PF usa conexão com ADPF das Favelas para enviar a Moraes caso de presidente da Alerj
Bruna Fantti, Rio De Janeiro, Rj (folhapress) - 03/12/2025 17:35:54 | Foto: Gustavo Moreno - STF
A investigação da Polícia Federal que culminou com a prisão do presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), Rodrigo Bacellar, nesta quarta-feira (3), revela diálogos e imagens que ele manteve na véspera e no dia da prisão do então deputado TH Joias, detido em setembro.
Entre as conversas registradas na véspera da deflagração da operação, TH Joias chama Bacellar de 01, e este responde com uma figurinha de um homem bebendo cerveja, após ser avisado por TH de que havia comprado um celular novo. Já no dia da operação, Bacellar é avisado em tempo real, por foto, da presença da Polícia Federal, que tentava cumprir o mandado de prisão contra TH. A defesa de Bacellar ainda não se manifestou.
Em nota divulgada no início da tarde, a Alerj afirmou que "ainda não foi comunicada oficialmente sobre a operação ocorrida nesta manhã. Assim que tiver acesso a todas as informações, irá tomar as medidas cabíveis". A PF realizou busca e apreensão na parte da manhã no gabinete de Bacellar.
Segundo a Polícia Federal, TH comprou um celular novo na noite anterior à operação e colocou Bacellar como primeiro contato na lista de comunicação urgente. Após ser chamado de "01" por TH, Bacellar responde com a figurinha. Para os investigadores, isso sugere que ele já tinha conhecimento da troca de celular e do plano de fuga.
No dia da operação, às 6h03, TH não foi encontrado em sua residência no condomínio Mansões, na Barra da Tijuca, zona sudoeste do Rio de Janeiro. Ele, no entanto, foi localizado horas depois em outro condomínio.
Enquanto a PF estava na casa de TH, o então deputado enviou a Bacellar uma foto de um celular contendo imagens do sistema de segurança do imóvel, que mostravam a equipe policial dentro da residência. O local estava revirado e faltavam móveis.
A representação da PF afirma que, "diante do cenário probatório apresentado, mostra-se inequívoco o conhecimento prévio e o direcionamento das ações de TH pelo deputado estadual Rodrigo Bacellar, agente anômalo na cadeia hierárquica em que transitam informações sigilosas oriundas dos órgãos estaduais".
Os investigadores afirmaram ainda que, como presidente da Alerj, Bacellar é "figura central no combate à criminalidade violenta no Estado do Rio de Janeiro". A Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República ressaltaram que a necessidade da prisão se impunha para garantir a ordem pública, uma vez que os crimes investigados, entre eles organização criminosa armada com participação de funcionário público e obstrução de investigação, revelam "o grau acentuado de vulneração à ordem pública" e a infiltração de interesses ilícitos em estruturas estatais, caracterizando um cenário de "estado paralelo".
Segundo a Procuradoria, a influência de Bacellar não se limitava à assembleia: ele também exerceria ingerência no Poder Executivo estadual, interferindo na nomeação de cargos estratégicos nas polícias Civil e Militar. Esse domínio ampliaria sua capacidade de interferir nas investigações, segundo os investigadores.
Para a PF, o caso representa "o retrato perfeito da espoliação dos espaços públicos de poder pelas facções criminosas no Rio de Janeiro", evidenciando um "verdadeiro estado paralelo" comandado por "capos da política fluminense", responsáveis por vazar informações e inviabilizar operações contra grupos como o Comando Vermelho.
Outro ponto destacado pela investigação foi a reação política imediata à deflagração da Operação Zargun. Conforme a PF, houve uma "célere manobra regimental" articulada pelo governador e pela cúpula da Alerj logo após as medidas cautelares.
A manobra permitiu o retorno instantâneo de um deputado titular ao cargo, resultando na exoneração do suplente TH Joias no próprio dia da operação. Para os investigadores, essa articulação constitui "forte indício de que o vazamento de informações pode ter tido como objetivo primário a proteção de agentes políticos aliados à organização criminosa".
Além disso, a PF aponta que um objetivo subjacente à obstrução seria a "manutenção do vínculo desses agentes políticos com o Comando Vermelho", facção que representa "milhões de votos no pleito eleitoral que se avizinha", dada sua influência territorial no estado.
A decisão do STF também alcançou o assessor parlamentar Thárcio Nascimento Salgado, para quem foram aplicadas medidas cautelares diversas da prisão. Thárcio teria fornecido auxílio material para que TH Joias fugisse na véspera de sua captura. Às 22h27, o parlamentar pediu o endereço pelo novo número de telefone, e o assessor informou apenas o bloco 6 e o apartamento 802. TH Joias foi encontrado no apartamento 802 do Condomínio Majestic. Ainda não há informações sobre se o assessor foi localizado.
PF usa conexão com ADPF das Favelas para enviar a Moraes caso de presidente da Alerj
JOSÉ MARQUES, BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), se tornou o responsável pela operação que prendeu nesta quarta-feira (3) o presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) a partir do entendimento de que o caso tem conexão com a chamada ADPF das Favelas, que ele herdou do ministro Edson Fachin.
Os documentos da Polícia Federal que motivaram a prisão do deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil) foram enviados em uma investigação conexa à ADPF -uma ação que discute a letalidade da atuação da polícia no Rio de Janeiro- e supervisionada por Moraes.
A operação desta quarta, que se chamou Unha e Carne, é um desdobramento de outra operação de setembro, chamada Zargun. Nela, o então deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, foi preso. Ele era filiado ao MDB, mas foi expulso após o caso.
As decisões que respaldaram a deflagração da Zargun, à época, foram ordenadas pelas Justiça Federal e estadual, não pelo Supremo.
Para que o caso chegasse às mãos de Moraes, o caminho passou pela ADPF das Favelas, da qual ele se tornou relator temporariamente enquanto não é definido um sucessor para a vaga aberta com a aposentadoria de Luís Roberto Barroso da corte.
Por causa dessa relatoria, Moraes abriu um inquérito vinculado a seu gabinete após a Operação Contenção, a mais letal da história do país, para apurar suspeitas relacionadas ao crime organizado no Rio de Janeiro.
Ele tem o "objetivo de apurar indícios concretos de crimes com repercussão interestadual e internacional e que exigem repressão uniforme". Além disso, pretende "investigar a atuação dos principais grupos criminosos violentos em atividade no Estado e suas conexões com agentes públicos, sem prejuízo da possibilidade de atuação conjunta aos órgãos e forças de segurança estaduais".
Foi em um procedimento relacionado a esse inquérito que a Polícia Federal encaminhou os autos das investigações sobre TH Joias, que é apontado como suspeito de conexão com o Comando Vermelho e de usar seu mandato para lavar dinheiro dos crimes cometidos pela facção.
De acordo com a decisão de Moraes, a PF também pediu ao ministro nesses autos a decretação da prisão preventiva (sem tempo determinado) de Bacellar, além de busca e apreensão e afastamento do mandato parlamentar, sob a suspeita de que ele vazou informações sigilosas da Operação Zargun a TH Joias.
A PGR (Procuradoria-Geral da República) também deu aval para que Moraes decidisse pela prisão.
A manutenção de Moraes com assuntos relacionados a facções e segurança pública têm servido, como a Folha mostrou, para que ele se torne referência na corte sobre o tema, que domina a agenda do país e com potencial de ser o principal assunto nas eleições de 2026.
Também tem o potencial de se tornar mais um dos "superinquéritos" sob a responsabilidade do Supremo, que têm se tornado comuns desde que Moraes assumiu, em 2019, o inquérito das Fake News.
Foi a partir dessa relatoria da ADPF que o ministro se reuniu com o governador Cláudio Castro (PL-RJ) para tratar do balanço da Operação Contenção no início de novembro.
Em nota divulgada no início da tarde, a Alerj afirmou que "ainda não foi comunicada oficialmente sobre a operação ocorrida nesta manhã. Assim que tiver acesso a todas as informações, irá tomar as medidas cabíveis". A PF realizou busca e apreensão na parte da manhã no gabinete de Bacellar.
O superintendente da Polícia Federal no Rio, Fábio Galvão, chamou Bacellar para a sede da corporação, e ele foi detido ao chegar ao local. A estratégia foi usada para evitar espetacularização da prisão.
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