Agenda climática também é do BC e narrativa do Brasil no tema melhorou, diz Campos Neto

Inflação de serviços resiste e pode atrasar queda de juros no mundo, diz presidente do BC

Agenda climática também é do BC e narrativa do Brasil no tema melhorou, diz Campos Neto
Agenda climática também é do BC e narrativa do Brasil no tema melhorou, diz Campos Neto

São Paulo, Sp (folhapress) - adriana Fernandes - 04/03/2024 16:23:43 | Foto: © Marcelo Camargo/Agência Brasil

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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avalia que a agenda climática também é dos Bancos Centrais de todo o mundo, já que a política de juros é muito afetada pelos eventos climáticos que distorcem os preços da economia.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Campos Neto reconheceu que a "narrativa" do Brasil para a agenda verde melhorou.

"Os investidores e as pessoas entenderam que há uma preocupação [no Brasil], que tem projetos, qual o sequenciamento deles e para onde está indo em termos de medidas de sustentabilidade", afirma o presidente do BC.

Para ele, o Brasil tem uma vantagem e deveria ser visto como um grande produtor de bens que utilizam energia sustentável.

"Nessa rearrumação de cadeias produtivas, como estamos vendo no mundo, o Brasil é um sério candidato para atrair muito investimento de produtos que são produzidos por energia sustentável. Poucos países têm as condições que o Brasil tem de energia sustentável."
Segundo Campos Neto, os BCs mundiais tinham dificuldade de correlacionar a agenda verde com seus mandatos. Mas passaram a entender que se trata de uma pauta das autoridades monetárias.

"Agora, está muito claro que, se tivermos problemas climáticos em sequência isso também afeta a política monetária, porque tem distorção de preços, afeta logística e energia. Afeta os juros e, em última instância, afeta a estabilidade financeira", afirma.

Durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), Campos Neto era considerado voz destoante na área ambiental por defender que o país avançasse na discussão de uma agenda ecológica.

Ao ser questionado se essa falta de engajamento teria feito o Brasil perder investimentos para transição verde, ele disse que o tema da sustentabilidade vem se desenvolvendo gradativamente, em ondas.

"Teve uma onda que era uma grande preocupação de produzir energia verde. O Brasil fez muitos projetos e tem hoje uma matriz bastante verde. Na segunda onda, veio a produção de alimentos. Precisávamos produzir alimentos de forma sustentável e o Brasil avançou muito nisso", diz.

A terceira e mais recente, na avaliação do presidente do BC, chegou com consumidores, empresas e investidores começando a se preocupar sobre o tema.

"Eles só queriam investir em países que tinham uma preocupação com a sustentabilidade. Nesse terceiro movimento, foi o que eu chamei atenção no passado, a gente precisava ter uma mensagem melhor. Tinha uma narrativa que era entendida lá fora de tal forma que [o Brasil] não fosse preocupado com a sustentabilidade. Alertei naquele momento que essa narrativa poderia custar investimentos", lembra ele.

Em junho de 2020, um grupo de 29 gestoras de capital de países como Reino Unido, Suécia, Noruega, Holanda e Japão enviou uma carta aberta a diferentes embaixadas do Brasil no exterior expondo preocupação com o desmatamento acelerado na Amazônia.

A manifestação desses fundos de investimento e de pensão, que juntos administravam cerca de US$ 4,1 trilhões (R$ 21,6 trilhões), preocupou então o Palácio do Planalto, que passou a temer uma fuga de investimentos com a deterioração da imagem internacional do país.

"Eu ajudei a coordenar uma resposta para ela [carta], a agenda do Brasil tem se modificado muito. Ele tem se mostrado muito mais numa agenda pró-sustentabilidade. O mundo reconhece isso. A narrativa melhorou."
"Cada vez mais temos mais eventos climáticos. Tenho um gráfico que uso na minha apresentação que parece até exponencial, porque aumentou muito os números climáticos, e esses eventos têm causado diversos problemas nas cadeias produtivas, nos preços, energia, logística", afirma.

Campos Neto ressalta que o desafio do Brasil para os próximos anos é crescer de forma sustentável com disciplina fiscal e olhando o social.

"Não adianta crescer sem olhar o social, mas não adianta crescer de forma não sustentável fiscalmente, porque vai ter problemas na frente de custo de financiamento e, eventualmente, acaba tendo o crescimento abortado. O Brasil fez muitas reformas. Todas elas têm o poder cumulativo. Precisamos ter mais reformas olhando o crescimento, a produtividade", diz.

Inflação de serviços resiste e pode atrasar queda de juros no mundo, diz presidente do BC

JÚLIA MOURA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Enquanto o preço de bens e produtos tem se estabilizado, o de serviços segue resiliente mundo afora, especialmente nos países desenvolvidos, o que requer uma "atenção especial", afirmou nesta segunda (4) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

"Os Estados Unidos têm, por exemplo, uma inflação de serviços que ainda está 5%, apesar de na ponta estar um pouquinho menor. A inflação de serviços está relativamente alta, mas a inflação de bens está negativa, ou seja, há uma desinflação de bens", disse o economista.

Nos EUA o CPI, equivalente ao IPCA, acumulou uma alta de 3,4% ante a meta de 2%. O núcleo ficou em 3,9%.

"Os últimos números de inflação nos EUA foram um pouquinho para cima, tanto lá quanto na Inglaterra. A inflação parou um pouco de cair. Começamos a ver que a velocidade da desinflação diminuiu", disse Campos Neto.

A força nos preços de serviços é um dos fatores por trás da cautela do Fed (Banco Central americano) em baixar juros, o que pode afetar o ciclo de cortes na Selic.

Segundo Campos Neto, além da força nos preços de serviços, o crescimento da dívida americana para além do PIB (Produto Interno Bruto) do país também é outro fator de preocupação. "Só que tem um problema, não é só a dívida mais alta. A dívida subiu muito, mas o custo da dívida também subiu muito. Isso significa que vai ter um efeito de liquidez no mercado", afirmou Campos Neto.

De acordo com o economista, os EUA saíram de um padrão histórico de dívida pública de 50% do PIB para 181% do PIB em 2053, segundo estimativas do mercado.

"Isso afeta o mundo emergente, afeta as empresas, é um efeito cumulativo. Ao longo do tempo, essa liquidez vai saindo do mercado. Não é uma coisa que as pessoas estão falando muito hoje, mas acho que é um ponto que a gente precisa observar", disse o presidente do BC.

Uma entrada menor de recursos do Brasil pode enfraquecer o real ante o dólar, e causar um aumento na inflação. Efeito semelhante ao de juros altos nos EUA, que retém mais investimentos.

Caso a inflação brasileira volte a acelerar o ciclo de redução da Selic, hoje em 11,25% ao ano, pode ser afetado.

Outro fator que impulsiona os preços é o baixo desemprego mundo afora. "O desemprego caiu rapidamente. No Brasil, está bem baixo. A parte de serviços é intensiva em mão de obra."
Dessa forma, a inflação de serviços no Brasil teve uma leve alta nos últimos meses. O indicador no acumulado de 12 meses chegou a desacelerar para o patamar de 5% ao fim de 2023, depois de 8% de 2022, mas acabou subindo para 6,2% ao fim do ano, segundo dados do BC.

"Quando a gente olha na margem, [a inflação de serviços] subiu um pouquinho", afirmou Campos Neto, durante palestra na ACSP (Associação Comercial de São Paulo).

A inflação veio caindo mais recentemente. Primeiro, a energia caiu muito e começou até a contribuir negativamente na inflação. Depois, alimentos começaram a cair. Mas, quando a gente olha os núcleos de inflação, que é a parte mais estrutural, essa queda tem sido bem mais lenta", afirmou Campos Neto.

Considerando o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) cheio, a inflação brasileira encerrou 2023 a 4,62%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a menor alta em desde 2020 (4,52%) e dentro da meta estabelecida.

"O núcleo da inflação ainda está bastante alto", disse o economista. Segundo o BC, o núcleo inflacionário brasileiro está entre 5% e 6%.

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