resposta, que não existia na música popular brasileira. O Axé renova a música popular brasileira nesse sentido. Eu quis prestigiar os blocos, e eles estão homenageados na letra.

Gravei Axé Salvador ao vivo, porque não deu tempo de entrar no álbum, e depois fiz uma versão de estúdio. Convidei cantores que são líderes desses blocos para representá-los. Cada bloco tem quatro, cinco, seis cantores; não deu para trazer todos, ainda bem, porque estão todos viajando e trabalhando.

Tive Graça Onasilê, minha mestra, que me ensinou a cantar esse tipo de música no Ilê Aiyê desde 1989. Também Cláudya [Costta], do Cortejo Afro; Tonho Matéria, compositor e ex-líder do Olodum; Junior Black, com uma voz extraordinária, dos Filhos de Gandhi; e Jorge, representando o Malê Debalê.

Formamos um coral fabuloso, eles dominam isso como ninguém. Eu acho que sou uma das poucas cantoras, junto com Margareth Menezes e Márcia Short, que temos esse tipo de música predominantemente no repertório. São 40 anos [do Axé], e eu queria dar visibilidade ao talento deles.

Fiquei muito feliz de conseguir esse coralzão que parece mesmo a Bahia e a África. Dá para sentir a energia, a emoção dessa canção. Além disso, o álbum está cheio de participações.

Depois de 40 anos, o Axé Music é mais que um gênero: é um manifesto. Ele trouxe para o centro da música brasileira artistas negros e renovou a arte nacional. Você acha que esse movimento passou bem pelo tempo?

O Axé foi sendo construído ao longo desses 40 anos, porque não havia um repertório tão grande para o trio elétrico. Foi ganhando nuances. Agora temos uma geração muito criativa, com variações rítmicas, timbragens, letras que dialogam com cada momento do mundo e de Salvador.

Mas o Axé continua sendo uma música da cidade, feita por quem vivencia aquele grande festival que é o Carnaval. Isso traz uma identidade importante. É o que dá originalidade e, na troca com o mundo, torna-se uma música diversa.

Se todo mundo faz a mesma coisa, fica chato. Nós podemos misturar influências estrangeiras, sempre aprendendo, mas a música brasileira também influencia muito o mundo, tanto o Ocidente quanto parte do Oriente.

Já estive no Marrocos, no Japão, em vários lugares onde as pessoas amam a música brasileira. No México, que tem uma cultura muito própria, as pessoas se encantaram com meu trabalho, e eu era quase um ET para eles. Mas quanto mais diferentes conseguimos ser, mais rica fica a contribuição.

Um ET no bom sentido?

Eu chamo os artistas de extraterrestres porque vivem num mundo à parte, submersos ou flutuando, trazendo percepções diferentes. Vivem no mundo da poesia, do sonho, da sensibilidade. Tenho uma música chamada Estranhos Terrestres , os ETs, que fala dos artistas, dos malabaristas, dos percussionistas. É por isso que me referi a nós assim.

A primeira vez que você veio a São Paulo, em 1992, arrastou multidões. Seu show no vão do Museu de Arte de São Paulo Assis ( Masp) precisou ser interrompido porque abalou literalmente as estruturas.

Eu não canso de contar isso. Eu já era uma artista com cerca de dez anos de carreira na Bahia e no Nordeste, já fazia shows grandes. O Swing da Cor colocava 20, 30 mil pessoas [nos meus shows]. Cantei na Banda Eva de 1986 a 1989, fiz [apresentações em] trios elétricos desde 1983, [cantei em] barzinhos e fiz apresentações de jazz no teatro, no início de carreira.

Peguei um ônibus de carreira com a banda, sem dinheiro. Me inscrevi pelo jornal, por carta, telefone – não havia internet. Não sabia o que ia encontrar. Foi surpreendente ver aquele público e tudo acontecer. O impossível virou possível.

Mostrei na rádio Swing da Cor , uma das primeiras gravações do Olodum com banda, regida por Neguinho do Samba, que criou o samba-reggae. Ele foi meu grande mestre e amigo. A rádio dizia: “Não consigo tocar isso, é muito estranho.” E eu respondia: “Mas não é bom que seja estranho?”

O Masp abriu a pauta para a estranha chegar. E as pessoas ficaram curiosas: quem é essa menina? O corpo a corpo me levou para o mundo inteiro. Fiz mais de 700 apresentações em mais de 50 países. Cheguei à Turquia, cantei para 5 mil pessoas. No Havaí, para japoneses que dançaram comigo sem entender nada do que eu dizia. Isso é a força da música, da comunicação que a arte consegue.

Desde essa época, você tem canções que pensam o Brasil, que tratam de temas sociais e políticos. Uma delas é a defesa da população LGBT+. Seu casamento com Malu [Verçosa] ganhou notoriedade e ajudou muitas pessoas a se reconhecerem. Isso traz um custo para você como artista?

Gera, sim, sem dúvida. Eu perco patrocínios. Tudo para mim fica mais difícil, não por ser LGBT necessariamente, mas porque existem muitas visões de mundo diferentes, e as pessoas demoram a respeitar a diversidade. Desde que o ser humano é o ser humano, é assim. Dão peso, excluem, criam minorias políticas por conta da cultura, porque nós ainda não conseguimos ressignificar tudo o que precisamos, nem fazer uma retratação em relação a todos que sofrem preconceito ao longo da história das civilizações.

Eu acho que a internet é uma grande aliada nesse sentido. Nós enxergamos mais como as pessoas pensam, elas acabam se manifestando mais porque nós somos assim. Ninguém deixa de magoar o outro só por ser correto politicamente. Nós tentamos não fazer mal a ninguém, lutamos para fazer o bem. A grande maioria das pessoas deseja a bondade, ser generosa, fazer o melhor.

A questão é que somos formados por um meio ambiente, pelas famílias, pelas religiões, e isso traz visões dogmáticas. As pessoas se agarram a elas e deixam de ser flexíveis para aprender. A humanidade tem muitas características que, às vezes, não aprendemos na infância, mas aprendemos depois, especialmente nas cidades grandes. No Brasil, 80% da população vive em áreas urbanas.

O desafio é conviver com a diversidade, com as diferenças, com o contraditório. A democracia nos coloca em confronto, mas também em diálogo com quem pensa diferente. Eu adoro que sejamos diferentes. Só acho que nós não podemos ser violentos. Precisamos ter muito cuidado com o discurso de ódio. As palavras são tão agressivas quanto revólveres, quanto facas, quanto armas. As palavras são flechas, sim.

Não é à toa que nós usamos a palavra para cuidar de assuntos graves. Eu, cantando. Você me perguntou se isso me prejudica: sim, eu perco espaços. Mas há uma trajetória transformadora. Aprendi que não vivemos sozinhos e pago esse preço com tranquilidade. Às vezes me cansa, porque tenho que prestar atenção em tudo para me apropriar dos temas, conhecer o que está acontecendo, ter opinião autônoma, ler visões diferentes.

Tenho muito cuidado para não falar o que não sei. Nunca dou conselho, não gosto de autoajuda. Gosto de música, de trazer alegria. Hoje é o dia do lançamento do meu álbum, essa semana foi a dos professores, lá em casa está todo mundo empolgado, as filhas com muitas atividades.

E você é filha de professora.

Fui professora, e lembro de Paulo Freire dizendo que nós precisamos de alegria, e que todos somos professores da sociedade. Quando estou em cima do trio, estou cuidando, entregando o que sei, com humildade, sem impor nada. Mas quando é uma questão como o meio ambiente, que eu acho urgente, entro numa zona de indignação, de luta mais ferrenha. Envolvo meus fãs, interajo muito nas redes sociais.

Minhas redes são verdadeiras, feitas por mim, por Malu e por poucas pessoas da equipe. Eu decido tudo porque quero legitimidade. É um meio de comunicação e, para mim, de uma responsabilidade gigantesca. Nós lidamos com assuntos que são notícias e questões políticas. É preciso estar bem informada para se manifestar, sem errar na ponderação, respeitando a democracia e os poderes.

É muito complexo viver. Por isso muitos artistas preferem ficar concentrados no trabalho artístico, que já é imenso. Fazer um álbum é trabalhoso: são 15 músicas em Cirandaia , e virá uma edição de luxo com 17. Cada música eu ouvi pelo menos 1.500, 2 mil vezes. É muito detalhamento: a voz, a letra, a divisão rítmica.

Em Cirandaia , a música Galope diz: “A arte pede coragem para fazer a diferença. É nossa rebeldia contra a violência.” Eu ficava pensando: será que essa é a melhor forma de dizer isso? Essa é a rítmica? A divisão? São muitos detalhes. Por isso entendo que muitos artistas não têm tempo de se debruçar sobre outras causas. Isso me cansa muito também.

No mês passado, você esteve nos atos contra a PEC da blindagem, ao lado de Chico Buarque, Caetano Veloso e outros. Foi simbólico.

Foi uma parte do Congresso, é preciso ser justa. A maioria tem conseguido votar e, às vezes, até força o Centrão a agir corretamente. Alguns ali ainda não compreenderam que aquele não é o espaço para resolver questões particulares, mas as do país.

Caetano fez a chamada. Paula Lavigne, sempre muito ativa e maravilhosa, trabalhou junto. Ele já havia feito o Ato pela Terra, em Brasília. Caetano, Gil e Chico sempre tiveram compromisso com o país, tanto na obra quanto nas ações. Quando ele chamou, eu já estava envolvida e disse: “Vamos juntos.” Fizemos um esforço enorme, todos voluntários, para nos juntar à população e dar mais força ao movimento.

Eles me ensinaram isso. ‘Eu organizo o movimento, eu oriento o Carnaval, eu inauguro o monumento no Planalto Central do país’ [Trecho de Tropicália , de Caetano Veloso]. ‘Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.’ [trecho de Apesar de Você , de Chico Buarque]. Essa luta agora pela democracia também contou com minha participação.

É bom ter ídolos comprometidos com o país. E importante que os jovens artistas se aproximem. Já vimos muitos – Marina Sena, por exemplo, e uma turma gigante em São Paulo e no Rio. Eu convido o tempo inteiro: ‘Bora, turma!’ Nós fazemos a diferença.

Agora estou na expectativa de outras conquistas. Vamos ver os caminhos até a COP [Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima] porque temos muita luta pelo clima.

Depois de tanto desmonte na cultura durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), estamos conseguindo retomar o fomento à arte e à música popular?

Foi um aprendizado para todos. Fiquei muito aflita vendo o Ministério sendo desfeito ainda no governo [Michel] Temer, antes de Bolsonaro. Sofremos um desmonte e uma pirraça, uma agressividade com grandes ícones, como Fernanda Montenegro. Um desrespeito.

Os artistas se organizaram, fizeram ações jurídicas, processos, buscaram manter o que havia sido conquistado em termos de leis e organização do setor. As conquistas foram mantidas. A Lei Paulo Gustavo, quando Margareth [Menezes] assumiu o Ministério [da Cultura] e Lula se elegeu, já garantia verba para a cultura. E o Legislativo também ajudou nisso.

Lula sempre deu atenção à cultura porque é uma indústria potente, que gera muitos empregos e retorno para o turismo. É a identidade do Brasil, o soft power do país. Tivemos Gilberto Gil, Juca Ferreira, ministros muito bons. Temos pouco dinheiro na cultura, mas avançamos. Margareth é uma excelente ministra, conseguiu distribuir recursos e estimular a produção cultural em todo o país, com as Leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo.

Mas há um esforço também do setor, que percebeu que não pode depender só do governo. Toda hora tentam atacar os artistas falando da Lei Rouanet, sendo que todos os setores têm incentivos. O agro recebe quase R$ 1 trilhão em incentivos públicos. A cultura, quase nada, e ainda devolve R$ 2,5 para cada R$ 1 investido. Isso é investimento, não gasto.

Os Estados Unidos dominam mais de 50% do mercado de cultura do mundo e são riquíssimos por isso. A indústria cultural gera mais empregos e qualidade de vida, distribui melhor riqueza e está garantida na Constituição brasileira como um direito. [No Brasil,] ainda temos poucas salas de cinema e teatros, e muita dificuldade para estrear espetáculos. Muitas vezes fazemos tudo com nosso próprio dinheiro. É difícil ser artista.

Você sempre diz que ser livre é um ato político. O que é ser livre para você em 2025?

Fazer o meu álbum, convidar Lauana Prado para cantar comigo uma música de amor, Zélia Duncan, Geraldo Azevedo, Chico César, Dona Onete, Davi Kopenawa… grandes amigos e parceiros da luta pela democracia. Falar dos assuntos que quero, do jeito que quero. Reforçar o Nordeste, nossa cultura, a beleza e a força. Nós lidamos com animosidades e preconceitos, mas o Nordeste é uma região maravilhosa, cheia de cultura, beleza e gente extraordinária.

Cirandaia é um presente para avançarmos. Precisamos de alegria, de fé em nós, acreditar que podemos transformar o mundo. Essa é a minha liberdade: fazer 13 anos de casamento com Malu e reafirmar o nosso amor todos os dias, contra muita animosidade, mas multiplicar o amor com a arte e as atitudes.

Prestar serviço ao meu país do jeito que quero, e ter a liberdade de não fazer da grana o objetivo da minha vida, mas da arte. Privilegiar a existência, a humanidade, a paz. Me sustentar financeiramente e ter autonomia para dizer o que quiser.

O álbum está na rua, e logo estarei na rua cantando, dançando nos trios elétricos, nos shows da temporada de Cirandaia . É lindo, tem Alcione cantando comigo. Está em todas as plataformas [de streaming]. A edição de luxo vem logo com novidades incríveis. Estou apaixonada pelo álbum e quero que vocês se apaixonem também. Como diz Paulo Freire, “beleza e alegria são o que precisamos para seguir lutando, porque a vida é luta, é o caminho que importa.”

Para ouvir e assistir

O BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.

Editado por: Luís Indriunas

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