Emissão de gases do efeito estufa foi determinante para ocorrência de temperaturas extremas que castigaram população
Murilo Pajolla - brasil De Fato | Lábrea (am) - 15/10/2023 08:39:00 | Foto: Cientistas alertam que temperaturas extremos podem ser 'novo normal' do clima na América do Sul - Fernando Frazão/Agência Brasil
As mudanças climáticas causadas pela ação humana foram determinantes para a ocorrência das ondas de calor que superaram os 40ºC em grande parte do Brasil e na América do Sul em setembro deste ano. A conclusão é de um estudo de cientistas ligados à Rede Mundial de Atribuição (WWA) publicado na última terça-feira (10).
Segundo o estudo Strong influence of climate change in uncharacteristic early spring heat in South America ( A forte influência das mudanças climáticas para o calor incomum no início da primavera na América do Sul , em tradução livre), o aquecimento global aumentou em pelo menos 100 vezes a probabilidade de que as recentes ondas de calor acontecessem. Embora o fenômeno meteorológico El Niño , que aqueceu as águas do Pacífico, tenha contribuído para as temperaturas extremas, ele não foi determinante, dizem os pesquisadores.
"Descobrimos que, por causa das mudanças climáticas induzidas pelo homem, o evento [ondas de calor na América do Sul] teria sido de 1,4 a 4,3 °C mais frio se os humanos não tivessem aquecido o planeta queimando combustíveis fósseis ", afirma trecho da pesquisa (em tradução livre do inglês).
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O estudo foi elaborado por 12 especialistas, incluindo Lincoln Muniz Alves, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Eles alertam que ondas de calor como essas serão mais frequentes e intensas, se as emissões de gases de efeito estufa não forem reduzidas drasticamente.
“Queremos ser claros: um El Niño em desenvolvimento contribui para algum calor, mas, sem as alterações climáticas, esse calor primaveril tão intenso teria sido improvável”, disse Lincoln Muniz Alves, coautor do estudo e pesquisador do Inpe,
O estudo examinou os dez dias mais quentes consecutivos em agosto e setembro na região central do Brasil, Paraguai e algumas áreas da Bolívia e Argentina, onde o calor foi mais severo. e utilizou dados meteorológicos e simulações de modelos computacionais.
A pesquisa foi revisada por pares, ou seja, submetida a exame de especialistas na área que podem corroborar ou sugerir revisões. O método contribui para a qualidade acadêmica do trabalho e lhe dá credibilidade científica.
Onda de calor castigou capitais brasileiras
O artigo relata que durante os meses de agosto e setembro, as regiões ao sul do Brasil e países vizinhos experimentaram um período anormalmente quente que durou mais de 50 dias. As capitais brasileiras Cuiabá (MT) e São Paulo (SP) tiveram o início de primavera mais quente dos últimos 63 anos.
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O calor extremo intensificou-se em 17 de setembro em todo o centro-sul brasileiro. A partir de 24 de setembro, a massa de ar quente predominou no centro-norte do país e se espalhou pelo Norte e Nordeste.
O pico ocorreu em 25 de setembro, com anomalias superiores a 7°C para a época do ano na região Sudeste, sul da Bahia, leste de Goiás e Mato Grosso do Sul e centro-norte do Paraná. Nas regiões centro e norte do Brasil, as temperaturas ultrapassaram os 40°C.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
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