Plantadas por Burle Marx há 60 anos, palmeiras talipot florescem pela primeira e única vez no Rio

A espécie, originária do sul da Índia e do Sri Lanka, floresce apenas no fim de seu ciclo

Plantadas por Burle Marx há 60 anos, palmeiras talipot florescem pela primeira e única vez no Rio
Plantadas por Burle Marx há 60 anos, palmeiras talipot florescem pela primeira e única vez no Rio

Aléxia Sousa, Rio De Janeiro, Rj (folhapress) - 26/11/2025 16:10:35 | Foto: Instituto Água/Reprodução

A exuberante e raríssima floração das palmeiras talipot (Corypha umbraculifera) transformou pontos do Rio de Janeiro em cenário de espetáculo botânico neste fim de novembro. Os exemplares que cresceram por mais de seis décadas no Aterro do Flamengo e no Jardim Botânico, na zona sul da cidade, começaram a abrir suas inflorescências quase ao mesmo tempo, em um fenômeno que ocorre uma vez na vida da planta.

A espécie, originária do sul da Índia e do Sri Lanka, floresce apenas no fim de seu ciclo, geralmente entre 50 e 70 anos de idade. No Rio, as talipots foram plantadas pelo paisagista Roberto Burle Marx na década de 1960, o que explica a coincidência do processo atual.

"Elas estão em sintonia. Começamos a notar o crescimento da inflorescência entre o final de outubro e o início de novembro, e as flores abriram agora, na última semana", explica Marcus Nadruz, coordenador de coleção viva e pesquisador do Jardim Botânico.

Além da beleza monumental da planta que pode atingir 30 metros de altura, a talipot impressiona pelo gigantismo de sua reprodução. A espécie produz a maior inflorescência vegetal do mundo: cinco grandes pendões, cada um com cerca de 3,5 metros e capazes de gerar aproximadamente 5 milhões de flores. Somadas, podem chegar a 25 milhões de flores em um único ciclo.

Após esse esforço monumental, porém, a planta entra em um processo irreversível. "É a senescência. Ela gasta toda a energia acumulada ao longo da vida na produção das flores e frutos. Aí começa a amarelar, perde folhas e morre", diz o pesquisador. O processo é lento e deve levar cerca de um ano, período necessário para que os frutos amadureçam e caiam.

A morte, contudo, não encerra a história. Pelo contrário. Segundo Nadruz, cada talipot pode produzir entre 15 e 20 milhões de frutos, todos potencialmente capazes de originar novas plantas. "É vida além da morte. A estratégia dela é garantir a continuidade da espécie, mesmo que o indivíduo desapareça", afirma.

Por razões de segurança, já que os exemplares ficam próximos a áreas de circulação intensa -como o entorno do lago das vitórias-régias, no Jardim Botânico- os técnicos acompanham diariamente a evolução das palmeiras e farão o corte controlado dos troncos quando necessário. "Não vamos deixar a planta tombar. O corte é feito de cima para baixo", explica Nadruz.

O Jardim Botânico pretende produzir mudas a partir dos frutos e disponibilizá-las para plantios em praças e espaços públicos. A expectativa é que o fenômeno estimule o interesse pela espécie, ainda pouco presente na cidade: além do Jardim e do Aterro, há registros apenas no sítio Burle Marx.

De acordo com Nadruz, apesar de imponente, a talipot não traz riscos estruturais às áreas onde é cultivada. Suas raízes são superficiais e não infiltram nem danificam calçadas, muros ou tubulações.

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