Araras canindé retornam aos céus do Rio após mais de 200 anos extintas na região

A arara canindé é uma espécie nativa amplamente distribuída pela América do Sul, mas foi extinta do estado do RJ há mais de duzentos anos

Araras canindé retornam aos céus do Rio após mais de 200 anos extintas na região
Araras canindé retornam aos céus do Rio após mais de 200 anos extintas na região

Diário Do Povo On-line - 23/06/2025 07:59:26 | Foto: Diário do Povo On-Line

A arara canindé é uma espécie nativa amplamente distribuída pela América do Sul, mas foi extinta do estado do Rio de Janeiro há mais de duzentos anos, principalmente por causa da caça e da perda de habitat.

Quatro araras canindé (Ara ararauna) foram reintroduzidas no Parque Nacional da Tijuca, marcando o início de um processo histórico de repovoamento dessa espécie emblemática na cidade do Rio de Janeiro, onde havia desaparecido há mais de dois séculos, informou nesta quarta-feira o Ministério do Meio Ambiente.

A iniciativa faz parte do programa Refauna, apoiado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e diversos parceiros, em uma iniciativa para restaurar ecologicamente a Mata Atlântica, um dos biomas mais biodiversos e degradados do planeta.

As aves - um macho e três fêmeas - passarão por uma fase de aclimatação em um recinto especialmente construído dentro do parque, onde serão gradualmente expostas ao ambiente natural antes de sua soltura definitiva. Esta fase inclui a adaptação aos alimentos nativos, o estímulo ao comportamento de voo e a familiarização com ninhos artificiais projetados para a espécie. O processo foi precedido por avaliações de saúde e comportamento, com atenção especial ao bem-estar animal.

A arara canindé é uma espécie nativa amplamente distribuída pela América do Sul, mas foi extinta do estado do Rio de Janeiro há mais de duzentos anos, principalmente por causa da caça e da perda de habitat. O último registro confirmado de araras em vida livre no município do Rio foi no ano de 1818, de uma captura de Johann Natterer.

A ausência dessas aves significa mais do que o desaparecimento de um animal carismático: significa a interrupção de processos ecológicos essenciais, como a dispersão de sementes de grandes árvores que são fundamentais para a saúde da maior floresta urbana replantada do mundo.

"A Mata Atlântica perdeu muitas de suas espécies ao longo dos séculos. Mesmo onde há floresta, ela frequentemente é silenciosa e vazia. Ao retornar animais como as araras, restauramos funções ecológicas e sons, e ajudamos a natureza a se regenerar", explicou Marcelo Rheingantz, biólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor executivo da Refauna.

O gerente regional Sudeste do ICMBio, Breno Herrera, comemorou a chegada das aves como um marco para a conservação. "Saber que as araras estão retornando é um sinal para o Brasil e para o mundo de que nossas unidades de conservação estão cumprindo seu papel. O Parque Nacional da Tijuca, com sua integridade ecológica consolidada, oferece os recursos necessários para esses animais. Após a reintrodução bem-sucedida de araras, cutias e araras-tinga, agora damos as boas-vindas às araras. Elas são um símbolo de esperança para o retorno de outras espécies que também possam retornar às nossas florestas", afirmou.

Durante o período de aclimatação, as araras serão alimentadas duas vezes ao dia, com observação constante de seu comportamento, interação social, capacidade de voo e condição física. Após a soltura, o que está previsto para ocorrer em cerca de seis meses, os cientistas continuarão fornecendo alimentação suplementar por meio de plataformas suspensas, além de monitorar a saúde e o comportamento dos indivíduos.

As aves chegaram do Refúgio de Aves, localizado no Parque dos Três Pescadores, em Aparecida, São Paulo. Trata-se de um centro de reabilitação de animais silvestres, onde os animais não apresentam comportamentos domesticados. "O trabalho de reabilitação é uma ferramenta poderosa para conservar a biodiversidade e prevenir a extinção não só de espécies, mas também de suas funções ecológicas", explicou Juliana Fernandes, bióloga do programa Refauna.

O Refauna é um programa de restauração ecológica iniciado em 2010. Essa iniciativa responde a um desafio global da conservação: o combate à defaunação - a perda de espécies animais. Segundo estudos, a ausência de fauna compromete a manutenção da floresta e o funcionamento do ecossistema, mesmo em áreas protegidas.

A presença de araras no Rio de Janeiro é documentada desde o século XVI e já fez parte da paisagem natural da Mata Atlântica.

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